Livro: A Vaca na Estrada

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 1

Rajastão, a mais fascinante região da Índia

Em diferentes viagens que fiz pela Índia visitei quase todo o Estado do Rajastão, encostado ao Paquistão. Para mim a mais fascinante região do país. Enfim, muita gente diz que o Rajastão é excessivamente turístico. Concordo. Acontece, porém, que, em todo o mundo, os locais que têm mais a oferecer são os que mais atraem visitantes. É óbvio!
Abaixo: Mapa do Rajastão, índia

As pérolas do Rajastão, na Índia

O Rajastão abriga cidades como Jaipur, a Cidade Rosa, capital do Estado, Jodphur e Udaipur. Esta, toda branca, é considerado por muitos como a mais bela cidade da Índia. Udaipur é centrada em torno de uma belo lago rodeado de palácios da antiga nobreza local. Enfim, ligeiramente mais fora de mão, temos igualmente, a medieval e imperdível Jaisalmer. Todas essas cidades foram durante o domínio britânico sedes de importantes marajanatos.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 1

Rajastão, uma das regiões de maior interesse na Índia

Na primeira de minhas viagens pelo Rajastão, desembarquei em Mumbai, vindo da França com uma namorada. No aeroporto fizemos amizade com um casal parisiense com quem acabamos viajando pelo Rajastão. Depois corremos juntos várias regiões da Índia e posteriormente o Nepal.
Assim, fomos de trem de Mumbai até Delhi, uma viagem que nunca esqueceremos, atravessando o Rajastão. Sem pressa, paramos, portanto, nas principais cidades, para visitar Udaipur, Jaisalmer e Jaipur, Jodphur, Ajmer.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 1: Jaisalmer

A vantagem de se alugar carro na Índia

Em outras duas viagens pelo Rajastão, optei, por alugar carro com motorista, o que na Índia é, aliás, muito barato. Pude, dessa forma, com muito mais conforto, visitar tudo o que quis. Escolho, sempre o Ambassador, um antigo modelo inglês a diesel, fabricado até hoje. O ambassador é confortável e oferece igualmente um bom espaço para as pernas no banco de trás.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 1

Para dirigir na Índia o melhor é nascer por lá. Enfim, as estradas no interior são igualmente muito mal sinalizadas. É também muito fácil se perder nas estradinhas secundárias em cruzamentos nesse deserto. Muitas das estradas principais são asfaltadas. Elas podem, às vezes, ser estreitas, esburacadas, cheias de caminhões, charretes, carros de boi, camelos, ciclistas e vacas sagradas.

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De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 1

Guiando um carro indiano

Fora dos grandes centros, é igualmente mais difícil pedir informações, já que pouca gente fala inglês. O melhor, portanto, é alugar o veículo com um motorista. Afinal, um motorista nativo conhece as estradas e entende a língua falada pelo povo da região. Dessa forma, pelo menos, você não se perde no meio do deserto de Thar, o que pode ser perigoso.
Numa das vezes em que aluguel carro pedi inclusive para guiar o velho e famoso embaixador por uns dez quilômetros. Normalmente não poderia fazê-lo. O motorista, entretanto, pensando no baxixe que receberia deixou-me fazê-lo… Só foi muito estranho, porém, guiar do lado direito e, ainda mais, ter que trocar marchas com a mão esquerda.

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Os riscos da estrada

Alugar carro é uma solução confortável e não muito cara, mas as estradas indianas são perigosas. Aliás, em uma das minhas viagens pelo norte da Índia observei vários acidentes em apenas três dias. Eram caminhões caídos em barrancos, ônibus tombados, carros destruídos. Ou seja, como em algumas estradas de menor movimento só cabe um carro na pista. Assim, os motoristas parecem competir para ver quem desvia em primeiro lugar para o acostamento.

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De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 1
Estradas vazias, só no meio do deserto de Thar

Nesse jogo, o veículo menor costuma sair da frente – mas apenas no último momento. Quase todos os motoristas que contratei participavam assim dessa competição, e por mais de uma vez, encolhi-me no banco de trás pensando: “Desta vez, vai bater!” Realmente, houve momentos em que dei adeus à vida.

