Livro; O Ouro Maldito dos Incas

022 – Anno de 1532 – “O Ouro Maldito dos Incas” – Encontro com nossos medos

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“O Ouro Maldito dos Incas” – Encontro com nossos medos

Seguindo caminho ao encontro de nossos medos

Um pouco de conforto

Prosseguimos caminho ao encontro com nossos medos. Em Saña pudemos nos servir dos depósitos bem abastecidos de milho, batatas secas e roupas. Aproveitamos também para abandonar nossas vestimentas sujas e rasgadas e troca-las por novas. Afinal, já que não tínhamos como carregar muita coisa conosco. José, que conhecia a região, nos aconselhou, porém, a escolher roupas de lã de alpaca, quentes e macias.

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A serra estará gelada. As vestes e gorros de lã de alpaca, quentes, porém finos, poderão ser usados até mesmo sob as armaduras e os capacetes.
Tem certeza? Durante o dia faz calor.
– À noite estará mais frio do que o senhor pode imaginar.

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Encontro com nossos medos

Um curioso exército

Pernoitamos, assim, em Saña. No dia 8 de novembro, desta vez sob uma chuva fina, continuamos viagem, em dois grupos. Ou seja, uma tropa avançada, da qual fiz parte com Pablo, Álvaro de Toledo e Ortiz seguiu na frente. Éramos, dessa forma, quarenta cavaleiros e sessenta soldados a pé. Índios comandados por Pedro de Candia rebocavam nossa pequena artilharia. O grupo que partiria depois seria formado pelos soldados menos preparados, os escravos, os religiosos, a puta Juana Hernandez, as índias Nitaya e Ñusta e igualmente outras virgens do sol capturadas. No final da fila seguiam porcos e animais de carga. Um curioso exército.

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Encontro com nossos medos

Os planos de Pizarro

Ficamos apreensivos por não termos conosco todos os homens disponíveis. Pizarro, porém, nos explicou porque decidira levar somente seus melhores soldados. Ou seja, mesmo que fôssemos três vezes mais numerosos, não poderíamos enfrentar o exército de Atahualpa. Enfim, nossa única chance, portanto, era a de capturar o Inca vivo e mantê-lo refém para conter seus guerreiros. Em suma, mais ou menos a mesma tática utilizada igualmente por Cortez contra os astecas no México.

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Encontro com nossos medos

Cortez no México

Se pegarmos o homem, seus guerreiros ficarão desnorteado sem um chefe para lhes dar ordens.
Porém, capturar Atahualpa não era, entretanto, nada fácil. Em outras palavras, dependeria de como as coisas corressem. E, igualmente do cenário que nos aguardava, para podermos armar uma emboscada.
Um pensamento, porém, não nos saía da cabeça: éramos cem espanhois contra cinquenta mil índios. Eu era, portanto, um louco, acompanhado por outros noventa e nove. Uns pobres diabos, sem possses, cansados, esperando depois, com esse ouro e a graça de Deus mudar nossas vidas. Em suma, apenas a vitória seria a salvação, se essa fosse a Sua vontade.

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Os perigos da Trilha inca

Os perigos da estrada inca

Em certos momentos eu fechava os olhos e sentia o coração disparar. Então respirava fundo, dava uma leve esporada em meu cavalo e seguia em frente. Depois de muitas léguas pela estrada dos índios, a paisagem arenosa foi dando lugar a uma região mais pedregosa. Começávamos, assim, a subir a montanha. Embora o caminho inca fosse muito bem construído, com ajustes precisos entre cada pedra, ele, porém possuia trechos que eram uma verdadeira escadaria. Ainda mais, junto de abismos. Não se destinavam, portanto, a ser percorrido por cavalos. Em suma, o risco de um escorregão nos jogar no vazio era grande. Tivemos, portanto, que seguir a pé, devagar, segurando os animais pelo cabresto. Eu pensava: quanto tempo os incas trabalharam nessa estrada para realizar uma obra tão perfeita? Usando, aliás, apenas ferramentas de bonze?

