Livro; O Ouro Maldito dos Incas

040 -Anno de 1533 – “O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

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“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Jauja, um recanto tranquilo

Jauja agradou Pizarro e aos espanhóis. Assim, o Gobernador teve a ideia de fundar uma cidade cristã ali. Ou seja, aproveitou-se, portanto, das qualidades do lugar e da docilidade dos índios. Cerca de oitenta soldados se estabeleceriam portanto no vale. Aliás, o transporte do ouro estava se tornando um problema. Em suma, nos obrigando a ter um enorme número de carregadores índios. Estes, afinal, atrasavam nossa marcha e precisavam também ser alimentados e alojados. Dessa forma, os espanhóis que ficariam em Jauja deveriam, portanto, tomar conta do metal.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Mais um povoado espanhol

Também ficaram em Jauja os índios nicaráguas e parte dos escravos africanos, bem como índias que serviam aos soldados. Passeando com Ortiz e Pablo pelo vale, houve um momento em que fiquei imaginando como seria morar ali. Tinha ouro e índias… Teria filhos mestiços. Mas a conquista continuava e eu queria mais ouro. Por isso não quis ficar em Jauja. Pablo também não, pois continuava com sua ideia de voltar para a Espanha quando possível e comprar terras por lá.
Enfim, em uma manhã luminosa de céu azul em Jauja, Pizarro fundou a cidade. Mais um povoado cristão e espanhol nas terras do Peru. Como chefe dos colonizadores, Pizarro nomeou o tesoureiro Riquelme, inútil como guerreiro e conhecido por sua covardia. Foram construídas a igreja e apenas meia dúzia de casinhas simples para os que ficariam em Jauja. Mais um povoado espanhol no Peru.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Soto e seus batedores

Soto partiu na frente com um pelotão. Daquela vez, porém, eu fiquei com o restante da tropa, que partiu quatro dias mais tarde, em 27 de outubro, uma segunda-feira.
Nossa estrada acompanhava o rio Mantaro por léguas. As indicações que tínhamos era de que existia uma ponte mais adiante, por onde poderíamos cruzar o rio. Assim, após três dias de marcha, demos com ela: uma ponte pênsil com base de pedra e uma estrutura de madeira e cordas.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Pendurada sobre o abismo, a ponte era longa e também estreita. Se difícil para nós, para os cavalos era ainda mais. Mesmo quando desmontamos, os bichos, amedrontados, escorregavam sobre as tábuas lisas da ponte, fazendo com que ela balançasse sobre o abismo, assustando ainda mais a todos. Respirei aliviado quando consegui alcançar a outra margem. Não tivemos, graças à Virgem, nenhum acidente, nem perdemos homens.
Porém, as dificuldades não terminaram com a travessia do rio. A estrada para a subida da serra era uma verdadeira escadaria entalhada na pedra, e tivemos novamente que apear.

Os ataque dos quitenhos

Não víramos ainda sinal dos quitenhos. Pensei mais uma vez que aquele local seria perfeito para uma emboscada desses índios. Tranquilizei-me, porém, ao lembrar que fora aquele o caminho seguido por Soto. Se tivesse havido problemas, saberíamos. Nenhuma aldeia entretanto fora preservada. Os quitenhos, utilizando-se de toda lenha disponível, incendiaram casas, povoados e depósitos de alimentos. Dessa forma, deixaram os quéchuas e nós, igualmente, desesperados. Ou seja, no lugar de morrer de espada na mão, morreríamos de fome. Em todos os povoados que atravessávamos só víamos ruínas carbonizadas e casas fumegantes.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Parcos

Seus habitantes tinham fugido ou sido capturados pelos quitenhos. Famintos, só pudemos descansar na única aldeia intacta – Parcos. Fomos bem recebidos. O curaca, que conhecêramos em Cajamarca, mandou acender uma fogueira no chão e nos igualmente nos indicou um pasto onde, a cavalo, poderíamos abater algumas lhamas que as índias colocavam para assar.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Ferraduras de prata

Muitos dos animais estavam com os cascos desgastados. Alguns tinham também perdido ferraduras nos trechos de serra. Assim, em Parcos forjamos novas. Não, porém, com ferro, que não tínhamos, mas com prata, que possuíamos em abundância. Se contássemos, na Espanha, que nossos cavalos foram ferrados com prata, isso resultaria em novas histórias que circulavam por lá sobre as riquezas existentes deste lado do oceano. Ortiz ironizou:
Na boca do povo, as ferraduras de prata vão virar de ouro.
Logo todo mundo começará a dizer que, no Peru, os cavalos são sempre ferrados com ouro.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Abismos profundos

Dormimos em Parcos e continuamos assim nosso caminho no dia seguinte. Tivemos, entretanto, de enfrentar outra serra abrupta, com precipícios profundos. Quem escorregasse ali, aliás, era um homem morto. Notei igualmente, que, enquanto os cavalos estavam assustados, as lhamas que transportavam nossa tralha pareciam à vontade, mesmo ao subir degraus. Ou seja, eram os animais ideais para estradas como aquelas.
Pablo, que, muito falante, se descuidara, perdeu o equilíbrio e só não caiu num precipício porque Ortiz, num movimento rápido, lhe estendeu a mão. Ajudei-o a levantar-se, enquanto ele, trêmulo, olhava a valeta profunda que chegava até o vale, lá embaixo.
Jesus Cristo!

