Livro; O Ouro Maldito dos Incas

010 – Anno de 1527- “O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

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“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

Pizarro volta da Espanha

Um dia me avisaram logo pela manhã sobre o regresso de Pizarro. Já estávamos impacientes com a demora. Enfim, o comandante havia chegado! Almagro, que se apressara em recebê-lo, mandou recado para que eu fosse ao porto com José, o que tratei de fazer.
O comandante estava em plena forma e, embora continuasse esguio, engordara um pouco. Tinha igualmente uma postura mais segura e altiva.
Em pouco tempo, notícias e boatos espalharam-se pela colônia: Carlos V o autorizara a iniciar a conquista do Pirú em nome da Coroa.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

El Gobernador

Ele já era, aliás, chamado de El Gobernador. Gobernador do quê? Até então, de nada. Em suma, seria Gobernador das terras que conseguisse conquistas no Mar do Sul.
Ao tomar vinho nas tabernas do cais com marinheiros que o acompanharam, escutei as mais diferentes versões sobre sua permanência na Espanha.

“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

Ao que parece, o governador das terras a serem conquistadas, o homem que tanto ampliou o império espanhol e enriqueceu o reino de Carlos V, foi preso por dívidas, mal desembarcou na Espanha. Foi solto, porém, quando se espalhou a notícia de suas descobertas e da possível riqueza das terras que havia visitado. Com esses trunfos, e tendo consigo peças de ouro, apresentou-se assim em Madri.

“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro
Pizarro convence Carlos V

Pizarro convence a corte espanhola

Quase sempre taciturno, Pizarro estava, porém, em um dia particularmente inspirado quando se dirigiu à Carlos V na corte espanhola. Assim, falou de suas expedições, dos momentos difíceis que ele e seus homens passaram, dos dias de fome. Relatou os sofrimentos que suportamos, contou sobre as doenças que nos deixavam fracos a ponto de não conseguirmos ficar em pé.

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Carlos V, rei da Espanha

Discorreu igualmente sobre os ataques dos índios e até sobre os infernais mosquitos. Representou tão bem esta última parte que alguns nobres esboçaram sorrisos. Como prova do que dizia, mostrou também finas joias de ouro usadas pelos índios. Esse foi o mais precioso de seus argumentos, no meu entender. Pizarro, ainda mais trouxe do Peru e exibiu na corte espanhoa alguns desses cordeiros de pescoço comprido. Os bichos que os índios chamam de lhamas.

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Lhamas na corte

Pensei nesses estranhos animais sendo apresentados à corte, causando estupefação nos presentes. Deve ter sido uma cena muito divertida! Meu primo, aliás, não perdeu a chance de um gracejo.
– Imagine um bicho desses mijando num tapete do rei…
Pizarro mostrou à corte o retrato de Tumbes feito por Pedro de Candía: uma cidade de pedra, com castelos e torres. Com o desenho, ele assim acabou por convencer os cortesãos. Empolgado, disse que a Espanha poderia se tornar maior e mais rica. Levar a fé cristã, a palavra da Bíblia e a civilização aos selvagens só engrandeceria, portanto, o rei espanhol aos olhos de Deus.

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O sucesso da conquista do México

A verdade é que Pizarro foi hábil, mas também deu sorte.
Dizem que Cortez, o conquistador do México, estava presente e o teria apoiado. Eram, aliás, segundo se comentava, primos distantes e já se conheciam desde os tempos em que ambos permaneceram em São Domingos. Se tanto ouro fora encontrado no México, por que o metal precioso não seria igualmente abundante nas costas do Mar do Sul? A corte acabou convencida e aprovou uma nova expedição.

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Os detalhes, porém, seriam discutidos com o Conselho das Índias, que tratava dos assuntos relacionados às colônias. Em troca do apoio real e das honras recebidas, Pizarro assinou a Capitulación. Tratava-se de um acordo no qual ele assumia perante o Conselho a tarefa de pacificar e integrar ao império espanhol as terras descobertas. Devia, ainda mais, colaborar, com a Igreja para a evangelização dos indígenas. Era igualmente sua obrigação equipar navios, recrutar marinheiros e organizar todos os detalhes da expedição. Em suma, a Coroa, na prática, não ajudaria muito.

