Uma pausa na ilha
Estava feito, a ilha era nossa, podíamos tranquilamente ficar à espera das tropas do Panamá que Almagro fora recrutar. Pizarro resolveu, dessa forma, dar uma pausa em nosso avanço por esse reino do Peru. Afinal, os guerreiros que sobreviveram fugiram. Embrenharam-se nos pântanos e florestas. Persegui-los era, portanto, complicado. Nem não valia a pena.
O sucesso da missão animou os homens. O vinho trazido pelo navio de Hernando de Soto e Poncé de León trouxe igualmente novo alento aos soldados. Ainda mais, seu irmão Hernando e outros companheiros tinham sido feridos. Assim, Pizarro resolveu esperar em Puná para que se recuperassem enquanto esperavámos as tropas do Panamá.
Em Puná conseguimos até mesmo cabanas confortáveis para nos instalarmos.
A fuga de Rioquelme
Infelizmente, tivemos mortes entre os nossos. Assim, alguns menos corajosos, se assustaram. Dessa forma, numa noite sem lua, o tesoureiro de Pizarro, Alonso de Riquelme, tentou escapar. Conhecido por não ser muito corajoso, embarcou discretamente em um dos navios que voltava ao Panamá. Sua deserção só foi descoberta horas depois. Pizarro ao saber da fuga imediatamente subiu em outra das naves, mais veloz, e partiu em sua perseguição, todas as velas enfunadas.
Trazendo o fugitivo de volta
Não era tanto a ausência do tesoureiro que o preocupava , mas sim o que o covarde contaria na corte espanhola. Provavelmente comentaria sobre as dificuldades enfrentadas por Francisco Pizarro. Mencionaria, igualmente, a morte de soldados em batalhas contra os índios. Relatos como esses poderiam, portanto, levar o vacilante Conselho das Índias a ordenar o fim da expedição. Em suma, tudo o que Pizarro temia. Muitas léguas mais ao norte, o Gobernador alcançou o fugitivo. Chamou-o de covarde, por pouco não o esmurrou. Depois o obrigou a entrar em sua caravela.
Murcho e envergonhado, o desertor tornou-se logo objeto de troça.
– O cagão está de volta! – diziam às suas costas.
O índio fujão
Outro que também fugiu, depois de roubar uma jangada e escapulir para o continente, foi Miguel. Pizarro, quando soube, respirou fundo umas três vezes, coçou a cabeça e me interrogou:
– O índio era útil? Você me disse que ele nem aprendeu espanhol direito.
Confirmei com um movimento de cabeça.
– Não fará, portanto, falta. José é, aliás, muito melhor.
Pizarro deu de ombros.
– Bem, não tem importância. aAinal, é uma boca a menos para alimentarmos
Aprendendo mais sobre os incas
À espera das tropas do Panmá: papos juntos da fogueira
Frequentemente, à noite, António Ortiz e eu conversávamos com José, em volta da fogueira, procurando obter mais informações. Afinal, o astuto Felipillo preferia ficar com Pizarro, passando-lhe informações a conta-gotas para valorizá-las. José, ao contrário, sempre nos contava tudo o que queríamos. Ou seja, bastava lhe perguntar. Aliás, sempre procurava ser exato nas respostas. À espera das tropas do Panmá aproveitei, assim, para saber mais sobre esse estranho país.
Um império com milhões de pessoas
Desse modo, entendi, antes de Pizarro, que iríamos nos deparar não apenas com um pequeno reino cheio de minas de metais preciosos. Em outras palavras, tínhamos diante de nós um império com milhões de pessoas. Ou seja, era uma grande cidade chamada Cusco, a capital do Império Inca. José garantia, aliás, que nos surpreenderíamos ao conhecê-la.
– A cidade é toda construída com pedras encaixadas.
– Grande como Nombre de Dios?
O índio me olhou, divertido.
– Nombre de Dios é uma aldeia. Não é nada.
As estradas incas: à espera das tropas do Panamá
Lembrei-me do istmo do Panamá entre a costa do Atlântico e a do Pacífico, cortado por uma trilha lamacenta. Perguntei-lhe se no reino do Peru as estradas não seriam igualmente ruins. José abaixou-se e jogou mais gravetos na fogueira:
– São de pedra, aliás, e muito melhores.
Sem saber se podia acreditar, perguntei:
– Para que servem estradas? Afinal, vocês não têm cavalos.
Lhamas e cavalos
Levantou-se, olhando para o fogo.
– Temos lhamas. Os animais que vocês chamam de cordeiros.
Eu já aprendera a palavra dias antes.
– Bem, mas não servem entretanto para montaria.
O índio calou-se um momento.
– Servem, enfim, para transportar coisas.
Lhamas puxam carroças?
– Não aguentam muito peso. Puxam carroças, pelo menos?
– Lhamas não servem para isso. Aliás, não temos nada parecido com uma carroça ou carro de boi, como vocês têm no Panamá. Aliás, para que, se não temos animais capazes de puxá-los nas escadarias de montanhas? Mas lhama, porém, a gente come e fornecessem boa lã… Vocês comem cavalo?
– Ocorre, mas não é muito o costume. Comemos bois…A vaca nem tanto. Afinal, a fêmea dá leite… Enfim, foi impossível explicar a um índio peruano o que era um boi, o que era leite ou queijo…
Siga o relato:
Como um analfabeto no comando de menos de duzentos homens, com pouca ou nenhuma experiência militar, conseguiu dominar um império de doze milhões de pessoas ?
Siga a continuação desta postagem: A traição de Chilimasa
*****
Você gosta de viajar? Então veja dicas preciosas e fotos dos principais destinos turísticos do mundo:
youtube.com/c/SonhosdeViagemBrasil
instagram.com/sonhosdeviagembrasil
facebook.com/sonhosdeviagembrasil
Temos, igualmente, neste blog o livro-a-vaca-na-estrada/, fartamente ilustrado. É o relato de uma viagem sabática, de carro de “Paris a Katmandu” com um amigo francês. Uma longa aventura por desertos e montanhas na Turquia, Irã, Afeganistão (antes do Talibã), Paquistão, Índia e Nepal.