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Ponte na Trilha Inca

Paisagem grandiosa

A paisagem era grandiosa e por vezes, aliás, me lembrava a Serra Nevada, junto de Granada, por onde eu viajarara com meu pai, quando adolescente. Eram, assim picos e mais picos brancos e imponentes, separados por ravinas profundas, escavadas entre os rochedos. Frequentemente, em certos lugares éramos obrigados a atravessar pontes de madeira e cabos, pendurados sobre abismos, que apavoravam homens e cavalos. Dessa forma, alguns atravessavam de gatinhas, agarrados nas tábuas do piso; outros, como eu mesmo, curvados, seguravam-se nas cordas. Sabíamos, aliás, que estávamos sujeitos a surpresas como de fato sucedeu. Ou seja, uma rajada de vento balançou inesperadamente a ponte e um soldado inesperadamente caiu no vazio. Seu grito assustador ficou gravado meu ouvido. Nós, de olhos arregalados, nada pudemos fazer. Apenas acompanhamos a queda do infeliz, que se espatifou contra as pedras no fundo da ribanceira.

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Enterro cristão?

Frei Vicente e outros padres começaram a rezar. O dominicano interpelou Pizarro:
Então…? Não podemos dar um enterro cristão a esse coitado?
O Gobernador olhou o corpo estirado sobre uma pedra, uma centena de pés abaixo:
– Padre, me perdoe. Sou homem temente a Deus. Mas, mandar outros soldados buscar o corpo fará com que tenhamos ao invés de um, vários homens sem direito a um enterro cristão.
Frei Vicente suspirou. Espiou o abismo mais uma vez, mas não insistiu. Afinal, Pizarro tinha razão. Em suma, aquele cadáver ficaria para os abutres. Lentamente, fez, assim, o sinal da cruz.
Deus tenha piedade de sua alma.
Amém, respondeu Pizarro, cabeça baixa.
Quiando o religioso se afastou, um mouro convertido cuspiu no chão e resmungou:
Por que, então, esse padre não desce para buscar o corpo?

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O frio da serra

No litoral, tínhamos sofrido com o calor e os mosquitos. Conforme subíamos a serra as temperaturas tornavam-se, porém, mais frescas, o que era, aliás um alento. Entretanto, continuando montanha acima, o frio começou a incomodar. Desse modo, léguas à frente, tiritávamos sob o vento gelado. Dei graças a Deus, portanto, por ter seguido o conselho de José. A maioria de nós, entretanto, sem agasalhos, espirrava sem parar, resfriando-se. Ortiz olhou par ao céu baixo, cinzento e pesado, como uma grossa manta de algodão escuro. Puxou, assim, o capuz que roubara no depósito inca e cobriu o rosto.

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Neve

Vai certamente nevar, disse ele. Estamos a bem mais de doze mil pé, eu acho.
Nunca vi neve.
Logo verá. Ergueu os olhos para as nuvens:
Vi núvens como essas na Inglaterra. Em suma, tempo de neve.
De fato, em menos de uma hora começaram a cair flocos leves como ciscos. Tocados pelo vento pareciam bailar no ar. Apanhei um; ele derreteu entre meus dedos. A nevasca aumentou, os flocos tornaram-se, assim, mais pesados e incômodos. O frio ficou insuportável, minhas mãos, sem luvas estavam roxas e geladas segurando a rédea do cavalo. Núvens de vapor saíam de nossas bocas e também das narinas dos equinos. Resumindo, eu não conseguia pensar em nada, a não ser chegar a um lugar aquecido, protegido do vento gelado da serra.

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O fortim

Numa curva do caminho deparamos inesperadamente com um fortim de pedra junto da trilha. Paramos, assim, a uma distância segura e trocamos olhares desanimados. Ou seja, seria impossível passar diante dela sem sermos flexados. Mas, a fortaleza estava silenciosa. Logo, após a surpresa inicial, ficamos quietos, encarando admirados a construção, tentando detectar indícios de vida sobre aqueles muros. Nenhum ruído, porém, vinha da fortaleza. Estaria vazia? Que mistérios nos aguardava? Pizarro fez, então, um sinal a Toledo e Ortiz. Disse-lhes para se aproximarem com cuidado da muralha. Ficamos observando, com as armas prontas para serem usadas, mesmo porque seria, aliás impossível dar meia volta. Afinal, se recuássemos desordenadamente, metade de nós cairía no abismo. Os cavalos escorregariam no chão nevado, transformado numa capa de gelo lisa e dura em razão do pisotear dos animais.

