Livro: A Vaca na Estrada

035 De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – O terraço dos filósofos

Em primeiro lugar, os papos que rolavam no terraço do hotel, apelidado, “terraço dos filósofos”, eram pelo menos divertidos. Viagem, vida, religião e morte eram, porém, os temas mais cotados. Sei lá porque!
Duas australianas habituées do terraço gostavam muito, aliás, principalmente quando chapadas, de falar de suas vidas passadas.
O que percebi nos papos é que os seres humanos não conseguem aceitar a ideia pura e simples de que, quando morrem, tudo acaba. Reconheço que é pesado demais. Enfim, tudo o que eu vivi e passei não serviu para nada? Vou morrer e o mundo prosseguirá girando sem mim? É preciso, é imperativo, portanto, para o ser humano, que exista algo depois da morte. Muita gente, se não acreditar nisso, talvez pire. Em suma, por isso mesmo surgiram as religiões.

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Um estudo interessante

Algumas religiões oferecem asssim, a possibilidade aos bem comportados de continuar a “viver” em um confortável paraíso. Outras, ainda mais, até de reencarnar e ter outras vidinhas à sua espera.
Há inclusive quem chegue a afirmar que têm “evidências”. Ou que recebeu “sinais” da existência da vida após a morte, como as autralianas. Minha contribuição aos papos foi abordar um estudo interessante sobre pessoas que chegaram a ter morte clínica confirmada. Em suma, foram “ressuscitadas” por meio de choques elétricos ou massagens cardíacas.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada”
– O terraço dos filósofos

O estudo revela, assim, o que muitas delas acham que viram diante de si. OU seja, muitos disseram ter visto uma claridade muito forte. Segundo cientistas, porém, isso seria, antes de mais nada, o resultado da falta de oxigenação do cérebro. Eu, aliás, não suspeitaria dessas afirmações se no mundo inteiro, nas diferentes religiões, todos contassem a mesma coisa.

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Como as religiões foram criadas

Ou seja, hindus disseram ter se deparado com divindades hinduístas; cristãos declararam ter visto Jesus ou o paraíso cristão. Da mesma foram, espíritas acreditaram ter se encontrado com parentes mortos. Ou seja, todos viram o “pós-morte” que imaginavam.
Um livro muito bom sobre o surgimento das religiões é Et les hommes créa les dieux, um estudo sociológico de Pascal Boyer, mostrando em cada canto do mundo como as religiões foram simplesmente inventadas. Deve ter tradução em inglês ou, talvez, em espanhol.

A Reencarnação

Uma tarde no terraço os filósofos resolveram discutir mais a fundo sobre a reencarnação. Dessa forma, o papo se estendeu até a hora de jantar. Bernard e eu nos divertímos com as australainas. Uma delas me garantia, enquanto acendia outro baseado, que, ao fazer uma regressão, descobrira que tinha sido uma princesa egípcia. A amiga dela fora uma sacerdotisa grega.

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Em que lugar da Grécia? — perguntei.
Ela não se lembrava. Explicou que as recordações de suas existências anteriores chegavam, assim, envoltas numa “aura de nebulosidade”…
— Sacerdotiza de qual divindade?
Ela se atrapalhou. Disse que não se lembrava.

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A regressão

Lembro-me, aliás, que no final dos anos 1980 muita gente no Brasil “fazia regressão”. Logo, virou moda. Cada “regressado” tinha lembranças de vidas anteriores como um nobre romano, um rei inca ou um monarca persa. Ninguém, portanto, aparentemente, tinha sido um ladrão, uma prostituta, um servo, um escravo ou um peão. Cheguei a levantar essa questão para as duas australianas. Elas, porém, me explicaram que a ralé não tem lembranças significativas de vidas anteriores. Isso porque essas recordações são “banais”. Em suma, só a elite reencarna… Em Katmandu, todos tinham resposta para tudo…

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Reencarnar como princesa inca?

As receitas da felicidade

Não acho que vou ser mais feliz por ser um asceta! Outros, místicos, mas que me pareciam ter a cabeça no lugar, decidiam que o caminho do autoconhecimento era a ioga, que respeito. Cada qual tem sua receita para a felicidade.
Um suíço da roda tinha, porém, teorias interessantes. Achava que se a Humanidade não tivesse optado por empregar sua energia no desenvolvimento tecnológico, talvez não tivéssemos hoje televisão nem telefone, mas haveria seres humanos telepatas ou capazes de levitar. Será? Acho realmente que há muito ainda a explorar no cérebro humano. Telepatia, quem sabe.

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E a lei da gravidade?

Mas levitar? Como fica a Lei da Gravidade? Já vi grupos ligados a sadhus que tentam levitar.Sentam-se no chão e dão pulos como sapos, acreditando que levitam. Em suma, se fenômenos como esse existissem, cientistas e governos do mundo todo estariam debruçados sobre o assunto. Ou seja, de meu lado, nunca vi nada desse tipo. Assim, até entortadores de garfos mostraram ser meras fraudes. Fiquei um instante calado olhando as estrelas e pensando com meus botões que talvez exista algo mais importante do que levitar ou ser telepata. Ou seja, chegarmos a uma sociedade sem ódio, sem guerra, sem miséria.

