Livro; O Ouro Maldito dos Incas

038 – Anno de 1533 – “O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa

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“O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa

Desta vez a marcha foi penosa. Ainda mais, começara a cair uma chuva fina e gelada. Uma garoa que parecia nos penetrar nos ossos, substituída depois por granizo. A ausência de árvores, aliás, não permitia nos abrigar. Não havia lenha para acender uma fogueira e nem tínhamos o que comer. Em suma, foi uma noite longa e sofrida. Ao alvorecer alcançamos uma aldeia chamada Bombon, onde pudemos descansar. Continuávamos, porém, sem alimentos, nem mesmo milho. Apenas abóboras assadas e fatiadas preparadas por nossas companheiras.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa

Almagro: sem boas notícias

Almagro, quando regressou, não trouxe boas notícias. Aparentemente os quitenhos pensavam em queimar todos os depósitos de alimentos. Ou seja, para nos deixar sem comer. Era, portanto, uma ameaça tão séria quanto um ataque, pois ninguém vive sem comida. Como não tínhamos mantimentos, sempre sobrevivíamos saqueando os bem abastecidos depósitos de Atahualpa.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa

Em algumas situações éramos também, alimentados pelos aldeões. Se cortassem nossas provisões, perderíamos essa guerra. Os quitenhos, aliás, não se incomodavam em matar de fome todos os súditos de Huáscar, contanto que acabassem igualmente conosco. A situação tornara-se, dessa forma, preocupante.
Assim, Pizarro mandou um grupo de setenta e cinco cavaleiros avançar rapidamente até o Vale de Jauja. Em suma, para evitar que os celeiros e as cidades fossem completamente arrasodas e incendiados pelos índios que se apossaram do lugar. Calcuchímac, amarrado, foi com eles.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa

Chacamarca

O primeiro centro inca de relativa importância ao qual chegamos foi Chacamarca, que nos reservou uma grata surpresa. Assim, deparamos com uma grande quantidade de ouro, parte do resgate que deveria ter sido pago por Atahualpa. Esse ouro não chegara a Cajamarca depois de sua execução e foi achada em uma casa em Chacamarca. Outra boa novidade foi igualmente encontrar comida. Ou seja, ao anoitecer pernis grelhados de lhamas, já nos esperavam, para alegria dos soldados esfomeados.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa

Nessa aldeia fomos alertados de que, poucas léguas adiante, os quitenhos estavam nos esperando. Assim, Iniciamos com mil precauções a subida de outra serra. Em suma, um caminho tão íngreme que fomos obrigados a descer dos cavalos. Preocupados, olhávamos para as montanhas em volta. Temíamos que a qualquer momento uma avalanche de rochas despencasse sobre nós. Era o que pensaríamos em fazer se estivéssemos no lugar do inimigo. Além disso, os cavalos, naquele trecho da estrada constituído por degraus, eram totalmente inúteis. Assim, mais atrapalhavam do que outra coisa. Fiz o sinal da cruz.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa
Estrada inca na montanha

Famintos de novo

Só nos tranquilizamos ao alcançar um trecho plano no alto da serra. Paramos, assim, para passar a noite. Infelizmente, porém, éramos um grupo a cavalo, sem índios carregadores. Não tínhamos, portanto provisões. Nada para comer, nem tendas para nos abrigar. Foi, portanto, outra noite horrível. Dessa forma, a ração de cada um limitou-se a uma espiga de milho. Para piorar nossa situação, começou a garoar. Demos graça a Deus quando amanheceu. Muitos, porém, tossiam e, apesar de abrigados com roupas tomadas dos tambos, os depósitos incas, tiritavam. Somente quando o sol nasceu a temperatura começou a subir e o humor de todos melhorou. Era outubro de 1533. O Vale de Jauja, onde ficava a cidade, iluminado pelo sol da manhã, era lindo.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa – tambo inca

Encurralados

Desconfiado, Pizarro mandou Almagro, Pedro de Candía e outros cavaleiros avançarem com cautela. Os índios huancas, que habitavam o vale, mostraram-se amistosos. Faziam, entretanto, gestos confusos e, apontando para a aldeia de Jauja, e, assim, sem querer nos confundiram. Ou seja, ninguém entendeu que estavam sinalizando para não entrar ali. Dessa forma, sem intérprete para avisá-los, os soldados ingressaram no povoado. Dessa forma, de repente, viram-se cercados por quitenhos.

Por sorte, um dos huancas correu em direção às tropas de Pizarro e pôde, por meio de José, contar o que estava sucedendo. Assim, um pelotão a cavalo, comandado pelo próprio Pizarro, partiu apressado para ajudar os espanhóis encurralados. Ao ver os cavalos aproximarem-se a galope os quitenhos fugiram em direção ao rio. Este era relativamente raso e puderam escapar para a outra margem.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa

A vingança

Soto, que, junto com Almagro, passara por maus bocados, quis, porém, se vingar e lançou-se em sua perseguição. Mais uma vez, no lugar de tentar nos acertar com as fundas enquanto lutávamos contra a correnteza, eles entretanto fugiram. Dessa forma, permitiram a Soto atingir a outra margem onde passou a persegui-los. Assim, em campo aberto, de novo levamos novamente vantagem. Poderiam ter ferido alguns de nós se tivessem tentado lutar. Não o fizeram, porém. Simplesmente debandaram, apavorados.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa

Matem esses filhos de uma puta, berrava Soto, raivoso, enquanto tentava abater tantos quantos fosse possível.
Ou seja, foi mais um massacre. Como, entretanto, eram, numerosos, uma parte dos inimigos conseguiu escapar rumo a Cusco. Iriam certamente se unir aos homens de Quisquis. Toda essa movimentação nos deixou, porém, exaustos. Eu acabara com dezenas de índios; meus companheiros, também. Matar cansa.

“O Ouro Maldito dos Incas” – Marcha penosa

Jauja: comida finalmente

Felizmente, em Jauja os soldados pudeam comer. Índias, assavam patos sobre um braseiro, junto com espigas de milho e batatas. Ao mesmo tempo, vasos de cerâmica com chicha esperavam os soldados. Na manhã seguinte fui designado com Pablo e Ortiz para fazer parte do pelotão comandado por Soto. Ou seja, este, tentaria alcançar os fugitivos. Em suma, precisávamos alcança-los antes que se juntassem aos guerreiros de Quisquis. Antes de partirmos ouvimos a notícia de que o jovem Inca, Túpac Hualppa, estava doente. Enquanto verificava a sela de meu cavalo, vi huancas chegarem com guerreiros quitenhos capturados nas redondezas. Em seguida, na frente de todos, eles os abateram a golpes de tacape. Hernando, que se aproximou com os cães, pediu que poupassem dois deles. Depois soltou os cachorros e observou, com ar satisfeito, os cães estraçalharem os infelizes.

Como um analfabeto no comando de menos de duzentos homens, com pouca ou nenhuma experiência militar, conseguiu dominar um império de doze milhões de pessoas ?

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Siga a continuação desta postagem: Calcuchímac

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