Livro; O Ouro Maldito dos Incas

012 – Anno de 1531 -“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

O nativo capturado

Estávamos perdidos e ainda tendo que encarar fome e crocodilos. Somente com o dia claro conseguimos, enfim, capturar um nativo e o levamos até o Gobernador. Demoramos, entretanto, a arrancar informações do indígena, que se fazia propositalmente, aliás, de desentendido. Encarregado do selvagem, mostrei-lhe uma vasilha de água e também uma goiaba e uma espiga de milho e apontei para minha própria boca.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

Ele, entreetanto, fingiu não entender. Mal-humorado em razão do racionamento da água e da comida, perdi logo a paciência.
Pizarro aproximou-se. Virei-me para ele:
O que faço? Mato esse cachorro?

“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos


O Gobernador olhou primeiro para mim, em seguida para o índio e, aproximando-se dele, sacudiu-o:
Água… Onde?
Nosso prisioneiro não se deu por achado. Peguei um velho pote de cerâmica, verti um pouco de nossa reserva de água. Sabia que ele também deveria estar com sede. Assim, dei um bom gole, encarando-o.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

Água ?

Yaku? – traduzi.
O indígena entendeu. Afinal já falava muita coisa de quéchua. Assim, apontou uma direção, outra, depois uma terceira. Enfim, queria dizer que em qualquer parte, sabe-se lá onde, poderíamos encontrar comida. Pizarro abaixou a cabeça, pensativo.
Matá-lo não vai adiantar nada.
Vamos amarrá-lo e deixá-lo sem comer ou beber um dia inteiro, sugeriu Hernando Pizarro igualmente apoiado por Soto.
O Gobernador concordou:
Pode funcionar. Ele não vai querer morrer de sede – disse, afastando-se em direção a Gonzalo, que o chamara.

O rio Quiximies

Enfim, somente após dias de regime forçado, durante os quais lhe demos o mínimo de água e comida, para que não morresse, o selvagem afinal indicou-nos a direção de um rio caudaloso chamado Quiximies. Pudemos enfim saciar nossa sede e a dos animais. O índio também quis beber água, mas não o deixamos. Como começava, aliás, a nos dar trabalho, nós o amarramos a uma árvore junto do rio para que assistisse à água correr, sem poder bebê-la.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

Depois de matar a sede, alguns soldados jogaram água na sua cara, enquanto o nativo tentava lamber as gotas que lhe escorriam pelo rosto. Nossa intenção era, aliás, meia hora mais tarde, deixá-lo beber. Só queríamos, porém, que ele sentisse como era bom fazer os outros passarem sede. Juan e Gonzalo, entretanto, sugeriram que o deixássemos sem água até o dia seguinte, mas Pizarro aproximou-se e me disse para soltá-lo.
Tenho medo de que morra. Talvez ainda precisemos dele. Ou seja, já aprendeu a lição.

Mandioca, a nossa felicidade

Continuando nosso avanço tivemos a felicidade de encontrar mandioca e, igualmente um tipo de batata. A mandioca, aliás, já conhecíamos do Panamá. A batata, entretanto, experimentamos em Tumbes pela primeira vez, Ou seja, a comemos tanto seca como fresca. Essa estranha raiz, fácil de cultivar, era parte assim importante da alimentação dos índios, que a chamavam de apichu. Ao que parece, havia uma grande variedade de espécies. Enfim, algumas delas era adocicadas, muito saborosas.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

Prosseguimos, conduzidos pelo prisioneiro, já mais manso após sua dieta de fome e sede, que nos olhava assustado como um cão batido.
Yaku? – perguntei-lhe.
Assim, depois dos mal momento que enfrentara conosco, Indicou-nos dessa vez a direção certa. Ou seja, não longe da costa, encontramos uma providencial cachoeira. Deixei-o beber.
Vá, bastardo, você deve ter aprendido a lição – disse eu, empurrando-o em direção à cascata.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

Saciando a sede

Assim, pudemos saciarmos a sede. Entramos igualmente sob a pequena cachoeira, contentes também, assim, por podermos nos refrescar. Agradecemos igualmente à Virgem por encontrar uma queda d’água depois de passarmos tanta sede e calor. Jogávamos portanto água uns nos outros como crianças, até sermos interrompidos pelos gritos de soldados que avistaram ao largo da costa um dos navios do piloto Bartolomeu Ruiz. Por meio de sinais de fumaça, fizemos com que nos vissem. Fomos logo acudidos e recebemos, cada um de nós, uma porção de farinha de milho que, apesar de pequena, nos salvou da fome. Os marinheiros, por sua vez, aproveitaram igualmente para encher de água potável os tonéis dos navios, quase secos.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

Nas proximidades de um manguezal encontramos caranguejos de estranho aspecto e de cores. Ou seja, nunca tínhamos visto carangejos como aqueles. Não sabíamos de podíamos comê-los. Alguns soldados, entretanto, os comeram. Deviam, certamente, serem venenosos, pois dois de nossos homens morreram e outros passaram mal, entre eles o galego Carlos, que se tornara amigo de meu primo.