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O arcabuz

Meus dois companheiros, um com arcabuz e outro com uma besta armada, acercaram-se, dessa forma, da porta do forte. A tropa, igualmente, permaneceu atenta. Ou uma guanição inteira dormia em pleno dia, o que não fazia sentido, ou, então, uma armadilha esperava quem entrasse na fortaleza. Seus portões estavam, aliás, escancarados.

Que mistério era aquele?

Ortiz e Toledo entraram. Eu segurava as rédeas de meu cavalo com uma das mãos, enquanto, mantinha a outra na espada, pronto para alguma surpresa. Minutos se passaram, até que Ortiz, finalmente, apareceu junto à porta.
Está vazio!
Olhei para Pizarro. Com seu jeito calado olhava fixamente para o fortim e avaliava, assim, a situação.
Depois, fez-me um sinal com a cabeça:
Agora vão você e Pablo.
Sentímo-nos, porém, mais encorajados em razão dos apelos de Ortiz, que, gesticulando, nos convidava a avançar. Falei a Pablo para não descer de seu cavalo. Mandei-o, porém, segurar as rédeas do meu, desmontei e entrei no forte. Ortiz me chamou e, vendo meu ar preocupado, tranquilizou-me:
Não tem ninguém. É inacreditável, mas o lugar está completamente abandonado.

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Investigando a fortaleza

O pátio coberto de neve tinha, nas laterais, cômodos de pedra e teto de palha. No alto da muralha havia uma passarela de madeira, capaz de abrigar dezenas de guerreiros. Ou seja, permitia vigiar o caminho. O fortim fora erguido de forma rústica, mas, com pedras firmemente encaixadas um tantos ângulos quanto possível. Não seria fácil, portanto toma-lo sem artilharia pesada. Em outras palavras, as peças leves de Pedro de Candia sequer abalariam seus muros. Montei no cavalo e voltei para junto de Pizarro.

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Pedras encaixadas

Vazio mesmo, Gobernador.
Escutei-o murmurar baixinho consigo mesmo:
Que estranho…
Hernando de Soto, ao seu lado também concordou:
Não entendo esses índios. Na Espanha, um forte como esse, capaz de controlar toda uma estrada nunca ficaria assim, entregue às moscas.
Definitivamente, esses índios são loucos…

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Pernoite no forte

Logo anoiteceria. Pizarro nos deu, portanto, ordens de pernoitar no interior da fortaleza. Teve, porém, o cuidado de trancar seus portões. Deixou, igualmente dois homens de guarda no alto da muralha. Da mesma forma, mandou que outros três acompanhassem índios e negros que foram buscar água e lenha.
– Tragam o suficiente. Se formos situados, podemos morrer de sede como ratos.
Estremeci. Seria então esse o plano de Atahualpa? Ou seja, trancar-nos como passarinhos numa gaiola?

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O perigo de alguma surpresa

Olhei a montanha a pique acima de minha cabeça. Quando saíssemos da fortaleza, poderíamos, ser esmagados por uma avalanche de pedras provocada por alguém no topo da colina. Nosso humor só melhorou quando deparamos com uma cabana de pedra de telhado de palha. Pudemos, assim nos instalar num cômodo amplo forrado de peles e até mesmo acender uma fogueira para cozinhar espigas de milho e, assim, também nos aquecer. Depois ficamos conversando junto ao fogo, embalados por uma pequena quantidade de rum. Pizarro não queria ninguém embriagado na tropa, mas nos autorizou, porém, a tomar um trago para combater o frio.

0M 019 – Anno de 1532 – “O Ouro Maldito dos Incas”
Encontro com nossos medos

Cansados de só comer milho

O milho era o alimento de praticamente todas nossas refeições, ou seja, queríamos variar. Um soldado, olhando o fogo, disse mal-humorado:
Estou cansado de comer milho.
Eu também – resmungou outro. – Como seria bom termos um pedaço de pão de trigo!

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Milho, comida do dia a dia

Não reclamem – ralhou Pizarro. – Aliás, agradeçam à Virgem. Afinal, houve momentos em que não tínhamos nada para comer. Nem sequer uma espiga de milho.
Os cavalos foram mantidos selados. Igualmente, por ordem do Gobernador, cada um dormiu com suas armas à mão. Em suma, estávamos prontos para uma surpresa.