Os conselhos de Cortez

Um dos nossos que o acompanharam à Espanha afirmou que Cortez teria dado bons conselhos a Pizarro, desde táticas militares até como lidar com os índios. Afinal, os reinos índios no México e no Peru tinham muitos pontos em comum. Afinal, ambos eram formados por povos conquistados pelos astecas no México e pelos incas no Peru. As tribos dominadas poderiam, portanto, facilmente passar para nosso lado.

“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

Faça alianças – teria dito Cortez, mas só cumpra o combinado quando for vantajoso.
O sucesso de Corte no México deveu-se ao fato de capturarem Montezuma de surpresa e fazê-lo refém. Teoricamente governava, mas controlado pelos espanhois. Sem dúvida, as práticas de Corte no Império Asteca inspiraram Pizarro pretendia fazer nas terras incas.
Correu entre os soldados o boato de que Cortez teria inclusive emprestado dinheiro a Pizarro. Mas, havia quem dissesse que Cortez não o ajudara em nada, nem lhe dera nenhum conselho. Muitos detalhes sobre o que ocorreu com Pizarro na Espanha se baseavam em ouvir falar. Cada um queria se gabar de saber mais do que o outro e, dessa forma, passava adiante qualquer boato, como se fosse verdade.

“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

El Gobernador, o regresso de Pizarro

No seu regresso, Pizarro conseguira para si o cargo máximo de Capitão Geral e Gobernador de Nueva Castilla, como passaram a se chamar as terras que integravam esse trecho do Mar do Sul. Obtivera também cargos para outros membros da expedição, mas não se empenhara o suficiente por Diego de Almagro, para quem garantira apenas a governança da fortaleza a ser fundada em Tumbes. Ou seja, algo que abalou a relação dos dois.

“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

Para padre Luque, Pizarro obteve títulos e vantagens eclesiásticas e o cargo de futuro bispo de Tumbes, que o reino espanhol, aliado do Vaticano, se encarregaria de obter. Por ser um religioso, seus interesses não competiam com o do capitão. Luque foi nomeado ainda protetor geral dos índios, função que lhe garantia uma renda anual de cerca de mil ducados.
Nada mau para proteger índios – gracejou Pablo, quando soube.
Bartolomeu Ruiz, por sua vez, ganhou o título de Piloto Mayor de la Mar del Sur e a promessa de várias vantagens, caso a expedição fosse bem-sucedida.

Os irmãos de Pizarro

Uma das providências de Pizarro durante sua estada na Espanha foi convidar para a empreitada gente de sua confiança: quatro de seus irmãos Três deles eram filhos apenas de seu pai. Creio que, com isso, o capitão desejou assim reforçar a presença da família na aventura. Com a ajuda deles, tratou de preparar rapidamente os navios, mesmo porque, com o passar do tempo, seus inimigos começaram a intrigá-lo no Conselho das Índias. Insinuavam que Pizarro não equipara as naves conforme prometera.

Pretendiam, portanto, que as caravelas fossem inspecionadas e que se verificasse se certas exigências, como ter de arregimentar o número combinado de soldados e marinheiros, estavam sendo cumpridas. Se algo estivesse errado, podiam, portanto impedi-lo de partir. Acontece que boa parte da população masculina da cidade tinha seguido para o México em busca de riquezas após a conquista do Império Asteca por Cortez. Sevilha tornou-se uma cidade habitada principalmente por mulheres, velhos e crianças.

O regresso de Pizarro, a dificuldade em reunir a tropa

Nosso capitão não conseguiu, portanto, reunir a quantidade de soldados que fora acertada com o Conselho das Índias. Por isso, foi obrigado, dessa forma, a deixar o porto discretamente na calada da noite com uma das naves. Ou seja, antes que o Conselho pudesse se inteirar de suas dificuldades de recrutamento. Criou, portanto, um fato consumado. Seu irmão Hernando e Pedro Candía encarregaram-se das demais embarcações.

“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

Caso o Conselho achasse que não tinham gente suficiente, as ordens eram para dizerem que muito mais soldados haviam partido no navio de Pizarro. O recém-nomeado Gobernador suportara a travessia do oceano em condições melhores do que aquelas enfrentadas por Pablo e eu como meros soldados. Devo, porém reconhecer que o Velho, como costumávamos chamá-lo, fora corajoso em enfrentar outra vez uma viagem perigosa como aquela.

