Sempre considerei o Peru o país mais fascinante da América Latina. Sou, portanto ligadão em arqueologia. Assim, já visitara no México e na Guatemala, sítios pré-colombianos admiráveis. Confesso, entretanto que, nunca na minha vida deparei com tanta riqueza arqueológica, com tanta variedade. E, ainda mais, paisagens incomuns, que, até hoje me deixa sem fala.
Peru, um país diversificado
Assim também, o povo peruano é cultural e etnicamente muito diverso. Nas regiões andinas mais afastada dos grandes centros, as línguas faladas entre eles é o quéchua e o aymara. As vestimentas são igualmente as mais diversas. Simplificando muito: a cultura do Altiplano é uma, a de Lima é outra.
Vargas Llosa
Durante toda nossa viagem desde a Terra do Fogo, de busão, fomos lendo escritores latino-americanos. Um dos nossos favoritos é o peruano Vargas Llosa. Porém, Llosa é um limeño blanquito, homem de cultura europeia cosmopolita. Assim, ao conhecer a região andina do Peru me perguntei como seria um quéchua, um aymara, com as qualidades de Vargas Llosa escrevendo um livro. Mesmo que fosse um romance, tendo como pano de fundo sua cultura.
Chegando ao Lago Titicaca
Por volta das onze e meia da noite depois de rodar umas seis horas desde la Paz, fomos, junto com outros passageiros, “despejados” na rua em frente à rodoviária de Puno, a cidade em frente ao Lago Titicaca. Ou seja, o ônibus nem entrou no terminal, porque estava seguindo para Cusco. Essa companhia é boa. Há, porém, uma outra empresa, de nome bem parecido, a Trans del Sur (não confunda! ) bem ruinzinha. Numa viagem entre Sucre e La Paz, tivemos uma experiência péssima. O banheiro devia estar quebrado e fecharam a porta com uma corda. Assim, numa única parada, em uma viagem de noturna de oito horas, todo mundo teve que urinar no mato sob uma temperatura de 3 graus.
Conosco, ao desembarcar em Puno, estava uma inglesa, um tanto perdida, sem saber onde encontrar hotel na cidade deserta. Tínhamos hotel reservado e ela veio conosco. Er ainda começo de estação. Era, portanto, provável que tivessem um quarto livre.
Como ir até o Lago Titicaca
É possível ir a Puno via Lima, e tomar um vôo para Juliaca a uns 40m de Puno.
Sempre, entretanto, preferi visitar o LagoTiticaca indo a Puno, via La Paz, naBolívia. É muito mais perto, a passagem é, portanto, mais barata. Assim também, lhe permite conhecer o sítio arqueológico de Tiwanaco e a cidade de Copacabana, ainda em território boliviano e, igualmente, as ilhas do Sol e da Lua em frente a cidade. Dessa forma, você pode tomar um ônibus de La Paz a Copacabana e outro para Puno. A viagem se torna, portanto, menos cansativa.
Batismo dos carros em Copacabana, na Bolívia junto do Lago Titicaca
Antes de mais nada, uma rápida curiosidade sobre Copacabana: é um centro religioso. Bolivianos de todo o país levam seus carros e caminhões para serem benzidos por um padre em frente a catedral. A bênção dos veículos virou atração turística. Aliás, visto o modo como os bolivianos guiam é melhor mesmo uma proteção divina adicional……
Hotel, onde se hospedar em Puno
Só raramente dedicamos especial atenção a hotéis. Tem que valer muito a pena. Esse, porém, foi uma das melhores relações preço-qualidade em toda nossa viagem pela América do Sul. Dessa forma, pegamos uma suite enorme, bem mobiliada, com sala de TV com sofá. Assim também, tinham salão onde podíamos esquentar nossa comida.
Chazinho de coca e balão de oxigênio
Estávamos a quase 4.000 metros de altitude. Dessa forma, já tinham na recepção, chá de coca numa térmica e, acreditem, um balãozinho de oxigênio!
Estávamos no começo da alta temporada, mesmo assim pagamos muito pouco por esse conforto todo: dezoito dólares apenas. Esse preço incluía um copioso café da manhã. O nome do hotel é “Suítes Antonios“. Recomendamos.
Foi realmente bom ter ficado nesse hotel super confortável. Afinal, pegamos uma virose brava na Bolivia e já chegamos a Puno adoentados. No dia seguinte nem conseguimos levantar da cama. Passamos, assim, três dias sofridos, inesquecíveis, sem forças, tomando antibióticos.
