
Pequena noção sobre o país: Katmandu na História
Nepal na história. O país himalaiano que visitei pela primeira vez naquela viagem ainda era uma monarquia quase absoluta. Seu apogeu ocorreu durante o reinado da dinastia Malla, que assumiu o poder no século XIII. Nessa época, porém, o Nepal se limitava ao Vale de Katmandu, habitado pelo povo newar.
Em 1484, com a morte do soberano Yakshya Malla, o reino foi dividido entre seus filhos. Dessa forma, um herdou Katmandu; outro ficou com Patan; e o terceiro recebeu Bhaktapur.

Belos templos em todo o Vale de Katmandu
Aliás, datam desse período os mais belos templos que visitei no Vale de Katmandu. Era como se cada pequena cidade-estado quisesse rivalizar, assim, com as suas irmãs. Em suma, erguendo edificações cada vez mais imponentes. Embora os reis dessa dinastia fossem hindus, sua tolerância religiosa permitiu a existência de uma minoria budista. A comunidade budista também construiu importantes templos.

O Nepal unificado
O Nepal foi unificado quando os gurkas, originários da cidade de Gorka, no centro do país, tomaram Katmandu. Isso ocorreu na segunda metade do século XVIII. Os gurkas impuseram sua administração e sua língua.
Em 2008, a população do Nepal atingiu 29 milhões de habitantes. Cerca 1,6 milhões de pessoas habitavam o Vale de Katmandu e, metade delas, a capital.

Nepal na História
As etnias nepalesas
Embora no Vale de Katmandu a maior parte da população fale newari, o idioma oficial é, porém, o nepalês (nepali) ou, mais exatamente, a língua dos gurkas (gurkali). Etnias com idioma próprio, como os sherpas e tibetanos, também habitam o Vale de Katmandu e outras regiões do país. Há, portanto, dezenas delas. Quando circulávamos pelas ruas de Katmandu, a língua que ouvíamos em toda parte era o newari. Não vou, porém, fazer ninguém acreditar que sei distinguir o newari do gurkali ou do tibetano. Só sei disso porque sou curioso e perguntei.

Gurkas, newaris e tibetanos
Andando por Katmandu, percebíamos, prestando um pouco atenção, as diferenças entre gurkas, tibetanos e newares pelo tipo físico e pela postura. No Terai, as terras baixas que atravessamos ao ingressar no Nepal, a maioria dos nepaleses tem um tipo físico muito semelhante ao de muitos indianos.
Subindo para o centro do país, onde fica Katmandu, a aparência do povo é outra. Os gurkas, por exemplo, que ocupam os principais postos na administração. Formam também uma espécie de casta guerreira. Assim, são recrutados como mercenários ou mesmo forma um corpo a parte no exécito de outro país. Assim, por exemplo, existem batalhões gurkas incorporados ao exécito britãnico.

Os tibetanos, por seu lado, são budistas, você os reconhece de longe pelas vestimentas típicas com seus tons de vinho. Fisicamente também de diferenciam dos nepales newares. Têm olhos amendoados. São um povo de traços finos, reservado, mas simpático. Há aldeias tibetanas ao lado de katmandu. Muitos são refugiados que tiveram que deixar o Tibet após a invasão chinesa.

Os reis Gurkas
Uma curiosidade sobre os reis gurkas: a partir de 1845 eles tiveram seu poder substituído pelo dos todo-poderosos primeiros-ministros hereditários, os Rana. Estes mantiveram o Nepal isolado do exterior. Só depois da independência da Índia os monarcas Malas recuperaram o poder. Tão autoritários quanto os Rana, permitiam pouca ou nenhuma oposição. Em 1960, impuseram ao país os Panchayates, Conselhos representativos regionais, controlados pelo rei. Ou seja, aproximadamente metade de seus membros eram indicados pelo próprio soberano. Em suma, como nossos nada saudosos deputados “biônicos” da época da ditadura.

A monarquia nepalesa
A monarquia quase absoluta, corrupta e sustentada pela repressão se manteve no poder no Nepal até 1990. Foi quando, em razão de pressões populares, o regime foi obrigado a aceitar um sistema constitucional multipartidário. A democracia parlamentar, entretanto, não mudou substancialmente a estrutura corrupta da administração. Ainda mais, o descontentamento da população colaborou para o fortalecimento do partido comunista maoísta, que deu início a uma guerrilha.

