Tupac Hualppa
As táticas de Pizarro e dos incas tinham pontos em comum. Assim, Pizarro resolveu escolher um fantoche para o trono inca. Em suma, após conversar com Almagro e outros líderes, decidiu que aquele era um bom momento. Poderia assim escolher um dos muitos irmãos de Huáscar e fazê-lo imperador. Aceitando, é claro, se submeter à Coroa espanhola. Logo, imediatamente indicou o jovem e inexperiente Tupac Hualppa para o posto. Ainda mais, convocou igualmente curacas e nobres para legitimarem o ato. Dessa forma, os índios presentes acolheram com alegria a coroação do príncipe. Este estava vestido com suas melhores roupas. A cerimônia foi realizada solenemente na praça de Cajamarca.
A obediência dos curacas
Sob o sorriso satisfeito dos conquistadores, cada curaca apresentou-se portanto para jurar obediência ao novo líder. Ao lado de Tupac Hualppa, Pizarro tomou o cuidado de instalar Calcuchímac. O general quitenho, torturado por Hernando, não se restabelecera completamente de suas queimaduras. Ou seja, fazia esforço para disfarçar seu mal-estar. Era visível, portanto, que aquilo era uma tentativa de mostrar que todos apoiavam o novo Inca, até aqueles que estiveram antes do lado de Atahualpa.
A cerimônia foi bonita, mas eu me perguntava, porém, no que daria toda aquela encenação de curacas fazendo reverências ao escolhido de Pizarro. Afinal, naquele país as coisas sempre tomavam rumos inesperados. Achachíc, um dos nobres que prestaram homenagem a Tupac Hualppa, deu-me, aliás, uma olhada aignificativa. Logo percebi que considerava uma farsa todo aquele cerimonial.
As termas de Atahualpa
Houve dias em que não tínhamos absolutamente nada para fazer. Pablo, Toledo e Carlos, e eu, éramos, portanto, autorizados por Pizarro, a explorar as cercanias a cavalo.
Eu, de meu lado, queria também conhecer as piscinas de água quente de Atahualpa. Assim, consegui, em um final de tarde, com certa dificuldade, colocar Nitaya na garupa de meu cavalo e levá-la comigo. Era, porém, a primeira vez que ela subia em um animal desses. Assim, assustada, segurava-me com firmeza pela cintura, temendo cair. Somente aos poucos foi se acostumando. Admirados, outros soldados me olharam passar com a moça. Creio, aliás, que nunca antes viram uma índia sobre um cavalo.
A piscina sagrada
Segui o leito do riacho, ou seja, o mesmo caminho que tomara quando entrei pela primeira vez no acampamento quitenho com Soto. Era final do dia e não havia, portanto, mais ninguém no local. Entramos, portanto, os dois na casa, que possuía duas piscinas. Abaixei-me e experimentei a temperatura. Uma delas era quente. Eu nunca vira isso. Resolvi entrar com Nitaya nessas águas tépidas, uma boa ideia, porque o dia estava meio frio e nebuloso. Assim, nos despimos e dei a mão à minha índia. Ela hesitou um momento, olhando em volta. Afinal, aquela era uma piscina sagrada, onde somente o imperador tinha direito de entrar. Tranquilizei-a, portanto:
– Não tem mais Atahualpa.
Nitaya
Seu mundo tinha virado de cabeça para baixo. Não apenas ela estava tendo contato com um homem, um tabu para uma Virgem do Sol no mundo dos incas, mas o fazia numa piscina proibida. Ou seja, a piscina do Inca, onde, quando Atahualpa era vivo, quem entrasse pagaria com a vida. Mergulhamos os dois nas águas quentes, onde ficamos juntos nos acariciando até que, excitado, a puxei para mim.
Pensei, divertido, o que meus companheiros pensariam se soubessem que fodi com minha índia na piscina sagrada do Inca…
Depois ficamos os dois deitados lado a lado, calados, retomando nosso fôlego. Após um momento passei a observá-la nua, coisa que em nossa casinha não era, entretanto, possível. Afinal, sempre que nos despíamos à noite, era sob as cobertas.
Prazer ou obrigação?
Eu já a alisara antes e sabia que quase não tinha pelos entre as pernas. Agora, porém, podia examiná-la mais atentamente. Nitaya ainda era nova, mas o motivo principal de não ter pelos era ser índia. Índios, mesmo os homens, quase não têm barba, bigode ou pelos no corpo. Ortiz já comentara, brincando, que José tinha menos pelos na face do que certas espanholas que conhecera… Nitaya sorriu para mim. Tive curiosidade em saber se tinha prazer em se entregar a mim ou se o fazia por sentir-se obrigada.
– Você gosta que eu te pegue?
Confirmou com um movimento de cabeça. Após um momento, ela percebeu que eu a observava e ergueu, tímida, seus olhos para mim, como se me interrogasse.
– Não sou bonita?
Acariciei seu rosto.
– Pelo contrário… É muito bonita.
Chicha e chá de coca
Nas manhãs frias e chuvosas era agradável, após o chá de folha de coca, preparado sobre uma espécie de prato e depois vertida em grande potes.
Boa parte da manhã ficarmos com as índias sob as mantas de alpaca. As duas, que começavam a aprender espanhol, eram caladas e mantinham as cabanas em ordem, conservando as cobertas sempre limpas.
Também sabiam como ninguém preparar chicha, nossa bebida corrente, já que no Peru não existia vinho e, aliás, nem sequer videiras.