O Titicaca, para quem cabulou aquela aulinha de Geografia
O lago entre o Peru (56%) e a Bolívia (44%), no Altiplano Andino, a pouco menos de 4000 m snm é o maior lago de altitude do planeta. Ou seja, tem quase duzentos quilômetros de comprimento e uma largura de oitenta quilômetros. Há áreas próximas às margens relativamente rasas, perto das ilhas flutuantes, por exemplo. A profundidade média, entretanto, é muito maior, quase 110 metros. Há lugares, porém, bem mais fundos: em torno de 330 metros.
Um lago sofre bastante insolação em sua superfície, por isso mesmo precisa ter fonte de alimentação. É o que mais tem no Lago Titicaca: é alimentado por uns vinte cinco rios, riachos e córregos de origem glacial.
As ilhas do Lago Titicaca
O Lago Titicaca é tão grande que você não vê a outra margem. Titicaca abriga, assim, mais de quarenta ilhas, quase todas do lado peruano! Algumas delas, bem grandinhas, são habitadas por comunidades aymaras. É o caso de Taquile, uma ilha comprida, com um quilômetro de largura por sete quilômetros de extensão, e Amantani, que tem uns cinco quilômetros e meio de comprimento.
Essas ilhas abrigam igualmente, uma comunidade preservada, um rico artesanato, com belos tecidos produzidos em teares manuais.
Desde já, é bom avisar. Não há sequer hotel nessas ilhas. Assim, os poucos turistas que passam um ou dois dias por lá ficam alojados em quartos alugados pelos habitantes. Hoje as agências de turismo já providenciam tudo.
Curiosidades sobre a navegação no Titicaca
As embarcações usadas até algumas décadas atrás pelos habitantes do lago eram construídos igualmente com esse junco, a totora.
Uma curiosidade: uma grande balsa feita de totora, o Kon-Tiki, comandada pelo norueguês Thor Heyerdahi, fez uma travessia de milhares de quilômetros entre o Peru e a Polinésia em 1947. Ele provou assim, que houve no passado contatos entre os polinésios e a América do Sul.
Na segunda metade do século XIX, as ligações com a Bolívia eram feitas de barco pelo Lago Titicaca. Obviamente essas frágeis embarcações de totora não serviam para o transporte pesado de carga e passageiros. A solução encontrada deixa qualquer um de boca aberta. Ou seja, os peruanos compraram na Inglaterra dois naviozinhos de ferro, a vapor, com mais de 30 metros de comprimento, com cabines, restaurante etc.
Barcos trazidos da Inglaterra desmontados
Parece inacreditável, mas as duas embarcações foram reduzidas a peças numeradas e levadas até o porto de Arica no Pacífico. Depois foram transportadas de trem e em seguida em lombo de mulas através dos Andes até Puno, onde foram cuidadosamente reunidas e remontadas. No transporte foram utilizadas igualmente lhamas. Esses animais, porém, não aguentam muito peso. Se sobrecarregadas, simplesmente sentam-se imóveis. Se forçadas a se levantar cospem nas pessoas…
Barcos que viraram atração turística
Hoje esses navios viraram atrações turísticas. Achei bem interessante a visita a uma embarcação do século XIX. Ambos estão em condições de navegabilidade. Há outros navios ancorados nas proximidades de Puno, alguns ainda maiores. Você vai se surpreender ao conhecer-los.
As ilhas flutuantes dos uros
Visitei as ilhas flutuantes algumas vezes. Apesar de transformadas em atrações turísticas, há cada vez com menos habitações de tradicionais totora. Assim, foram substituídas por paredes de madeira e teto de zinco. É uma pena. Conservaram apenas umas duas ilhas com duas dezenas de habitantes com trajes típicos para entreter os turistas. Os barcos foram igualmente substituídos por pequenas lanchas de fibra de vidro ou alumínio e motorizadas. Há, todavia, barcos de totora, porém, construídos apenas para levar turistas darem uma voltinha no lago.
Fim dos uros
Na verdade essa população atualmente é formada por aymaras e não uros. O último uro de verdade morreu no final da década de 1950. O nome “ilhas flutuantes dos Uros”, porém, ficou. Mesmo assim recomendamos a visita. Dessa forma, pelo menos sabermos como era a vida da população nativa dessas ilhas no passado.
