Livro: A Vaca na Estrada

041 De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – De bicicleta pelos arrozais

De bicicleta pelo Vale de katmandu e seus arrozais

De bicicleta pelos arrozais. Em geral Kim e eu fazíamos passeios de bicicleta por trilhas que cortavam os arrozais. Ou seja, mais pelo fundo do vale do que encarando subidas.
Uma descoberta filosófica importante que eu trouxe do Oriente foi que odeio carregar peso. Assim, sempre viajo com um mínimo de coisas. Outra revelação profunda foi: subir morro cansa. Só o fazíamos, portanto, excepcionalmente, quando estávamos à procura de “vistas incríveis”.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – De bicicleta pelos arrozais

No alto das montanhas

As vezes, porém, abandonávamos as bicicletas junto de alguma vendinha e tomávamos, a pé, uma ladeira até o alto. Lá chegando, parando vez ou outra para descansar, curtíamos as paisagem. Não ficavamos, portanto, descendo e subindo a montanha o tempo todo. Assim, chegando ao topo ficávamos por lá, seguindo por trilhas elevadas, algumas delas junto a precipícios, no alto das montanhas. Em suma, só descíamos para o vale quando era chegada a hora de regressar a Katmandu,
Outras vezes ,igualmente, visitávamos cidades do vale, como Bhaktapur, por exemplo a uma hora de Katmandu.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – De bicicleta pelos arrozais – Bhaktapur

As vantagens da bicicleta

Algumas vezes, porém, preferíamos, porém, o vale, onde passávamos por aldeias humildes, rodeadas de plantações. Vez ou outra, aliás, parávamos para tomar chá. Era vendido em vendinhas precariamente instaladas em cabanas de terracota e palha. Ali, sentados em bancos de madeira, observávamos, assim, o trabalho dos camponeses nos campos. E, ainda mais, evitávamos despencar de um abismo…

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Um combustível diferente

As mulheres teciam, batiam o arroz ou punham placas de esterco de vaca para secar contra as paredes, para servir de combustível no inverno. Num primeiro momento nos perguntamos sobre que cheiro teria aquele estrume queimado. Curiosamente, porém, depois de seco, quando era queimado, não tinha odor forte, nem desagradável.
Algumas crianças, que nos olhavam curiosas, tinham os olhos pintados com kajal, como proteção da poeira, tornando-se, assim, tremendamente estranhas, como marcianinhos.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – De bicicleta pelos arrozais

Entre os arrozais do vale

Nesses passeios por Swayambhunath e seus arredores minha amiga neo-zelandesa levava papel e lápis de cera e pintava. Seus rascunhos, pelo menos, eram muito bons. Eu aproveitava igualmente para escrever, tomando chá numa caneca velha de alumínio.
Esse país era fantástico, um canto da Terra onde as pessoas pareciam viver como há muitos anos atrás, um lugar preservado, rústico. Em suma, um horizonte perdido.

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De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – De bicicleta pelos arrozais

O vale é largo, com pequenas elevações atrás das quais havia aldeias, gente, arrozais, caminhos. Algumas das casinhas de dois e três andares eram belas, às vezes com detalhes esculpidos em madeira. Infelizmente, entretanto, quase sempre caindo aos pedaços. Ou seja, parecia que construíam algo gracioso e nunca mais conservavam, até o imóvel desabar.

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De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – De bicicleta pelos arrozais

Plantações em terraço

Os métodos agrícolas eram igualmente os mais primitivos, sem nenhuma mecanização. Nas planícies baixas do Terai, o búfalo, pelo menos, é utilizado. As terras altas com plantações em terraço, alguns deles bem estreitos, só permitem, porém, o trabalho braçal humano. Além do Nepal já ter uma agricultura um tanto primitiva, é quase impossível mecanizar plantações em terraço.

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Nepal e Peru

Uma coisa interessante que notei em minhas viagens pelo Nepal e pelo Peru foi que as plantações em terraço em ambos os países são muito parecidas. Estranhamente, até as paisagens e as pessoas se parecem. Comparei, aliás, uma vez dois cartões postais, um com a foto de um índio peruano e outra com a de um tibetano das altas montanhas. Que semelhança!

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Plantações em terraços no Peru, semelhantes aos nepaleses

O mundo asiático em tranformação

A questão que eu me colocava era: será que a Índia e o Nepal vão mudar? A Índia, tenho certeza que sim. Aliás, já mudou em muita coisa e ainda está mudando. Acho, portanto, que irão solucionar seus problemas. O Nepal pode, porém, demorar mais. Ou seja, isso vai depender principalmente do bom senso de seus dirigentes e de encontrar o caminho. Acredito que a Ásia, em geral, pode mudar para melhor. O que não sei, entretanto, é se a África, por exemplo, com multidões famélicas e doentes, com tribos que se odeiam e se massacram, conseguirá algum resultado tão cedo.

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O mundo em perpétua mudança

Naquela época passei, assim, por lugares onde não existia sequer luz elétrica e que continuam nessa situação ainda hoje. Pensando bem, desde os primórdios da História até meados do século XIX o homem necessitava do cavalo ou outro animal para transportar qualquer coisa. Da mesma forma, necessitava do fogo para iluminar e cozinhar. De repente começou a aceleração. As mudanças passam a acontecer cada vez mais rápido. Eletricidade, motor a explosão, telégrafo, rádio, telefone, televisão, computador, Internet. Verdadeiras revoluções na vida do ser humano.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – De bicicleta pelos arrozais

Esta última, a Internet, aliás, foi a grande revolução do fim do século XX. Em suma, tão importante, aliás, quanto a Revolução Industrial do século passado. Isso no meio urbano principalmente. Afinal, soube que alguns moradores de aldeias nas encostas do Himalaia nunca estiveram em Katmandu. Nunca viram uma TV ou um automóvel. Vivem no alto de suas montanhas como no século V a. C.

Outono

O outono avançava. Principalmente depois que o sol se punha, as temperaturas eram sensivelmente mais frescas. Os altos picos nevados da cordilheira tornavam-se mais brancos. Os dias, mais curtos, eram, portanto, mais frios. As folhas das árvores nas montanhas próximas tornavam-se amareladas. Prestes assim, a assumir os tons avermelhados das encostas himalaianas outonais.

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