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Soto cercado

Após cruzarmos a ponte, um alvoroço tomou conta da tropa. Logo um índio chegou com a informação de que Soto vencera uma pequena guarnição de quitenhos no povoado de Vilcas. Depois, porém, Soto viu-se sitiado por uma multidão de guerreiros que voltavam do vale. Dessa forma, Soto, sem ter como escapar ao cerco, entrincheirou-se com seus homens no alto de uma torre, com os índios tentando desaloja-los.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Tivemos que apressar o passo para socorrê-lo. Porém, para nossa surpresa, ao chegar à aldeia vimos que, aparentemente, ele escapara. Ou seja, sem notícias, Pizarro não pensou duas vezes: mandou Almagro com um pelotão a cavalo à procura de Soto e seus homens. Em suma, desconfiara que podiam certamente estar passando por momentos difíceis.

Andahuaylas

O restante da tropa prosseguiu até a aldeia Andahuaylas, onde cruzou com grupos de índios que fugiam dos quitenhos. Pizarro mandou Felipillo interrogá-los, mas ninguém, entretanto tinha notícias de Soto. Assim, não paramos. Após seguir nosso caminho por mais algumas léguas, no povoado de Airamba deparamos com dois cavalos mortos a flechadas. O curaca revelou também que meia dúzia dos homens de Soto tinham sido mortos e os demais estavam refugiados numa elevação, onde, aliás, tinham passado a noite.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Da mesma forma, não tínhamos notícia se Almagro. Assim, deduzimos que os dois grupos se desencontraram. O preocupante era que antes, com muito menos homens e sem uma única baixa, capturamos Atahualpa em Cajamarca. Porém, agora, apesar de mais numerosos, começávamos a sofrer perdas nas batalhas com os nativos. Pizarro não quis comentar os reveses sofridos. Creio, porém, que os nativos estavam se tornando mais confiantes e agressivos. Em suma, estavam perdendo o medo inicial aos cavalos e a aos soldados espanhóis.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Acelerando o passo

Assim, Pizarro apenas nos mandou acelerar o passo até o rio Apurímac, onde a ponte havia sido destruída pelos quitenhos. Felizmente, porém, como os índios do lugar tinham balsas, pudemos cruzar o rio. Assim que toda a tropa atravessou, avistamos ao longe uma nuvem de poeira provocada por cavalos. Só podiam ser os nossos, que se aproximavam galopando. Rugas de preocupação surgiram no rosto de Pizarro.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Não dá para ver direito, só vejo um.
Os soldados se entreolharam boquiabertos. Mas, o restante dos homens? Meu coração disparou. Talvez fossem os únicos sobreviventes do pelotão de Soto… Onde estaria igualmente Almagro? Permanecemos em silêncio enquanto aguardávamos. Apertei os olhos. Enxergava melhor do que Pizarro.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Mansio Serra de Leguizamón,

É realmente um só, capitão.
Ninguém, entretanto conseguia desviar o olhar do cavaleiro solitário que se aproximava no galope. Não era porém possível distinguir ainda quem seria. Assim, só quando estava bem próximo o reconhecemos. Era Mansio Serra de Leguizamón, que partira com Soto. Por que razão estaria sozinho?
Leguizamón acenou e puxou as rédeas. Seu cavalo estava transpirando.
Senhor… Tenho uma mensagem… Um pergaminho do capitão Soto… disse, ofegante, enquanto fazia o animal parar junto ao Gobernador.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Jauja

Encontramos o Adelantado, Senhor…
Mansio se esforçava para segurar o cavalo, que se debatia, tentando se livrar para procurar água.
Vencemos os quitenhos! gritou, finalmente.
Pizarro abriu um largo sorriso. Todos se abraçaram, alegres.
Viva a Espanha! – gritou alguém.
Viva! – ecoaram logo os demais.
O que restara das tropas quitenhas fugira em direção a Cusco.

Siga o relato:

Como um analfabeto no comando de menos de duzentos homens, com pouca ou nenhuma experiência militar, conseguiu dominar um império de doze milhões de pessoas ?

Siga a continuação desta postagem: Muitas perdas

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