Livro: A Vaca na Estrada

014 De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Lahore

A quente e úmida Lahore

Na estrada para Lahore, nossa próxima etapa, o calor e a umidade aumentaram. Dessa forma, o suor escorria pelo rosto, entrando nos olhos. Ardia! Ou seja, eu dormia mal e caía de sono durante o dia. Era, entretanto, obrigado, quando não estava guiando, a orientar Bernard na ultrapassagem dos caminhões.
Abaixo: Mapa da região de Lahore

As curvas perigosas

A confusão na estrada à medida em que nos aproximávamos de Lalhore era, aliás, total. Assim, competindo pela rodovia víamos, de tudo. Em suma, carroças, bicicletas, muitos camelos, búfalos, asnos, caminhões, ônibus, etc. A estrada era devidamente asfaltada, mesmo naquela época. No entanto, um tanto perigosa. Ao nos aproximar de qualquer curva, tínhamos que ser particularmente cuidadosos. Ou seja, nunca sabíamos o que nos esperava.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Lahore

As tempestades de monções

Uma tarde, após uma tempestade que nos alcançou em plena estrada, chegamos a Lahore. É a principal cidade do Paquistão. Procurávamos sempre, partir bem cedo para chegar a nosso próximo destino no final da tarde. Assim, achávamos hotel mais facilmente. Infelizmente, porém, esses horários quase sempre coincidiam igualmente com temporais de monções. Ou seja, quase sempre desambavam no final da tarde.

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De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Lahore

Um trânsito confuso

Dirigir em Lahore exigia muito sangue frio. O grande caos do trânsito asiático começava. Ou seja, encarávamos ruas lotadas, praticamente sem calçadas. O traçado da rua era tortuoso. Não havia leis de trânsito. Em suma, vigorava a lei do mais forte. Pesados caminhões passavam, assim, rente ao nosso carrinho. O Paquistão foi, portanto, nesse e em outros aspectos, uma mostra do que nos esperava na Índia.

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Cidade sonora

As ruas de Lahore eram, assim, repletas de sons. Em suma, dominada pelo blá-blá-blá das pessoas e pelo bradar dos mercadores. Depois vinham as buzinas, as campainhas de bicicletas, os roncos agudos de scooter. Junte-se a essa orquestra o murmúrio de rezas, e os lenga-lenga dos mendigos. Havia ainda a música de radinhos ligados em toda parte. Nas cidades indianas é igualzinho, a não ser, talvez, pelo plus representado pelos mugidos das vacas sagradas. Felizmente algumas belas mesquitas, como a Badshami, enfeitavam a cidade.

De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Lahore Badshami Mosque

Perfumes e odores

Não dava para deixar de notar no Paquistão e, igualmente, mais tarde, na Índia, a variedade de perfumes e odores. Cheiros marcam as ruas e seus mercados. Na realidade, espalham-se por toda a cidade. Havia ainda o incenso, naturalmente, mas também o cheiro dos bidis — cigarrinhos de tabaco enrolado em folhas de eucalipto, fumados por muita gente.

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A comida de rua

Sentíamos, igualmente, em cada esquina o odor dos espetinhos de carne de carneiro ou de cabrito, sempre gordurosos. Nessas banquinhas vendiam igualmente sementes torradas e bolinhos suspeitos. Provei. Um tanto apimentados! Impregnávamos, portanto, nossas narinas do odor dos temperos da rica cozinha local. São tão característicos que alguns não possuem equivalentes no Brasil.

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Choque de odores

A presença de animais dava às cidades um cheiro de fazenda. Esse odores rurais misturavam-se aos demais. O choque entre os aromas era, por vezes, violento. Em uma esquina ocupada por um vendedor de incenso sentíamos deliciosos e variados perfumes. Por exemplo, sândalo, almíscar, patchuli, rosa. Mais adiante, porém, junto da entrada de um beco ou terreno baldio, a realidade era outra. Ou seja, fedor da latrina ao ar livre das multidões sem casa…

O Venus hotel

Desta vez, tínhamos o nome de um hotel, o Venus. Suas paredes descascadas e sujas por fora nos causaram má impressão. Aparecia, entretanto, como recomendado em nosso guia de viagem francês. “Razoavelmente” limpo. (A palavra fora, desde o Afeganistão, incoorporada a nosso vocabulário). Rodando pela cidade, terminamos finalmente por localizá-lo. Felizmente, o interior era um pouco melhor. Os quartos do Venus Hotel de Lahore eram os mais básicos possível. O móveis se limitavam a duas camas apenas. Nem armários tinham! Olhamos o banheiro. Também “razoavalmente limpo… Enfim, servia…

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Ou seja, para aqueles habituados a hotéis de luxo, digamos que não era mesma coisa… Um ventilador de teto, amenizava o calor horroroso que fazia. Fundamental, diria,indispensável naquela época do ano,
Sentíamos, portanto, saudades de Kabul e seu clima seco e agradável, da comida e dos amigos que fizéramos. A ducha não funcionava bem, mas havia bastante água numa torneira baixa e um balde que usávamos para despejá-la fria sobre nossas cabeças, tentando nos refrescar.

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Centro histórico do perído colonial

Calor, umidade e insetos

O calor úmido nos deixava encardidos, sentíamo-nos sujos. Dessa forma, acabávamos tomando vários banhos por dia. As camisas brancas logo ganhavam um tom amarelado. Aliás, até os jeans, usados ocasionalmente, em dois dias, estavam imundos. A umidade estava no ar. As roupas colavam no corpo. No final da tarde, caminhando por Lahore, olhávamos para o céu já negro. A tempestade cotidiana estava chegando. Logo um temporal desabaria sobre a cidade. Procurávamos, em suma, onde nos abrigar. Podia ser um café ou casa de chá.