Crocodilos

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

Muitos soldados não sabiam nadar. Ou seja, às vezes, tínhamos que consruir balsas para cruzar os rios. Mesmo quando dava pé a travessia era igualmente perigosa devido aos crocodilos. Esses lagartos ferozes não existiam na Espanha. Assim, eu e a maioria dos soldados nunca tínhamos visto animais tão aterradores. Os répteis da região de Tumbes eram, enfim, enormes, de cabeça triangular, mandíbulas potentes, dentes longos e pontudos e podiam atingir vinte pés de comprimento.

O perigo oculto representado por crocodilos

Mantinham-se escondidos debaixo d’ água onde não podíamos vê-los. Aproximavam-se, porrtanto, sorrateiramente e, então, com um salto, abocanhavam homens ou cavalos. Por último, ainda mais, puxavam-os para o meio do rio, onde as águas eram profundas. Ali, mantinham homens e animais debaixo d’ água, onde faziam seus corpos girarem no fundo até se afogarem.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos
Crocodilos traiçoeiros no fundo dos rios

Logo uma mancha de sangue tingia a água de vermelho, atraindo dessa forma outros crocodilos para participar do festim. Era quase impossível salvar o cavalo ou o soldado.
Por termos assistido a nossos companheiros sendo devorados vivos, passamos portanto a ter um verdadeiro pavor dos lagartos. Apenas um dos que foram atacados conseguiu ser resgatado porque tivemos tempo de acertar o crocodilo com um tiro de arcabuz. António Ortiz, Álvaro Toledo, o Madrilenho conversador de quem fiquei amigo, e eu puxamos o homem para a margem, enquanto o bicho afastava-se ferido e os demais répteis, assustados com o estrondo da arma, mergulhavam nas águas escuras.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos
– répteis perigosos

A vontade de Deus

O soldado berrava horrivelmente. Mais da metade de sua perna fora, aliás, parar no bucho do animal. Durante muitos dias, não consegui esquecer seus gritos de terror e cheguei a ter pesadelos em que me via na água sendo devorado vivo.
Nós encontramos esses monstros em todos os rios que cruzamos nesse trecho pantanoso do litoral, do Zarumilla, ao norte, até o Chira, ao sul.
Maldita terra cheia de surpresas!, pensei ao lado dos companheiros que ajudaram a arrancar o infeliz da boca do crocodilo. Arriscamo-nos, portanto, por nada. Ou seja, o soldado morreu de gangrena semanas mais tarde. Só pudemos orar por sua alma, enquanto víamos as pás de terra serem lançadas sobre sua cova.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

Frei Vicente Valverde, junto de nós, suspirou:
Foi feita a vontade de Deus. Vocês fizeram o que puderam.
Ortiz, a meu lado, virou-se para o religioso:
Foi essa a vontade de Deus, padre?
Valverde o estudou:
Creio que foi… Nunca se sabem as razões de Deus, meu filho. Tudo na vida pode mudar: basta ter fé na Virgem e ser firme quando necessário.

Coaque

A dieta à qual submetemos o índio que capturamos dias antes o tornou mais falante. Creio, portanto, que entendeu. Voluntariamente, ele nos falou de um povoado chamado Coaque, bem maior e mais rico do que as aldeias por onde passáramos até então. Aproximamo-nos em silêncio durante a noite e, antes do amanhecer, nvestimos com a cavalaria, ao som de trombetas, o que apavorou os moradores, que abandonaram a aldeia correndo como coelhos. Nunca uma vitória nos foi tão fácil.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilos

Não apenas capturamos o cacique como, pela primeira vez, conseguimos nos apoderar de uma quantidade considerável de ouro, prata, pedras preciosas, milho, frutas e roupas quentes de algodão e de lã de fina qualidade de diversas cores, fabricadas pelos índios. Também deparamos com curiosas pedras verdes. Nos entreolhamos. Seriam preciosas?

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“O Ouro Maldito dos Incas” – fome e crocodilosa tecelagem inca

Siga o relato:

Como um analfabeto no comando de menos de duzentos homens, com pouca ou nenhuma experiência militar, conseguiu dominar um império de doze milhões de pessoas ?

Siga a continuação desta postagem: As pedras Verdes e os estranhos tumores

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