Chegam los hermanos

Quinze dias depois de Pizarro ter desembarcado em Nombre de Dios, chegaram ao Panamá Hernando, Juan, Gonzalo, Pedro e Martin de Alcântara, irmãos de Francisco Pizarro. Martín, seu irmão por parte de mãe, a lavadeira, era, como Francisco, bem mais velho que os demais. Normalmente, ele não teria a posição de fidalgo, pois é o pai quem transmite fidalguia, mas Pizarro, que gostava dele,. Ou seja, colocou-o, porém, em pé de igualdade com seus demais irmãos.

“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

Não tardou para que Hernando, Juan e Gonzalo se desentendessem com Almagro. Isso agravou a desunião do grupo. Foi necessária portanto a intervenção do padre Luque para melhorar as relações entre eles. Afinal, Almagro, cada vez mais emburrado, começava a demonstrar menos interesse pela empreitada. Houve momentos em que eu e os demais soldados começamos a nos perguntar se a expedição de fato partiria. Afinal, os irmãos Pizarro azedaram o ambiente.

Hernando Pizarro

Além disso, Hernando Pizarro era de temperamento difícil. Ou seja, mais de uma vez ofendera Almagro com palavras pesadas. Em uma ocasião, chamara-o de filho de uma prostituta, porque ele ainda não conseguira cavalos para os dois cavaleiros que trouxera consigo da Espanha. Hernando, um homem grandalhão e arrogante, uns vinte anos mais moço que Francisco, orgulhava-se de ser filho legítimo de um fidalgo, no meio de tantos bastardos.

“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

Sentia-se, portanto, superior a Almagro e também a seus outros meios-irmãos. Comentava-se, aliás, entre os soldados, que Hernando só recebera o pai em sua casa porque Francisco, depois de obter a Capitulación na Corte, tornara-se um homem respeitado. Os dois nem sequer se conheciam, já que seu pai fora, durante a vida, espalhando filhos por todo o sul da Espanha. Os outros irmãos de Pizarro eram bastardos, como ele. Juan tinha dezenove anos; Gonzalo, dezessete; Pedro, apenas quinze.

Pizarro aceita acordo com Almagro

Depois de reclamar com Luque, Almagro conseguiu arrancar algumas promessas do Gobernador. Ou seja, nenhuma honraria seria concedida aos seus irmãos e a outros homens que vieram com ele da Espanha antes que obtivesse um território para seu sócio. Pizarro, para acalmá-lo, também aceitou que tudo – ouro, prata e pedras preciosas e escravos – fosse assim dividido entre os três principais parceiros em partes iguais. Não sei até que ponto Pizarro realmente procurou desfavorecer Almagro. Segundo eu escutara falar, a corte de Madri não aceitava comando duplo para a expedição.

“O Ouro Maldito dos Incas” – O regresso de Pizarro

Nesse caso, ele pediu o cargo para si próprio. Tenho a impressão de que Diego de Almagro, bom para arregimentar pessoas, tinha mais condições de atuar como intendente e providenciar recursos do que para comandar uma tropa.
Nós, os Treze da Fama, que estivemos na ilha de Gorgona com Pizarro, só recebemos honrarias e promessas, já que a Coroa apenas emprestara aos sócios uma pequena soma a ser descontada dos lucros futuros do quinto real. Seriam, portanto, os três interessados que deveriam arcar com as despesas e os riscos da expedição. Se tudo desse certo, seríamos homens ricos. Se desse errado, perderíamos nossas vidas na aventura. A Coroa, entretanto, não arriscou praticamente nada.

Uma tropa onde havia de tudo

Os outros homens trazidos pelos irmãos Pizarro eram sevilhanos do povo, fidalgos, mouros e judeus convertidos, marinheiros, camponeses da estremadura. Havia de tudo: ferreiros, sapateiros, pescadores, açougueiros, alfaiate. Muitos soldados igualmente embarcaram em busca de uma oportunidade, da mesma forma que aventureiros de todos os tipos.

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Em suma, até mesmo gente perseguida pela justiça, devedores procurados e até malfeitores que pretendiam, ao se engajar na expedição de Pizarro, escapar da prisão. Muitos desses homens, aliás, nunca tinham empunhado uma espada, outros mal sabiam montar a cavalo. Essa era a tropa que acompanharia Francisco Pizarro na conquista das terras às margens do Mar do Sul.

Siga o relato:

Como um analfabeto no comando de menos de duzentos homens, com pouca ou nenhuma experiência militar, conseguiu dominar um império de doze milhões de pessoas ?

Siga a continuação desta postagem: Ponce de León e Hernando de Soto

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