Entrando em Cusco
Finalmente, Cusco, a capital do império inca! Achamos engraçadas as expressões desconfiadas dos índios, parados junto às portas de suas casas. Afinal, nos olhavam passar, sem entender, porém, nada sobre o que estava acontecendo. Ou seja, apenas os curacas e talvez, igualmente, alguns nobres sabiam que Atahualpa estava nas mãos dos espanhois. A maioria da população, porém, devia ignorar os acontecimentos em Cajamarca e da prisão de Atahualpa.
Os nativos de Cusco nunca tinham visto um cavalo e, assim, logo corriam para dentro, assustados, quando um dos animais relinchava. Até os sacerdotes incas que nos acompanhavam, que, durante a viagem, já tinham se acostumado com os bichos, riam. Também era estranhíssimo para o povo de Cusco ver um ser humano sobre o animal. Afinal, suas lhamas, não serviam de montaria, e nem aguentavam, aliás, o peso de um homem..
Os curacas nos esperam na capital do Império Inca
Os curacas, comandados por um índio chamado Quisquis, o lugar-tenente de Atahualpa, tinham, assim, sido avisados de nossa chegada. Em suma, nos esperavam na praça central. Receberam-nos, portanto, solenemente, enquanto nós três encarávamos tudo deslumbrados. Sentíamo-nos, aliás, importantes. Como falavam muito depressa, entendi, porém, pouco da conversação entre os sacerdotes e os curacas. Percebi, entretanto, que tinham ficado chocados com o fato de muitos adornos de diversos templos terem sido arrancados de seus locais de culto e transferidos para Cajamarca.
O Acclahuasi
Ou seja, consideravam aquilo um sacrilégio. Vi, porém, que todos se calaram, obedientes quando um dos sacerdotes que nos acompanhara dirigiu-se a eles com severidade, ainda mais, invocando o nome de Atahualpa.
A meu pedido fomos, assim, conduzidos até o Acllahuasi, o recinto das Virgens do Sol. Era, aliás, onde queríamos nos hospedar. Os curacas hesitaram. Afinal, meu pedido parecia, assim, uma heresia. Mas, as ordens de Atahualpa eram para que atendesse às nossas solicitações, sem discutir. Pela cara dos curaca, vi, porém, que estavam estupefatos. José e os africanos, igualmente, ficaram hospedados ali. Generosos, lhes avisamos que também podiam se servir das virgens. Afinal eram muitas e bonitas!
As moças, as acclas, estavam, entretanto, um pouco assustadas. Ou seja, já sabiam o que iria se passar. Assim, à noite meu primo, Carlos e eu escolhemos, assim, duas índias mais bonitinhas, de origem nobre, as mais bonitas, aliás. José, entretanto, sentiu-se constrangido e ficou com apenas uma das moças. Os escravos africanos ficaram, porém, bem à vontade. Rimos quando agarraram duas índias para si. As meninas, entretanto, ficaram de olhos esbugalhados. Ou seja, por estarem diante de pessoas tão escuras. Afinal, nunca antes viram um negro.
As magníficas peças de ouro incas
Só no dia seguinte nos conduziram a locais onde havia peças de ouro de todos os tamanhos. Logo ao entrar em uma das sala ficamos espantados. Ou seja, nenhum de nós tinha visto tanto ouro junto! Fomos, dessa forma, separando, assim, uma grande quantidade do metal dourado e de pedras preciosas. Precisamos, igualmente, recrutar mais carregadores em Cusco.
Achamos também peças pequenas de puro ouro. Ou seja, miniaturas de fortalezas, de frutas e de animais, como lhamas, por exemplo. Separamos algumas para nós, bem como várias pedras preciosas. Deixei que mesmo os escravos negros e José ficassem com algumas.Deparamos também com as famosas pedras verdes, que eu saia serem esmeralda. Pablo e Carlos, porém, queriam testá-las para ver se não quebravam quando golpeadas com uma pesada peça de bronze
– Não! – gritei. – São esmeraldas!
– Como sabe?
Contei-lhe do religioso que sabia reconhecer as pedras. Levara, portanto, várias delas para o Panamá, onde morrera.
