Livro: A Vaca na Estrada

026 De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Agra

A cidade do Taj Mahal

Agra, a menos de 200 km leste da capital, Nova Delhi, pode ser facilmente visitável, de trem ou de ônibus. Aliás, numerosas excursões, partem da capital para Agra diariamente. Ou seja, é um dos destinos turísticos mais procurados da Índia. Explica-se: é em Agra que fica a mais importante atração do turismo indiano, o badaladíssimo Taj-Mahal.
Abaixo: Mapa da região de Agra

O Taj Mahal

Na antiga capital do Império Mogol, fundada pelo sultão Akbar, fica o Taj Mahal. É um ícone da Índia: Ou seja, você pensa na palavra “Índia” e a imagem do Taj Mahal surge na sua mente, assim, como por mágica.
Eu dissera a mim mesmo que ir à Índia e não ver o Taj Mahal não valia a pena. Aliás, todo mundo que vai à Índia diz o mesmo…

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Agra

Já conheço…

Achava que iria me emocionar, mas isso não aconteceu, mesmo quando o avistei pela primeira vez. Afinal, já vira o famoso monumento por fora e por dentro. Em suma, eu o vi em tantas fotos, filmes, pôsteres e folhetos de agências de viagem que tive a impressão de já conhecê-lo. Não me surpreendi, portanto. Enfim, não dá para negar: o Taj Mahal é de fato espetacular.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Agra

Quando fui a Agra pela primeira vez, com Bernard, era domingo. Ou seja, dia em o Taj está lotado de turistas. Não apenas os habituais visitantes estrangeiros. Nos finais de semana gente de todo canto da Índia aproveita igualmente para visitar o Taj Mahal. Assim, já naquela época, havia fila para entrar. Mendigos e vendedores eram também numerosos e cercavam os visitantes.
Apesar do calorão medonho que fazia, o céu estava encoberto.
Em suma, eu não esperava deparar com tantos visitantes e filas. Para visitar o interior do Taj Mahal tive igualmente que tirar os sapatos, o que me incomodou. Não apenas fato de tirá-los. Mas de centenas de pessoas fazerem o mesmo. Num dia de calor, com os pés transpirados. Quem já esteve lá sabe, aliás, do que estou falando.

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Uma boa tática

Um amigo meu, sabendo que teria que tirar os sapatos para entrar em templos na Índia, inteligentemente levou consigo diversos pares de meias velhas. Ou seja, usava um par todo furado e imediatamente o descartava depois da visita. Enfim, sabe-se lá que divinas micoses podem-se pegar nesses pisos sagrados!
Mahal significa “palácio”. Mas o Taj Mahal é na realidade um gigantesco mausoléu. Foi construído pelo imperador mogol Shah Jahan para abrigar o túmulo de Aryumand Banu Begam, sua esposa. Não a única, mas a preferida; havia outras… Apelidada Mumtaz Mahal – “a joia do palácio” –, sua amada morreu no parto do décimo-quarto filho do casal.

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O Taj Mahal ao sol nascente

Fiquei um pouco decepcionado com essa visita no domingo. Dessa forma, propus a Bernard que voltássemos novamente na segunda-feira. Mas bem cedo, ao amanhecer. Achei que seria perfeito para obter boas fotos. Ele franziu a testa ao escutar a palavra amanhecer. Depois acabou concordando. Afinal, também curtia fotografar. Dessa forma,no dia seguinte, antes mesmo do dia raiar, estávamos de pé. Tomamos apenas um chá preparado numa cafeteira elétrica no quarto, engolimos uns biscoitos e partimos para o Taj.
O sol estava nascendo quando encostamos o carro nas proximidades do monumento envolto em uma névoa matinal. A visão foi outra, quase mágica.

Vinte mil trabalhadores para construir o Taj Mahal

Mais de 20 mil trabalhadores foram empregados na construção do Taj Mahal. Pedreiros, mestres, arquitetos e escultores. Em resumo: toda uma equipe!
O Taj Mahal foi erguido junto ao rio Yamuna entre 1630 e 1642. Na sua construção foi utilizado mármore branco, com incrustações de pedras semipreciosas. Trata-se de um conjunto. No edifício principal está o túmulo de Mumtaz Mahal e igualmente duas mesquitas ao lado de quatro minaretes. Como resultado, gastou-se uma fortuna na construção. Posteriormente, Shah Jahan, bastante enfermo, aliás, manifestou o desejo de fazer para si um monumento semelhante. Seria em mármore negro, do outro lado do rio. Seus filhos, porém, acharam que ele enlouquecera. Assim, o depuseram, encerrando-o em uma torre no forte de Agra. Ou seja, seus filhos achavam que o reino tinha outras necessidades. Diz a lenda que, de sua janela, o velho imperador olhava o monumento e suspirava de saudades da esposa. Quando morreu, em 1666, foi enterrado junto a Mumtaz Mahal.

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Lal Qila ou Forte de Agra

Outra construção importante de Agra é o Lal Qila ou Forte de Agra. A fortaleza é igualmente conhecida como Red Fort, por ser construída com pedras vermelhas. Ou seja, assim como o Red Fort de Velha Delhi. Ambas as fortalezas são em estilo mogol.
Situado a 2,5 km do Taj Mahal, uns cinco minutos de carro, o Forte de Agra, foi construído entre 1565 e 1573. Essa magnífica fortaleza protegida com grossas muralhas é a maior do país. Ou sejam supera inclusive o Red Fort da Velha Delhi.

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Como seria Agra na sua época de glória?