Sem conseguir alcançar o poder, os maoístas mantiveram o regime em cheque permanente e prejudicaram a atividade econômica, principalmente o turismo. Mais de 10 mil pessoas morreram nos confrontos entre as tropas do governo e a guerrilha. Estrangeiros que faziam trekking em regiões de montanha, abordados pela guerrilha, foram “convidados” a contribuir. Tendo sua generosidade influenciada pelo medo, depois de “ajudarem a causa”, eram normalmente deixados em paz.
O inesperado golpe final da monarquia nepalesa
O golpe que levaria ao fim do regime não foi, porém, aplicado pela guerrilha. A desacreditada monarquia nepalesa desabou posteriormente em consequência de uma crise no seio da própria família real. E, ainda mais, um episódio nebuloso. Assim, um dos filhos do rei Birendra, o principe Diprendra, teria assassinado toda sua família. O motivo do crime: sua mãe o impedia de se casar com a moça que amava. O crime teria ocorrido dentro do Palácio Real. Depois de matar seus familiares o príncipe Diprenda se suicidou. Enfim, é uma das versões… Quando eu estava em Katmandu escutei igualmente boatos de que ele teria sido “suicidado”.

Gyanendra, o irmão do rei, não agradou
Depois de um período confuso, Gyanendra, o irmão do rei, assumiu o trono. Detestado pela maioria da população, foi derrubado, a república proclamada e os maoístas assumiram o governo, numa coalizão com diversos partidos. Posteriormente os maoístaa foram igualmente afastados por uma aliança liderada por comunistas moderados, não maoístas, mas sobre os quais pesavam acusações de corrupção.

A disputa de facções
Novos momentos de tensão ocorreram posteriormente depois entre as facções que dividiam o poder, entre elas os militares. Interessante uma entrevista com um líder maoísta nepalês que tive a oportunidade de ler. Ao que parece, embora digam ser maoístas, não passa pela cabeça dos comunistas nepaleses a coletivização da economia no modelo da China de Mao. (Nota atualizada do autor: O mais provável é que, mesmo se proclamando comunistas, queiram, como a China atual, conservar o regime de mercado). Devem, enfim, ter caído na real: o Nepal é um país pobre, onde o turismo tem uma enorme importância econômica.

Não compensa, camarada
Ou seja, radicalismo e tensão social afugentam os turistas. Não compensa, camarada. Por outro lado, imagino que os maoístas imporiam ao país um regime semelhante ao de Pequim. Um suma, uma ditadura de partido único, onde até a Internet é policiada. Mas, em razão do turismo, acredito eu, seria provavelmente mais light. E assumiriam igualmente uma economia de mercado semelhante à chinesa.
Nepal espremido entre a Índia e a China
Os nepaleses, que desconfiam de chineses e indianos, são obrigados, entretanto, a reconhecer que, graça aos primeiros, os indianos não anexaram o Nepal, como fizeram com outros pequenos reinos himalaianos. Da mesma forma, graças à Índia, os chineses não se atrevem a tomar o país, como fizeram com o Tibete. Assim como o Sikin, um reino independente, que foi anexado pela Índia. Certa vez comentei com um nepalês que Índia e China eram como dois tubarões impedindo um ao outro de devorar a sardinha.

É duro ser sardinha
— É verdade — reconheceu — Mas, é duro ser a sardinha.
Por outro lado, porém, o Nepal virou um estado tampão entre os dois gigantes que, se pudesse, ocupariam o país himalaiano. Aliás, quando estávamos no Nepal, percebíamos a visível a influência indiana e a chinesa. Ou seja, quase tudo o que existe no Nepal em matéria de mercadoria vem, seja da Índia, seja da China. Roupas, cerveja, todo tipo de manufatura, eletrodomésticos, produtos de alimentação, carros, maquinarias, etc. Há raras indústrias no Nepal. É um país agrícola que cultiva a própria comida e vive principalmente do turismo.
Sigam o relato:
Sigam esta aventura de carro pelas estradas da Ásia. atravesse o Oriente mágico e éxotico que encantou milhares de jovens europeus. Uma experiência vivida pelo autor do livro “A Vaca na Estrada” por países como Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão, Índia, Nepal.
Veja a continuação desta postagem: Os confrades mochileiros

Explicação necessária:
Outras viagens pela Índia, lugares e experiências

Nosso destino nessa viagem de carro, espinha dorsal do livro “A Vaca na Estrada” de Paris ao Nepal, seria Katmandu. Da Europa passaríamos pela Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão e Índia. Antes, porém, de seguir para o Nepal fomos visitando outros lugares na Índia. Aliás, como estive diversas vezes no país, o livro “A Vaca na Estrada”, inclui igualmente algumas experiências vividas em outras viagens pelo subcontinente indiano.
Mumbay – Goa – Os marajás – o controle da natalidade – A arte na Índia – Rajastão 1 – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 2 – Casamento à indiana – Viagem de trem na Índia – As castas – A colonização inglesa– Gandhi – Costumes, cultura – De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Shiva e Jesus