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Nós cro-magnons

Já discuti, aliás, a questão com amigos: o homem moderno é melhor como ser humano, é mais decente do que o que habitava este planeta há 500 mil anos? Ou a 20 mil anos? É mais também consciente? Mais avançado do que um neandertal, uma outra espécie humana que chegou a habitar o planeta ao mesmo tempo que a nossa – os Cro-magnons?
Esse é, portanto, para mim, o grande desafio da espécie humana. Ou seja, quando vejo as intermináveis barbaridades cometidas pelo homem em pleno terceiro milênio, me pergunto se alcançaremos, um dia, estágio evolutivo mais elevado. Acho, inclusive, até que nossa espécie, responsável pelo desaparecimento de tantas outras no mundo animal pode muito bem destruir a si mesma e a toda a vida na Terra. Em suma, a humanidade tem hoje armas nucleares para destruir várias vezes nosso planeta.

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As muitas teorias

Uma noite, quando eu olhava com outros mochileiros o céu estrelado de Katmandu, alguém colocou a questão: o universo teria fim em algum lugar? Ninguém chegou a um acordo. Se o universo é finito, termina onde? Se não é, como fica? E quem fez o universo? Ou seja, embarcamos novamente em outro mistério…
Foi Deus. — respondeu um alemão católico.
E quem fez Deus? — perguntou um italiano ateu. (Devia ser o contrário; os italianos é que costumam ser religiosos.)
Ninguém fez Deus! Deus é. — respondeu o alemão.
É a mesma coisa — retrucou o italiano — O universo é.
Nunca chegariam, portanto, a um consenso.

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O mais engraçado dos personagens que encontrei no “Terraço dos Filósofos” foi um mexicano que chegara a Katmandu para passar apenas três dias. Quando lhe perguntaram o que é realmente bom na vida, respondeu: “Money.” Dei risada. Em parte dinheiro ajuda muito. Porém, não é tudo. O mexicano espreguiçou:
Que tal procurarmos um bar ainda aberto e tomar uma cerveja?

O abduzido

Outra figura que encontrávamos vez ou outra no terraço era um americano do Texas que dizia ter sido abduzido por um OVNI. Não me espantei muito. Sabia que ETs gostam mesmo de abduzir norte-americanos do centro-oeste. Nunca, porém, fazem isso com um uruguaio, um islandês ou um marroquino. Enfim, tenho minhas dúvidas. Por que seres inteligentes que habitam um planeta a bilhões de anos luz no universo vão se deslocar até a Terra para abduzir um vaqueiro no Arizona?

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Sobre ETs e OVNIs, as opiniões dividiam-se. Bernard não acreditava em nada daquilo. Eu, francamente, até hoje não sei. Ou seja, acho possível, sim, que haja vida em algum lugar além da Terra, já que existem bilhões de estrelas no universo, incontáveis delas parecidas com nosso Sol. Porém, para acreditar com mais convicção nessa tese, gostaria de ver pelo menos um ETzinho com meus próprios olhos antes de desencarnar…

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Os fenômenos paranormais

Discutíamos muito igualmente os fenômenos considerados paranormais. Sempre tive interesse pelo assunto. Assim, lia muito a respeito. Acho, porém, que não temos informações suficientes sobre eles. O mais provável, aliás, é que acabemos um dia descobrindo causas naturais para um monte de fenômenos sem explicação. Aqueles que hoje alguns consideram como sobrenaturais. Em suma, ainda não conhecemos direito sequer nosso próprio cérebro. Não conseguimos igualmente entender o mistério da vida.

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Dos deuses ao bife com batata

Uma característica, aliás, de nossos filósofos era a facilidade com que passavam do espiritual ao mundano… Assim, quando a fome bateu as dividades se evaporaram rapidamente. Assim, todo mundo passou a falar do que gostariam de comer no jantar. Krishna foi substituído por um filé com fritas. O que a larica faz com as pessoas…
Enfim, em pouco tempo, Bernard e eu ficamos conhecendo os restaurantes e bares mais frequentados pelos estrangeiros que circulavam pelo centro da cidade. Aliás, apesar de gostarmos da cozinha asiática, estávamos cansados de comer os mesmos pratos todos os dias. Ou seja, andávamos a fim de comer comida ocidental, ou que pelo menos lembrasse nossa culinária, como é o caso de pratos como fried rice, por exemplo.

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Fiquei feliz, portanto, por encontrar em Katmandu a mesma freak’s food que havia no Afeganistão. Ou seja, beef de búfalo (já que a vaca é sagrada e o marido, o boi, igualmente…), batatas fritas, milk-shakes, bolos, massas. Enfim, serviam até mesmo pizzas, não boas como as brasileiras, mas “encaráveis”. Também encontrávamos no Nepal chocolates suíços. E, ainda mais, a preço de banana.

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