Como as ilhas são construídas
Essas ilha são construída com totora seca entrelaçadas camadas sobre camadas, alcançando até 7 metros de profundidade. Com o tempo mais camadas camadas de totora vão sendo acrecentadas. Alguns tocam o fundo do lago. As casinhas, igualmente de totora, paredes e tetos são pequenas, não tem água encanada, nem esgoto. O toalete é, portanto, uma pontinha da ilha destinada a esse fim. À noite são igualmente úmidas e geladas.
Por isso mesmo os aymaras estão se fixando cada vez mais na cidade de Puno, onde acabam arrumando trabalho e indo morar.
De que vivem os habitantes das ilhas flutuantes
Hoje, sem sombra de dúvida, o turismo é a atividade principal dos ilhéus. Plantam, entretanto, batatas em pequenas hortas nas ilhas (trazem terra do continente para esse fim), caçam patos, procuram por ovos de aves aquáticas, pescam. Aliás, o próprio talo da totora é comestível. Já provei. Tem aproximadamente o gosto e a consistência do xuxu, ou seja, gosto de nada.
Para visitar as ilhas de Amantaní e Taquile
Boa parte das agências propõe passeios de dois dias às ilhas. Ou seja, um bate-e-volta é cansativo. Assim, vieram nos buscar em nosso hotel numa van onde já havia outros turistas.
Na volta a mesma van leva todo mundo de volta ao seu hotel. Você, porém, não é obrigado a voltar para seu hotel. Nós, por exemplo, fomos dar uma volta pelo centro.
Se for visitar ilhas de Amantani e Taquile pode vale a pena trazer protetor solar, um suco, algo para comer. Nesse caso você dormirá numa das ilhas. Taquile tem uma estrutura um pouco melhor do que Amantani. As ruínas pré-colombianas dessas ilhas são de interesse apenas relativo. Assim, há outras muito mais espetaculares no Valle sagrado, ao lado de Cusco, sem falar em Machu Picchu que é simplesmente espetacular.
E Puno?
Puno, fundada em 1688, é principalmente uma base para quem quer conhecer o lago Titicaca, que é realmente o que interessa. Puno, entretanto, com suas ruazinhas com boa parte das construções em adobe tem poucas atrações. Não se compara, portanto, com Cusco ou Arequipa, por exemplo.
Vale a pena, porém, dar uma olhada na catedral, na Plaza de Armas e na Jirón Lima, a principal artéria comercial. É na Jirón Lima que você encontra casas de câmbio, agências de viagem, restaurantes, barzinhos, lojinhas de souvenires e vários tipos de comércio. Logo, procure, se possível, se hospedar nessa região da cidade, onde tem tudo.
La Diablada
Se por acaso você estiver em Puno na primeira semana de fevereiro há uma festa tradicional conhecida como Diablada, com todo mundo fantasiado participando de desfiles. Isso vale a pena assistir.
Infelizmente, fevereiro, como janeiro, é estação das chuvas e isso prejudica um pouco passeios ao ar livre. Os melhores meses para visitar Puno são os mesmos do resto do Altiplano: primavera (final de setembro a meados dezembro) e outono (final de março, abril, maio e junho).
Arredores de Puno: Sillustani
A uns 34 km de Puno existe um sítio arqueológico pré-incaico, ou seja, é, anterior aos incas. Trata-se de torres que serviam de cemitério para os índios collas. É possível pegar uma excursão em Puno em uma agência de turismo, ou ir por conta própria, tomando um táxi, como nós fizemos. Só vale a pena lembrar que pra chegar ao sítio arqueológico tem uma subidinha bem cansativa. Ou seja, a quatro mil metros é preciso cuidado.
Sillustani é uma elevação com uma visa privilegiada do Lago Titicaca. Essa subidinha, porém, é longa e brava, exige esforço físico. Ora, a quase 4.000 metros é mais do que recomendável ir devagar. Ou seja, bem devagar! Talvez Ketty e eu tenhamos exagerado um pouco e tivemos assim uma dor de cabeça inesquecível, de enlouquecer. Chegamos a tomar uns 3 comprimidos de anador cada um e a dor do soroche (o mal de atitude ) porém não passava. Enfim, pelo menos, dessa forma dormimos e acordamos horas depois, já nos sentindo melhor.
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