– Então, naquela vez eu arrebentei pedras verdadeiras?
Confirmei com um movimento de cabeça. Pablo quase chorou.
– Essas pedras deviam valer uma fortuna! Eu estive com dezenas delas nas mãos!
Tem ouro para todos na capital do Império Inca
Dei-lhe um tapinha no ombro.
– Não tem importância, primo. Viu quanto ouro estamos recolhendo?
Estávamos sozinhos diante de uma grande pilha de vasos e objetos de ouro maciço. Nossos olhos brilhavam. Finalmente, o ouro com o qual tanto sonhamos!
Pablo e Carlos olharam em volta. José e os negros estavam por perto. Assim, separavam umas peças menores para si. Separamos, igualmente, joias e enfeites miúdos para nós três, colocando-os em bolsas de couro. Nossos olhos cresciam diante de tanta riqueza. Eram tantas,aliás que, Pizarro nem perceberia se desviássemos algumas. Ou mesmo, nem daria muita importância, se não exagerássemos.
Estamos ricos, homem!
– Vamos pegar também alguma dessas peças maiores? propôs Carlos.
– Não… Vai chamar a atenção. Esses índios têm tudo registrado nesses cordõezinhos que chamam de quipús. – As peças menores, em suma, podemos dizer que foram perdidas na viagem. Porém, se sumirmos com muitas, Pizarro vai querer investigar. Talvez alguns desses nobres capturados saibam ler os quipús e tenham algum tipo de controle sobre seu ouro. Vai saber! Além disso, Pizarro nos prometeu igualmente, uma gorda recompensa em castelhanos de ouro se aceitássemos a missão.
– Estamos ricos, homem!
O resto do tempo, quando não estávamos com as índias, visitávamos assim alguns templos. Os sacerdotes, talvez para evitar que arrumássemos confusão, nos acompanhavam. O principal dos locais de culto, chamado de Coricancha, era enorme. Ou seja, construído com pedras escuras, media uns 400 passos de circunferência. Suas paredes eram enfeitadas também por frisos feitos com grossas lâminas de ouro, que tratamos logo de mandar arrancar.
Coricancha
O que novamente me impressionou foi, igualmente, a qualidade da parede de Corichancha. Tirei, assim, minha faca e tentei passá-la entre os vãos dos blocos de granito. Não consegui, entretanto, fazê-lo!
Dentro do recinto do templo havia quatro construções. Na maior ficava uma representação do deus-sol. No jardim havia também variadas reproduções em ouro maciço sobre diversos temas. Outras peças eram máscaras com imagens pagã. Essas, aliás, que seriam levadas a Cajarmaca, seriam derretidas a mando dos religiosos.
Ficamos impressionados, por exemplo, com uma plantação de milho em tamanho natural, em ouro, com suas folhas e espigas Tudo, em suma, trabalhado no metal precioso.
Carlos aproximou-se examinando as esculturas de perto:
– É ouro! É ouro! Olhem, cada grão, cada folha! – Comentava, boca aberta, olhando para mim, do mesmo modo, deslumbrado com a qualidade do trabalho.
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O jardim de ouro
Naquele jardim havia lhamas também inteiramente de ouro em tamanho natural. E, ainda mais, com seus filhotes e com os pastores que cuidavam delas!
– Mandamos arrancar e fundir? – perguntou meu primo.
Não sou homem que entende de arte nem de valorizar muito ídolos e estatuetas pagãs. Mas, ao olhar para as espigas e as lhamas tão perfeitas, não tive, entretanto, coragem de mandar fundi-las. Eram belas; seria melhor, portanto conservá-las para que outros pudessem apreciá-las.
– Vamos deixar Pizarro decidir o que fazer com essas peças desconversei. Afinal, ele é o chefe.
Já tínhamos, entretanto, mais do que poderíamos transportar e precisávamos, portanto de mais índios carregadores para nos ajudar.
Siga o relato:
Como um analfabeto no comando de menos de duzentos homens, com pouca ou nenhuma experiência militar, conseguiu dominar um império de doze milhões de pessoas ?
Siga a continuação desta postagem: Os costumes incas
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