Vinho, um luxo
As poucas garrafas, geralmente de vinhos vababundo, trazidas pelas tropas de Almagro foram vendidas realmente a peso de ouro. Ou seja, os recém-chegados que até então pouco receberam do ouro arrancado aos incas, sabiam que tínhamos como pagar. Assim, negociavam a preços extorsivos as garrafas ou pequenos barrís que trouxeram do Panam. Mas, já tínhamos tanto ouro que pagávamos o que pediam, mesmo resmungando. Como disse meu primo:
– Azar deles se chegaram tarde! Afinal, ficaram em Madre de Dios enchendo cara de vinho enquanto nós sofríamos frio e fome.
Conversas com Achachic
À tarde resolvemos ver Achachíc. A maioria dos soldados não tinha preocupação em entender o país no qual estavam. Ortiz e eu, porém, queríamos, entretanto, saber tudo. Assim, nos sentamos juntos mais uma vez em volta de uma mesa, para beber e conversar. O engraçado é que os incas não conheciam a mesa, mas, ao começarem a usá-la, adotaram-na imediatamente. Eu já comera mais de uma vez sentado sobre uma esteira, mas era desconfortável. Não entendia, aliás, como conseguiam ficar horas seguidas de cócoras, ou sentados no chão. Para ficarmos mais confortáveis, porém, montei um pequeno estrado, nos isolando também da friagem do chão.
Normalmente colocávamos uma espessa de pele de lhama por baixo e um belo tapete por cima. Sentíamos, entretanto, falta de uma mesa e de cadeiras.Ou seja, quando ficámos vários dias em uma aldeia chegávamos a construír pelo menos uma mesa e bancos toscos. Porém, em permanências curtas era impossível construir algo. Dessa forma, tínhamos mesmo que comer no chão.
As táticas de conquista dos incas sobre outros povos do altiplano
Achachíc nos contou em detalhes como funcionava o sistema de conquista utilizado pelos incas nas guerras contra os demais povos índígenas. Ou seja, primeiro mandavam um espião informar-se sobre o inimigo. Os orejóns espionavam a mando do Inca; era uma de suas obrigações.
Achachíc, por suas vez era um nobre e orejón do soberano inca. Assim, dera, aliás, muita sorte de estar empenhado numa missão desse tipo quando Atahualpa venceu as tropas de Huáscar e tomou Cusco exterminando a nobreza da corte de seu irmão.
Em suma, escapara de uma provável execução quando Atahualpa dizimara a panaca real do irmão. Huáscar o mandara em missão de espionagem no extremo sul do império, onde fingia ser um mercador, como o outro orejón de Atahualpa que nos espionou. Lembrei-me dele imediatamente. Era aquele que se fazia passar por vendedor de frutas e que viera espionar nosso acampamento. Essa era, portanto, a tática.
Guerra só em último caso
Faziam um levantamento das defesas do inimigo, aprendiam sobre suas armas, sua organização e forneciam ao imperador todas as informações. O passo seguinte era enviar embaixadores, que propunham ao adversário que se rendesse. Os que aceitassem teriam a vida poupada e o curaca continuaria em suas funções, mas tutelado por quéchuas. Sempre que possível, obtinha-se a rendição negociada e pacífica das tribos vizinhas. Em outras palavras, só no caso de recusa de se renderem a guerra era declarada.
– E os incas se saíam melhor nos combates?
Achachíc falou-nos que um dos motivos do sucesso dos incas foi sua disciplina. Não se tratava de um bando desorganizado. Ou seja, eram um exército de guerreiros treinados e agrupados em corpos de acordo com suas habilidades. Havia corpos de flecheiros, lançadores de pedra, lanceiros e uma infantaria equipada com espécies de tacapes de bronze.
Só perdemos para os espanhois
Voltou-se para mim com um ar murcho:
– Só os espanhóis nos venceram.
Temerosos, muitos povos aceitavam a hegemonia inca e foram poupados e integrados ao império. Arcavam, porém, com tributos, com a obrigação de participar de obras públicas para o império ou para a comunidade. As aldeias dos novos territórios anexados adotavam uma organização igual àquela dos povoados incas, os ayllus, a base da organização do império.
Impostos, nunca excessivos, eram sempre pagos em produtos, já que não havia moedas e não usavam nada que servisse como dinheiro. E, o ouro para eles era apena um metal bonito, bom para se fazer enfeites. Mas não servia como dinheiro. Normalmente os produtos mais utilizados para pagamento de tributos eram batatas e milho, mais fácil de serem conservados. As regiões mais próximas de Cusco também contribuíam com frutas.
A integração dos povos conquistados
Os incas pediam-lhes que adorassem o sol e aprendessem quéchua, mas não impediam que conservassem suas antigas crenças e sua língua materna. Nosso inca explicou-me que os antigos reis ou chefes tribais, mantidos em seus postos como curacas, eram obrigados a enviar seus filhos para serem educados em Cusco e aprenderem as leis dos incas. Ou seja, aprendiam a ser incas.
Voltavam, quase sempre, completamente convertidos. O antigo reino tornava-se uma província do império; seu povo era transformado em “súdito”. Os imperadores tomavam igualmente as filhas ou irmãs dos chefes vencidos como esposas, realizando uma espécie de aliança. Uma das filhas do vencido era, portanto entregue ao vencedor.
Siga o relato:
Como um analfabeto no comando de menos de duzentos homens, com pouca ou nenhuma experiência militar, conseguiu dominar um império de doze milhões de pessoas ?
Siga a continuação desta postagem: A hegemonia inca
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