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Nitaya

Sentindo frio, coberto por uma manta, lamentei, não ter comigo Nitaya. Assim, pensei nela, no seu rosto de menina e nas suas atenções para comigo. Em suma, algo parecia mudar entre nós. Ela continuava tímida, mas, quando eu a procurava e a tomava em meus braços, me apertava contra si e gemia, prazerosa. Sorri ao pensar que, se a engravidasse, produziria portanto um dos primeiros cristãos a vir ao mundo nas terras do Peru. Que cara teria um filho meu mestiço? Imaginava Nitaya com a criança, amamentando-a.
Adormeci, porém, com certa dificuldade, preocupado com um eventual ataque dos índios na madrugada. Seriam eles tão decididos a ponto de nos atacarem à noite, sob a neve, no frio horrível que fazia?

Uma noite inesquecível

As forças de Atahualpa investiram aos milhares. Não pudemos, portanto, resistir.
Dessa forma, Pablo e eu fomos capturados e mantidos numa sala separada. Quando nos levaram para o pátio, vimos os corpos de nossos companheiros, entre eles, os de Pizarro, Soto, Gonzalo e Hernando, como uma massa vermelha sanguinolenta. Suas camisas balançavam ao vento. Lembrei-me, assim, dos corpos recheados com palha que vira expostos em postes junto da estrada. Em um canto, outros espanhóis eram pisoteados por gigantescas lhamas, grandes como eu nunca vira. Descobri, então, que essas lhamas comiam carne humana…

As torturas de Atahualpa: encontro com nossos medos

Pablo gritava como um porco. Quando o vi, gordo e baixinho, com toda certeza, me pareceu de fato um desses animais, com os olhos faiscando de medo. O curaca discutia agora com outro índio. Era Atahualpa. Eu nunca o vira, porém sabia: era o Inca.
Atahuapla era criativo quando se tratava de tortura. Podia, por exemplo jogar o condenado num buraco com cobras, aranhas, escorpiões ou com um puma, mandar picar a vítima viva com um punhal, etc. Ou, ainda, arrancar sua pele ainda vivo.

A faca de sacrifícios

Em suma, sempre uma morte horrível. Posteriormente, fomos arrastados para outra sala de pedra de teto baixo, onde tudo era cinza, exceto o sangue, de um vermelho vivo e brilhante, espalhado pelo chão. Através da janela eu via um pedaço de céu de um azul intenso. No meio do cômodo, havia um tabuleiro de madeira com buracos dos quais saíam presilhas de couro. Um curaca de olhos pequenos e cruéis, parecido, aliás, com o chefe de uma das aldeias por onde passamos, se aproximou. Tinha uma curiosa faca de pedra nas mãos. Era com ela, aliás, que realizavam sacrifícios. Outros índios, enfeitados com penas rubras, nos amarraram nas pranchas de madeira.

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Os tambores de pele humana

Junto a ele havia duas armações de tambores. Atahualpa disse ao curaca que eu seria o tambor oval; o redondo seria feito com a pele de Pablo. Começaram, assim, por ele. Quando um dos índios iniciou um corte a partir de sua cabeça, meu primo gritou. Novamente me pareceu um porco negro, como um que eu vira uma vez ser morto na Espanha. Fechei os olhos e assim permanecei por muito tempo, enquanto ouvia os berros de Pablo. Quando finalmente os abri, sua pele já estava esticada numa parede. Reconheci seu contorno.
O quarto estava enevoado por uma estranha fumaça azulada. Atahualpa apontou para mim. Senti que chegara finalmente a minha vez. Tentei convencê-lo. Eu poderia, assim, convertê-lo ao cristianismo, salvá-lo do inferno – e salvar-me também. Ele, porém, gritou, mandando que me calasse. Tinha olhos vermelhos. Aliás, suas feições eram igualmente semelhantes a uma representação do demônio que eu vira quando criança. Os índios me seguraram e começaram o corte.

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Encontro com nossos medos. Eu não!

Berrei.
Eu não! Eu não!
Foi quando, então, abri os olhos no escuro. Pablo e outro espanhol me sacudiam.
O que passa, homem?
Eu suava frio. Passei, assim, a mão pela testa, depois pelos cabelos molhados.
Tive um pesadelo… falei envergonhado.
Eu tremia. Senti vergonha. Dei graças a Deus por estar escuro. Consegui me levantar.
Aonde vai? – perguntou meu primo.
Mijar.
Saí para o pátio. O céu agora estava límpido. Mijei num canto, olhei para a lua cheia que acabava de nascer. Mas, dessa vez tive medo de perguntar se Deus estava comigo.

