Chegando ao Nepal: a caminho de Katmandu
De Benares (ou Varanasi…) seguimos para Patna e de lá até a fronteira nepalesa, cortando por um trecho de planícies cobertas por arrozais. Sem, entretanto, nenhuma beleza especial. Do lado indiano nos pararam e revistaram o carro, porém, muito displicentemente. Estávamos chegando ao Nepal.
Abaixo: Mapa do Nepal
É, aliás quando se sai do Nepal é que as bagagens são vasculhadas a fundo, principalmente do lado indiano. Em suma, quase sempre procuram drogas. Assim, a alfândega nepalesa, sem nada para procurar em nossa bagagem foi ainda bem mais veloz do que a indiana. Ainda mais, demos sorte. Assim, além de nós só havia um casal holandês, também de carro naquele posto.
Alfândega
Entreguei ao funcionário do serviço de imigração meu passaporte aberto na página com o visto obtido em Nova Delhi. O nepalês examinou por alto meu visto, olhou minha foto.
— Brazil? Pelé! — disse, como diriam anos depois ao cruzarem com brasileiros: “Brazil? Ronaldo, Ronaldinho!”
— Sou irmão do Pelé — brinquei.
O nepalês ficou em dúvida um instante, depois deu risada:
— Não, Pelé é negro!
O que descobri é que, para minha total supresa sabiam muito sobre o futebol brasileiro. Talvez mais do que eu, que não sou muito ligado no assunto. Um deles tinha, aliás, uma foto usando a camisa da seleção brasileira! (Nota contemporânea do autor: Que na época não era usada por nenhum retardado em manifestações!)
Do Terai aos contrafortes do Himalaia
No Terai, a região de terras baixas próxima à Índia, avançamos com relativa rapidez. Essa região não tem, porém, muito interesse. As cidadezinhas que passávamos não tinham, aliás, nenhuma graça, mesmo que rolássemos com mais facilidade.
A epopeia foi subir da planície até Katmandu, que fica a 1.500m de altitude. Ou seja, enfrentando uma estrada estreita e cheia de caminhões e ônibus quase sempre caindo aos pedaços. Em suma, um percurso que nos lembrou a viagem do Pendjab para a Caxemira.
Mudança de clima e paisagem
A paisagem e o clima foram igualmente mudando à medida que avançávamos rumo a Katmandu. A vegetação tornou-se, assim, menos exuberante. O calor igualmente diminuiu, campos de arroz apareceram em forma de terraços. E, ufa! – as chuvas finalmente nos deixaram em paz.
Enfim, pela primeira vez desde o Deserto de Band-I-Amir tiramos, assim, nossos blusões do fundo das mochilas. Fazia um pouco de frio. Estávamos, aliás, cansados do calor das planícies indianas.
Paramos para dormir numa precária – e põe precária nisso! – hospedaria de montanha próxima da estrada. Por sorte, porém, serviam comida. Assim, à noite tivemos algo para comer. Enfim, uma refeição simples, apenas arroz, ovos e dal, uma espécie de sopa rala de lentilhas ao curry. Esse é, talvez o prato mais comum no Nepal, muito consumido, aliás, no dia a dia.
Noite estrelada, dia azul
Em compensação, porém, ao sair para o pequeno jardim do albergue, fomos contemplados com uma das mais belas noites de toda nossa viagem, com milhões de estrelas brilhando no ar muito puro. No dia seguinte, depois de um chá com bolachas, o único desjejum que serviam, continuamos nossa viagem. Por sorte fazia um dia azul. Ou seja, um sinal de que, pelo menos no Nepal, as monções estavam, como se comentava, dando folga.
A primeira estrada do Nepal com o resto do mundo
A estrada que percorríamos, construída em 1955, abriu as porta do Nepal ao mundo. Ou seja, antes, só era possível chegar a Katmandu, a capital, por estreitas trilhas de montanha. Quase sempre, aliás, em lombo de mula ou em liteiras transportadas por sherpas, uma etnia himalaiana. Dessa forma, os poucos carros que havia em Katmandu antes da construção dessa estrada foram carregados até lá!
Por isso mesmo, muito mais do que qualquer outro país que visitei, o Nepal, isolado de contatos com estrangeiros, manteve-se culturalmente intacto. Em suma, autêntico com seus costumes e tradições. Antes da abertura dessa estrada poucos turístas chegavam ao Nepal.
No final da tarde, finalmente, alcançamos Katmandu.