Um dos hábitos que adquiri em minhas viagens foi o de pensar como seriam, em seu apogeu, os lugares históricos que visito. Imaginei, assim o fausto do local, que sediou um dos grandes impérios da História. Como seria durante seu período de esplendor, com nobres, conselheiros reais e soldados circulando pela corte? Ou, igualmente o harém com as concubinas reais, vigiadas por eunucos?
O Lal Qila serviu ao mesmo tempo como fortaleza e residência dos imperadores mogóis. Posteriormente abrigou, igualmente, guarnições inglesas durante a revolta dos sipaios. Agra, era, aliás, no apogeu do império mogol uma cidade de importância estratégica. Ainda mais, soube manter esse status estratégico durante o império britânico das Índias.

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Toparíamos com odaliscas dançando?

Qual não teria sido no seu apogeu a infraestrutura para acomodar e alimentar todo mundo? Afinal, o Taj Mahal sozinho era praticamente uma cidade. Abrigava, portanto, nas proximidades, milhares de servidores, desde jardineiros a eunucos do harém imperial. Assim, eu olhava para as muralhas, imaginando sentinelas a postos; percorria os jardins e aposentos perguntando-me se a qualquer momento não toparia com serviçais usando turbantes ou com odaliscas dançando na minha frente…

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A presença islâmica

O Taj Mahal e o Lal Qila são magníficos exemplos da arquitetura muçulmana na Índia. A presença islâmica teve dois aspectos. De um lado, as invasões com seu fanatismo religioso, foram bastante nocivas. Em suma, resultaram assim na destruição de templos hindus, na perseguição a todo tipo de arte que não fosse muçulmana. Dessa forma, praticamente aniquilaram também o budismo no subcontinente.

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Valores novos

De outro, os mogóis trouxeram valores novos e uma contribuição artística importante em todos os setores, sobretudo na arquitetura e na pintura. Ocorreu, portanto, uma fusão cultural, a ponto de se poder falar de uma arte indo-muçulmana. A arquitetura da Índia viveu seu apogeu em cidades como Agra, Delhi e Lahore, com a construção de mesquitas, monumentos funerários, fortes e palácios.

Os ateliers de Agra

Após a visita ao forte e ao Taj Mahal, a coisa mais interessante que fizemos em Agra foi visitar seus ateliês. É onde são produzidas peças de mármore incrustado com pedras coloridas.
A tradição da escultura mogol sobre mármore parece ter sido preservada. Assim, alguns trabalhos são verdadeiras obras de arte. A tradição artística e a quantidade de turistas que visitam Agra fizeram da cidade um centro joalheiro.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Agra

As pedras “preciosas”

As joias de ouro e prata de Agra são lindas. Mas, muitas das pedras “preciosas” incrustadas, são falsas. Da mesma forma que aquelas vendidas a granel e oferecidas aos turistas. Afinal, raros são os estrangeiros capazes de diferenciar um rubi de um simples pedaço de vidro vermelho. Mesmo eu, que já estive várias vezes na Índia e outros países do Oriente não sei reconhecer uma pedra preciosa…

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De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Agra

O golpe em cima dos turistas

Na época em que estive em Agra pela primeira vez, estelionatários aplicavam golpes em turistas. Tentavam convencê-los que, comprando essas pedras, poderiam revendê-las com enormes lucros na Europa. O fato é que muitos turistas acabavam caindo nesses contos, achando que sua viagem à Índia sairia de graça… Porém, se fosse verdade, por que o comerciante, ele mesmo, não o fazia, se o negócio era tão vantajoso?

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Os espertalhões e seus papos

Os espertalhões tinham explicação para tudo. Dessa forma, falavam que suas cotas de exportação já tinham sido atingidas e outros papos do gênero. Muitos deles tinham até mesmo cartas convincentes, com depoimentos, escritas em alemão, francês, inglês e italiano. Nelas supostos clientes, agradeciam as dicas fornecidas. Alguns desses malandros chegavam ao ponto de fornecer endereços, sempre falsos, de receptadores. Papos sobre esses golpes corriam entre os viajantes no café da manhã em nosso hoteleco.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Agra

As lindas, mas pesadas peças de mármore

Vi igualmente em Agra esculturas em mármore. As peças eram belas em sua maioria. O único problema, para mim, era carregá-las durante o resto da viagem. Afinal, além de serem pesadas, podiam se quebrar. Poderia despacha-las pelo correio. Mas, sei lá quando um dia eu estaria em casa de novo. Talvez eu nem estivesse no Brasil quando dentro de uns meses chegasse um aviso do correio para ir retirar a mercadoria. Dessa forma, não comprei nada. Mas Bernard, sim. Resolveu ir pessoalmente ao correio e despachá-las para Paris.

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A burocracia indiana

Na agência fomos primeiro na fila em frente ao guichê Enquiries. Uns minutos depois um funcionário indicou onde pesar a caixa na qual meu amigo acomodara suas compras. Para isso enfrentamos mais uma fila. Depois de um tempo fomos atendidos. A caixa de papelão foi pesada e um outro funcionário nos indicou uma 3a fila, para comprar selos. Compramos. Levamos a caixa, o papel onde estava anotado seu peso e os selos ao quarto guichê. Depois de novamente esperarmos numa fila, tivemos que preencher uma série de documentos. Isso feito, nos indicaram outro guichê. “Para que mais?”, perguntou Bernard, já desanimado. “Para carimbar a documentação”. Ele suspirou e lembrou que, se estivesse na França, tudo isso seria feito por um único funcionário.

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A epopéia dos correios na Índia

Na Índia que estávamos conhecendo, a burocracia era uma forma de dar emprego ao máximo de gente. Mas, pagando provavelmente o mínimo. É a velha piada. O governo finge que paga e os funcionários fingem que trabalham. O que nos incomodou não foi apenas enfrentarmos filas. Mas também o irritante costume de quem está atrás praticamente se colar na pessoa da frente, empurrando-a. Se você facilitar, passam na sua frente.

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