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Não queria arriscar o que já conseguira Dele. Apenas ajoelhei-me e, num canto seco e protegido, rezei para Nossa Senhora, pedindo proteção. Levantei-me mais calmo e, reconfortado, pude, enfim, ir dormir, enquanto escutava o zumbido do vento. No dia seguinte não comentei nada com ninguém. Assim, quando Pablo me perguntou sobre o pesadelo, desconversei.
Não lembro.

Uma segunda fortaleza

Uma segunda fortaleza, maior do que aquela onde passáramos a noite, também capaz de impedir que continuássemos rumo a Cajamarca, nos esperava mais adiante. As grandes pedras eram igualmente bem talhadas e assentadas sem uso de cimento ou de argamassa. Pareciam ser tão pesadas que nos perguntarmos, aliás, como puderam ser deslocadas para aquele lugar.

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Que diabo de povo é esse, capaz de proezas assim?
Ortiz cavalgava ao meu lado.
Esses índios, certamente, nos esperam em algum lugar à frente.
Esse fortim também estava vazio. Perto dali existia um povoado parcialmente abandonado. Pizarro, porém, tendo visto sinais de vida no lugarejo, mandou Soto investigar. Logo os soldados chegaram com nativos capturados.

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E as intenções de Atahualpa?

Perguntados sobre as intenções de Atahualpa, os índios insistiam, entretanto, que o Inca desejava a paz conosco. Todos falaram, portanto, a mesma coisa, com as mesmas palavras e no mesmo tom. Em suma, de forma tão suspeita que acreditamos terem recebido instruções para, se interrogados, responderem daquele modo.
Esquisito esses fortes vazios. Para onde foram os guerreiros dessas duas fortalezas? – murmurou o Gobernador.
Esses filhos da puta devem estar nos preparando uma surpresa… balbuciou Juan Pizarro.
Preferimos ficar na aldeia. Pelo menos tinham comida. Tinham medo de nós. Obedeceram, portanto, quando mandamos que matassem e assassem uma lhama.

Os embaixadores de Atahualpa

Ao anoitecer, um índio enviado pelo curaca de Cinto, aquele que dias antes fora ao encontro de Atahualpa a pedido de Pizarro, chegara com a notícia de que embaixadores enviados pelo Inca estavam a caminho.
Melhor embaixadores do que guerreiros – comentou meu primo com voz esperançosa.
Passamos a noite seguinte na fortaleza, envoltos em nossas mantas de lã de alpaca. Parara, finalmente, de nevar, mas ainda assim o frio dos diabos nos fazia bater os dentes. Fomos acordados antes do nascer do dia.

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Comam e prepararem-se para partir, disse Pizarro, decidido, assim, a avançar rapidamente montanha acima ao encontro dos embaixadores de Atahualpa.
Não tínhamos como calcular a altitude, mas desconfiamos estar a mais ou menos treze mil pés. Como o frio da manhã era intenso, o melhor a fazer era, portanto, continuar caminho para nos aquecer. Pudemos, assim, alcançar uma parte plana no alto da serra, onde logo montamos nosso acampamento.

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Enfrentando o frio

Acendemos, igualmente, grandes fogueiras, juntando-nos em torno delas.
A água era tão gelada que era difícil bebê-la. Ou seja, o frio parecia vir de dentro, porque éramos obrigados a beber sempre água gelada. Alguém deu, porém, a ideia de esquentá-la num pote junto à fogueira. Logo, dois soldados sugeriram colocar no vasilhame de barro um pouco do licor de milho conseguido pelos índios.

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Adicionamos também um pouco de rum que Pizarro nos disponibilizara. A bebida, que aquecemos ligeiramente, tinha um sabor meio diferente, mas não desagradável. Enfim, aquecida, teve, porém, efeito mágico sobre nós: nos aqueceu. Eu vestira, aliás, várias roupas de lã sob a armadura peitoral. Depois, me sentindo um tanto ridiculo vesti igualmente um poncho sobre a armadura…

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Siga a continuação desta postagem: Jogo de Xadrês

Como um analfabeto no comando de menos de duzentos homens, com pouca ou nenhuma experiência militar, conseguiu dominar um império de doze milhões de pessoas ?

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