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A cidade inteira era cheia de poças d’água imundas. Moscas pululavam, o que nos incomodava nos restaurantes sem ar condicionado. Notamos um dia ingleses malucos na mesa do lado espalhando açúcar sobre um pires. Logo percebemos que, dessa forma, atraíam moscas. Em seguida, regulando seus isqueiros no máximo, utilizavam-os como mini lança-chamas. Dessa forma, chamuscavam as asas dos insetos, para em seguida soprá-las para o chão. Eficaz, mas nojento.

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A comida apimentada

Certas noites, para escapar das moscas e do calor, íamos comer em restaurantes de culinária local, com ar condicionado. A comida era boa. Os pratos eram, entretanto, excessivamente temperados. E levavam muita pimenta. Então pimenta não é tempero? Melhor explicar. Quando se fala em comida temperada, todos têm a tendência em pensar apenas na pimenta. Existia, entretanto uma enorme variedade de condimentos. Alguns muito saborosos. Outros entretanto, considerávamos, enjoativos. Até hoje não suporto nem o cheiro. E, Bernard, por exemplo, pegou birra mortal de um tempero chamado “pulao”.

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Picante, mas só para nós

O segredo, quando não se deseja comida demasiadamente temperada, é avisar o garçom ao fazer o pedido. Mas, não apenas avisar, como aprendi logo. Porém, igualmente repetir, deixar claro, insistir, e, ainda mais, sacudi-lo pelo cangote e perguntar se entendeu… O problema, porém, é que aquilo que é picante para nós não é, entretanto, nem um pouco apimentado para o paladar deles.

Salvação nas fritas e arroz com curd

O máximo que conseguíamos era comer algo “relativamente apimentado”. Em suma, aquilo que os paquistaneses chamavam de light… Dessa forma, frequentemente estávamos com o aparelho digestivo detonado. Não conseguíamos, portanto, comer nada apimentado. Em resumo, restavam poucas opções nos cardápios: ovos fritos, batatas fritas e arroz branco. E chá…

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Um truque paquistanês

Finalmente, aprendi um truque com os paquistaneses. Ou seja, aprendemos a amenizar pelo menos o ardido da pimenta. Assim, misturávamos curd (um tipo de um iogurte grosso), ao arroz. Também colocávamos curd diretamentee nos molhos apimentados. Era como faziam alguns paquistaneses quando exageravam na dose. Davam até um nome para esse tipo de curd, ou seja “Temple Style Curd

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Nesse sufoco que é Lahore no verão, descobrimos, porém, um parque sombreado, agradável. Junto ao parque havia igualmente uma quadra de tênis bem cuidada. Era onde paquistaneses ricos, com imaculados calções e camisas brancas, se encontravam. Notei que falavam inglês entre si. Depois jogavam seu tenis muito “britanicamente”. É, uma elite, herdeira de valores impostos por seus colonizadores. São eles que mandam no país.

Muçulmanos ocidentalizados

São muçulmanos, mas apreciam um bom scotch. Da mesma forma, vestem-se à moda ocidental, usam terno e gravata e gostam de roupas de grifes. Eu, porém, acho que morreria se tivesse que, naquele calor, usar um terno.
Nos sentamos num banco do parque. Enxuguei o rosto com um lenço encardido que, no Afeganistão, tinha sido branco. Disse a Bernard que estava cheio daquela cidade.

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Um pequeno sabor de aventura

Em geral, era eu quem queria retomar estrada, mas daquela vez era Bernard quem queria ficar uns dias ali. Rindo, comentei que talvez lhe agradasse sofrer um pouco naquela sujeira úmida, sob o calor de 40 C. Não perdi a piada.
couleur locale. Passa a ideia de uma região tropical, deixa a viagem com um pequeno sabor de aventura. Ah, sim, fornece assunto para recordar com os amigos nos bistrôs de Paris…
Bernard deu uma gargalhada:
Eu estava me sentindo o próprio Indiano Jones e lá vem você cortar meu barato!

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A Caxemira nos espera

Estávamos com vontade de seguir para a Índia. Aliás, mais exatamente, para a Caxemira. Era onde queríamos dar uma pausa em nossa viagem. Em outras palavras, parar, tirar umas “férias”. Porém, concordei em ficar mais um dia em Lahore, para visitar a mesquita Badshahi. Esse templo muçulmano é um das principais do país. A mesquita foi construída em 1673 pelo imperador mogol Aurangzeb. Era o simplesmente o filho do criador do Taj Mahal indiano. Nos dias mais movimentados, até dez mil fiéis se ajoelham ali. Bumbum empinado, prostravam-se na direção de Meca.

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Tínhamos batido o martelo. Resolvido seguir viagem. assim, chegando ao hotel, abrimos o mapa da Ásia sobre uma das camas. O examinamos atentamente. Assim vimos que, seguindo para a ìndia, a primeira etapa seria o Pendjab. Decidimos, portanto, seguir para Amritzar. Afinal, tínhamos planos de conhecer o famoso templo dourado da seita sick, o Golden Temple. O sagrado Templo Dourado fica bem no meio de um lago. É ligado à margem por uma passarela.

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Veja a continuação desta postagem:
As civilizações do Vale do Indo

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