Katmandu
Se ainda hoje o Nepal surpreende os estrangeiros, imagine o que foi para nós chegar ao país menos de três décadas depois que o primeiro acesso terrestre a Katmandu foi aberto.
Os subúrbios feios e pobres, nos causaram, má impressão. Essa impressão inicial foi, porém desaparecendo quando alcançamos o Ratna Park, um gigantesco jardim reservado às celebrações oficiais, religiosas e festivais.
Assim, após atravessar o enorme arco colorido e enfeitado com esculturas de Ganesh, chegamos finalmente ao “centro”, cortado por uma avenida larga, cheia de lojas, a New Road.
Havia por ali Kombis e automóveis de diversos países da Europa. Deparamos igualmente com um Magic Bus que acabara de chegar de Londres. Vimos, inclusive várias motocicletas com placas europeias.
A Freak’s Street
O Renault com chapa de Paris não despertou, entretanto, em Katmandu, o mesmo interesse que nas aldeias da Índia e do Paquistão. Estacionamos o carro numa travessa e saímos procurando a Freak’s Street, a “rua dos malucos”. Ou seja, onde ficavam hotéis e restaurantes frequentados na época por mochileiros e hippies. Aliás, só mesmo em Katmandu uma rua seria conhecida por um nome desses. Sua denominação oficial era, enfim, quase um mistério, já que placas de rua praticamente não existiam no Nepal.
Porém, não importava; paramos o primeiro cabeludo com quem cruzamos na New Road, e perguntamos. Ele nos examinou rapidamente com indiferença:
— A segunda ali…
Na esquina da rua cheiramos o ar como perdigueiros. Aquela ruazinha de ar decadente era, então, a célebre Freak’s Street. Em suma, ouvimos falar dela desde Istambul. A Freak’s Street, com seus prédios baixos, feiosos e mal-conservados, lojas de roupas e penduricalhos, estrangeiros cabeludos, era um carnaval onde valiam todas as fantasias… Bernard e eu entreolhamo-nos e sorrimos com certo orgulho pelo sucesso de nosso rally Paris-Katmandu. Ou seja, tínhamos chegado!
O hotel do quarto que não existia
Tínhamos trazido conosco de Paris um exemplar de um guia de viagem francês sobre o Nepal. Bem famoso hoje, ele é direcionado a mochileiros e a turistas mais informais. Em geral seguíamos as indicações do livrinho. Assim, outra vez ficamos em um dos hotéis indicados por ele. Nesse caso, tratava-se, aliás, um hotel baratíssimo, até para os padrões mochileiros. Em suma, queríamos sempre quartos com banheiros limpos, em um hotelzinho bem situado, e mais nada. E pagar pouco!
O engraçado, porém, foi, na recepção. Quando pedimos o quarto 23, com “bela vista do Himalaia”, segundo o guia. o recepcionista caiu na risada. Disse que todo mundo que falava francês o solicitava, mas o tal quarto não existia. Ou seja, esse guia é excelente quando se trata de destinos europeus, Mas, é meio falho, entretanto, quando aborda países da Ásia e da América do Sul.
O prédio tinha cinco andares — mas não elevador, é claro, um luxo no Nepal. No térreo, junto com a recepção, funcionava igualmente um restaurante.
Em Katmandu cada um seu quarto
Os quartos eram muito baratos e pretendíamos passar algum tempo em Katmandu. Dessa forma, resolvemos, portanto, desta vez, ficar em quartos separados, cada um com uma cama de casal. Ou seja, assim garantíamos privacidade a ambos para o caso de um de nós, ou os dois, arrumar companhia feminina. Sabíamos que em Katmandu todos ficavam mais tempo, faziam amizades. Em resumo, sabe-se lá…
Por sorte, os dois únicos aposentos com banheiros privativos do hoteleco estavam livres e pudemos, assim, garanti-los para nós. Ajeitei minha mochila num canto do meu aposento, onde havia apenas a cama, uma mesa, uma cadeira, uma prateleira para as roupas. O dormitório de Bernard era igualmente simples. O importante, porém, é que eram razoavelmente limpos.
Ambos os aposentos tinham um terraço comum separado por dois grandes vasos de plantas. Assim, esse terracinho com um metro de largura tornou-se, dessa forma, nossa via privada de comunicação depois que afastamos os vasos. Fechávamos, portanto, as portas dos dormitórios e passávamos por ali. Combinamos igualmente de colocar uma plaquinha (“Não incomode”) no caso de estarmos acompanhados…
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