Livro; O Ouro Maldito dos Incas

020 – Anno de 1532 – “O Ouro Maldito dos Incas” – As Virgens do Sol e o Orejón

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“O Ouro Maldito dos Incas” – As Virgens do Sol e o Orejón

As Virgens do Sol

Uma das instituições do Império Incas que posteriormente entenderíamos melhor era das Virgens do Sol. Assim, como veríamos depois, em todas principais cidades do Império Inca existia também, uma casa delas. As moças eram, ainda novas, escolhidas nas famílias incas ou igualmente de povos por eles dominados. Normalmente, aliás, pais e mães consideravam assim uma grande honraria uma menina da família ser escolhida para ser Virgem do Sol.

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“O Ouro Maldito dos Incas” – As Virgens do Sol e o Orejón

O Acclauasi

Em Cajas igualmente existia uma casa das Virgens do Sol, um templo e, também, um centro que acolhia as moças que seriam enviadas a Cusco. Era o a Acclauasi, ou, seja, casa das Acllas, o nome quéchua para Virgens do Sol. Apesar de serem índias, achamos que muitas delas, porém, eram bonitas. Afinal, essas moças eram, selecionadas entre as mais formosas de sua aldeia. Ou seja, sem nenhum traço físico ou mancha de pele que as enfeasse.

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Segundas intenções

Fui com Soto e outros soldados até o recinto das Virgens do Sol, ou “Acllahuasi”. Afinal, todos estavam bastante curiosos de ver de perto essas tais Virgens do Sol. A maioria dos espanhóis, aliás, com segundas intenções, diga-se de passagem. As jovens estavam num canto, assustadas, surpresas com o aparecimento daqueles estranhos homens barbudos de faces pálidas E que, ainda mais, as encaravam com ar libidinoso.

“O Ouro Maldito dos Incas” – As Virgens do Sol e o Orejón

Soto passou por elas devagar, olhando para cada uma com atenção. Depois mandou que as levássemos para a praça. Em seguida chamou a tropa.
Soldados, vocês têm arriscado a vida por Deus e pela Espanha. Podem se divertir um pouco…
Não precisou, em suma, falar duas vezes: os soldados se atiraram sobre as índias. Fernando de Soto já havia, aliás, escolhido uma delas, muito bonita.

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O Orejón

Ortiz e eu não quisemos, porém, participar daquela bagunça. Meu amigo, ainda nauseado com o que vira pelo caminho, permaneceu imóvel. Depois, porém, se inclinou e puxou uma índia ainda jovem para perto de si, sem descer de seu cavalo. Eu apeei e estendi a mão para outra, nova e de traços delicados, assustada, ajoelhada a alguns passos de mim. Senti o pavor em seus olhos e fiz sinal para que não se afastasse. Mais tarde, no final do dia, eu a mandaria preparar algo para comermos e passaria a noite com ela.
Um dos índios, que, pelas roupas e pelo porte, parecia ter autoridade aproximou-se, indignado:
Atahualpa vai executá-los por isso.
Soto o encarou com pouco caso. Virou-se para José:
O que esse aí quer?
É um orejón, senhor.

“O Ouro Maldito dos Incas” – As Virgens do Sol e o Orejón

Já o vi antes?

O índio possuía de fato orelhas caídas em razão das pesadas argolas de ouro que usava. Examinei-o melhor. Tinha, aliás, a impressão de conhecê-lo, mas não estava seguro disso. Afinal toda essa gente de olhos amendoados tem cara parecida. Logo, porém, lembrei dele. Ou seja, era o vendedor de frutas, na realidade o informante de Atahualpa, que ficara bisbilhotando nosso acampamento! Era por isso, então, que observara tão atentamente cada um de nossos movimentos.
Tem mensagem de seu rei? – perguntou-lhe Soto.
Tenho. Mas você não pode permitir isso – disse, apontando para os soldados que, em plena praça, abusavam das índias.
Você devia ter avisado antes. Agora não posso mais impedir.

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Embaixador ou espião

O índio ficou vermelho de raiva. Controlou-se, porém.
Como eu entrego a mensagem de Atahualpa a seu chefe?
José traduziu. Soto pensou um pouco.
Vou mandar uma mensagem para nosso comandante para que venha nos encontrar. Enquanto isso você fica conosco.
Quando Pizarro chegou com o restante das tropas, o orejón lhe disse que Atahualpa iria recebê-lo em Cajamarca.
Sou embaixador de Atahualpa. Repetirei suas palavras para El Inca. Ele espera recebê-lo como amigo.
Pizarro concordou, mas virou-se, irônico para Sotto:
Embaixador ou espião?

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O jogo de Pizarro

O Gobernador encarou o índio.
Diga a seu rei que estaremos a seu lado nessa guerra contra Huáscar.
Pizarro já garantira aos tallans que Atahualpa pagaria pelas matanças cometidas no território da tribo derrotada. Agora, dirigindo-se ao mensageiro do Inca, falava, porém, o contrário. Não importa. Como eu disse, era um jogo. Tínhamos certeza de que Atahualpa também não era sincero. Em suma, se pudesse nos capturar, o faria. Afinal, por instruções suas, curacas como Tumbala e Chilimasa tinham tentado nos matar em Puná quando desembarcamos no continente, ao abandonar a ilha.

Nossas nativas

Quando encontrei meu primo e outros soldados notei que ficaram alvoroçados com as índias que trazíamos prisioneiras. As nativas – Nitaya, que eu preferira, e Ñusta, escolhida por António Ortiz .
Percebendo o interesse que nossas índias despertavam, decidimos, assim, levá-las para uma casa afastada do centro, longe, portanto, onde a maioria dos soldados se instalara.

“O Ouro Maldito dos Incas” – As Virgens do Sol e o Orejón

Elas nos seguiram caladas. Creio, aliás, que tinham medo de nós. Eu já havia discutido com Ortiz e com meu primo sobre as índias. Pablo queria duas ou três. Ou então, igualmente, pegar uma, usá-la e dispensá-la. Em parte, reconheço, foi Ortiz quem me convenceu que seria bom ter índias bonitas como companheiras permanentes. Poderiam, ainda mais, ser úteis.
Um dos soldados que tem sua índia fixa disse que, além de servi-lo na cama, ela igualmente lhe preparava comida, catava lenha e até preparava chicha.
A cabana de pedra onde ficamos tinha três cômodos, um deles usado também como cozinha. Ortiz foi com sua índia para o outro que dava para os fundos, e eu fiquei com Nitaya numa esteira coberta de peles perto do fogão, mais quente e agradável.

Nitaya

Muitos soldados já tinham companheiras nativas, mas eu não me encantara, até então, com nenhuma, até me deparar com Nitaya.
As moças foram olhadas por Pablo com ar de cobiça. Fui, dessa forma, claro com ele:
Nessas você não vai tocar.
Pablo me olhou muito sério. Ou seja, acho que entendeu.

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Virgem do Sol

A jovem, que não devia, aliás, ter mais do que uns dezenove anos anos, ficou em seu canto. Ela sabia, porém, o que iria se passar. Procurei, portanto, não assustá-la mais do que já estava e a fiz deitar a meu lado. Felizmente, ela não resistiu. Apenas chorou. Fiquei com pena dela e acariciei seu rosto, coisa que nunca fizera com mulher alguma. Assim à luz do fogo, examinei suas feições. