Livro: A Vaca na Estrada

03 De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara

Cortando as estradas turcas

Um dia num final de tarde, sentados em um café, decidimos era hora de prosseguir nossa viagem. Dessa forma, acordamos bem cedo no dia seguinte. Assim, deixamos Istambul rumo a Ankara. A capital turca fica no centro do país. Essa estrada entre Istambul e Ankara é uma das modernas da Turquia. Ou seja, a principal. Igualmente, bem razoável, com pistas duplas, e inteiramente asfaltada.
Abaixo: Mapa da Turquia

Retomando a estrada

Enfim, vez ou outra nos surpreendíamos com buracos perigosos em alguns trechos. Assim, fiquei atento à pista. Evitei igualmente correr demais. Por que fazê-lo? Tempo é o que mais tínhamos! Assim, nesse ritmo, e, como também parávamos para almoçar sem pressa ou para comer um lanche, calculamos que lá pelo final da tarde chegaríamos a Ankara.

De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara

A Turquia, um vasto celeiro

Dessa forma, apreciávamos as paisagens campestres da Turquia, vastas áreas férteis e cultivadas. O país nos pareceu um vasto celeiro. A impressão que tivemos foi que, embora não fosse uma nação rica, seu povo era, pelo menos, bem nutrido. Quando mencionei isso para Bernard, ele comentou que na França existe a expressão “Forte como um turco”.

De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara

Lokanta

Quando estávamos com fome ficávamos atentos à placa Lokanta. Significa “restaurante”. Era, assim, onde parávamos no caminho. Nas lokantas turcas, serviam boa comida. No menu constavam saborosos pratos. Por exemplo, de carne de carneiro, arroz com castanhas e passas, berinjelas e tomates recheados, que adorávamos. Percebi, aliás, que a culinária turca se parece um pouco com a grega, que sempre curti. Enfim na Turquia, como na Grécia se passa bem!

De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara: a comida dos lokantas

Ankara

Ankara, cidade de arquitetura moderna, não tem o charme de Istambul. É, porém, bonitinha e bem simpática. Bernard tinha o endereço de um estudante turco que conhecera em Paris. Foi, entretanto, um tanto complicado encontrar seu apartamento: poucas pessoas falavam inglês e ninguém entendia francês. Infelizmente, aliás, seu amigo turco estava fora do país.

De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara

A hospitalidade turca

Quem nos recebeu foi Samira, a irmã do conhecido de Bernard. Por ter morado com o irmão em Paris, ela falava um francês bem razoável.
Apresentou-nos a família. Seu pai nos convidou, ou melhor, nos intimou a nos hospedarmos em sua casa. Afinal, a hospitalidade turca é lendária, uma instituição. Valiosa a oportunidade, assim, de conhecer uma família turca na intimidade. Em suma, como viviam, o que pensavam da vida.

De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara

Mútua curiosidade

Da parte deles, igualmente, havia certa curiosidade em relação a nós. Sobre Bernard, mas sobretudo sobre mim, um brasileiro, avis rara por lá. O velho nos perguntava mil coisas. Samira ia traduzindo: quais nossas idades, quais nossas profissões, o que tínhamos estudado, por que estávamos viajando, para onde iríamos depois.
A família de Samira era de uma classe média-média, de poder aquisitivo similar à brasileira.
Moravam, assim, em um apartamento grande e confortável, mas decorado com um gosto estranho para nossos padrões. Ou seja, – o que hoje chamaríamos kitsch: enfeites de plástico, tapeçarias de cores berrantes. Cederam-nos um quarto de bom tamanho, com três camas e forneceram-nos também toalhas imaculadamente limpas e sabonetes.

De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara

Um café da manhã reforçado

Pela manhã serviram-nos um lanche super reforçado. Diante de nós havia uma mesa com chá, azeitonas, biscoitos, geléia de rosas, pãezinhos, queijo cremoso. Bernard e eu trocamos um olhar. Estávamos impressionados, com a fartura e igualmente com a variedade desses pratos matinais. Alguns pratos eram novidade para nós. Assim, Samira ia nos explicando como eram feitos.

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é CAFÉ-DA-MANHÃ-TURQUIA.jpg
De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara

Álbum de família

Logo depois trouxeram-nos um álbum de retratos da família e tiveram a pachorra de nos mostrar foto por foto. Todos falavam ao mesmo tempo, como se nós pudéssemos entender turco. Em suma, tentavam dar explicações com gestos, apontavam para o retrato de cada parente. As fotos mais antigas eram engraçadas, amareladas pelo tempo. Era imagens de parentes. Pessoas posando rígidas como tábuas, rostos de avós em uniformes do exército.
O avô bigodudo insistia que olhássemos para cada uma. Discursava com visível orgulho. Infelizmente, porém, as únicas palavras que conseguíamos distinguir em turco eram “Ataturk” e “Dardanelos”.

De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara

Ataturk

Samira veio logo em nosso socorro:
— Meu avô lutou contra os ingleses junto com Ataturk na batalha de Dardanelos.
Nessa batalha, ocorrida em 1915, os britânicos, comandados por Churchill, tinham levado uma sova inesquecível, perdendo milhares de homens.

De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara – Ataturk

O casamento da virgem

Por algum motivo que não chego a entender, os turcos, às vezes, convidam turistas estrangeiros para festas de casamento. Assim, Samira nos levou para assistir à cerimônia de casamento de uma prima, na própria cidade de Ankara. Uma festa, aliás, bem semelhante às brasileiras. Muito diferente, portanto, de outro casamento turco para o qual eu e Michèlle (nome fictício), uma amiga francesa, fôramos convidados alguns anos antes. Viajávamos de carro pelo interior da Turquia, quando fizemos amizade com um professor da Aliança Francesa local. Naquela ocasião, a festa tinha sido comum para os padrões brasileiros até o momento em que o noivo e a noiva se trancaram em um quarto. A festa, porém, continuou lá fora.

De Paris a Katmandu de carro “A Vaca na Estrada” – Rumo a Ankara

“Consumar o ato”

Assim, ficamos sabendo que o casal fora para o quarto “consumar o ato”, ou seja, confirmar a validade do casamento. Entreolhamo-nos sem entender direito o significado daquilo. Finalmente, meia hora depois, o noivo saiu do quarto orgulhoso, com o lençol manchado de sangue. O lençol tornara-se, portanto a prova da virtude da moça, de sua virgindade. Dessa forma, foi levado à janela e pendurado para que as pessoas que passavam na rua pudessem vê-lo. Estávamos pasmos.

E se a moça não fosse virgem?

E se a moça não fosse virgem? — perguntou Michèlle. Lembrou, aliás, em alguns casos, a mulher não sangra na primeira relação.
Nosso amigo turco explicou:
— O casamento não seria válido. Seria uma desonra para a noiva e sua família.
Na volta ao hotel, Michèlle, feminista convicta, comentou:
Meu Deus, quanto machismo!
Quero, porém, assinalar que, desde então, a Turquia mudou muito. Além disso, o episódio em questão ocorreu numa cidade pequena, no interior do país, onde os costumes eram, provavelmente, mais rígidos do que nos dias de hoje. A Turquia é, aliás, um dos países muçulmanos mais modernos e liberais.

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Sigam o relato:

Sigam esta aventura de carro pelas estradas da Ásia atravessando o Oriente mágico e éxotico que encantou milhares de jovens europeus. Uma experiência vivida pelo autor do livro “A Vaca na Estrada” por países como Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão, ÍndiaNepal
Veja a continuação desta postagem: Estrada para o Irã

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