“I’m not a silly tourist”

Só tive problemas uma vez, com um jovem motorista. Já notara, aliás, que, desde o começo da viagem, ele tentava me levar para hotéis onde, eu tinha certeza, ele receberia um bashish do gerente. Eu já estava, portanto, cheio daquilo. Quando cheguei a Jaipur e disse que queria ir para o hotel de meu amigo Ganga, o cara-de- pau me disse que estava fechado. Em suma, que me levaria a outro muito melhor. O sangue me subiu à cabeça. Eu havia, porém, falado pelo telefone com Ganga no dia anterior!

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Papo sério

Pus a mão em seu ombro: “Pare o carro!” Ele obedeceu, surpreso. Eu desci do banco de trás, onde estava com minha namorada, sentei-me ao seu lado. Olhei bem para ele:
Você está achando que eu sou um turista bobo? Conheço a Índia melhor do que você — exagerei.
Disse-lhe que ou me levaria no hotel que falei ou iríamos para a Secretaria de Turismo, porque eu iria reclamar dele. O rapaz olhou-me assombrado. Estava acostumado com gringos, porém nunca tinha visto um brasileiro na sua frente. Pelo menos, não um tão zangado. Sabe-se lá do que somos capazes…
No dia seguinte, ele veio se explicar. Disse que ganhava pouco, que sem bashish mal conseguiria sobreviver. Ou seja, acabei ficando com pena dele e ainda lhe dei uma gorjeta no fim da viagem.

Vivendo e aprendendo

Aprendi, portanto, que, em uma situação como essa, e lhe perguntam se acaba de chegar à Índia, o melhor é responder que já conhece o país. Em suma, se acharem que estão lidando com um turista desinformado, eles vão deitar e rolar. Se você for à Índia, não prepare um roteiro extenso se seu tempo se sua estadia no país for curta. Por exemplo, junto à capital, Delhi, o Rajastão é uma visita de, no mínimo, uma semana. Tem muito para você ver! Reserve tempo suficiente para não se frustrar.
O problema com algumas agências é que não querem perder negócio. No lugar de lhe avisar que tal roteiro será super corrido, não lhe dirão nada. Ou seja, caberá ao motorista cumprir o roteiro no prazo, correndo muito, mesmo arriscando a vida de todos. Aliás, quando posso, eu opto por motorista mais idoso e experiente. São mais cuidadosos e também mais realistas.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 1

O lado bom de alugar um carro no Rajastão é que, como a maior parte da região é ocupada pelo deserto de Thar, a densidade demográfica é baixa. Ou seja, as estradas são menos movimentadas, com menos acidentes, portanto. Um alívio! As exceções, porém, são os trechos próximos a Udaipur e Jaipur, já mais movimentados. De Jaipur para Nova Delhi o trânsito, aliás, passa a ser infernal.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 1

Rajastão – um patrimônio histórico e arquitetônico admirável

O Rajastão tem um patrimônio histórico e arquitetônico espetacular. Ou seja, nenhuma região da Írandia reúne tantos belos castelos como o Estado do Rajastão. Porém, nem todos são sempre de fácil acesso, já que muitas de suas fortalezas, templos e palácios ficam em pleno deserto. O estado pode ser visitado de carro, de trem ou de ônibus. Recomendo o automóvel. Os trens e ônibus são lotados. Melhor evitar.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 1

Os rajastanis

Os rajastanis são um povo de guerreiros, orgulhosos de suas tradições. Algumas de suas tribos, aliás, modestamente, se acreditavam descendentes nada menos do que sol, da lua ou do fogo. Até as mulheres, que acompanhavam os homens nas guerras, atiravam-se vivas nas fogueiras de cremação dos maridos mortos. Isso, aliás, as pouparia de serem sexualmente abusadas pelos vencedores.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Rajastão 1

A maioria dos casais rajastanis procurava casar seus filhos muito cedo. As jovens, às vezes, de apenas onze anos de idade, já tinham futuros maridos escolhidos por suas famílias. Ou seja, ainda crianças. Casavam e tinha filhos ainda muito novas, para que não morressem sem deixar herdeiros, algo inconcebível entre os hindus.

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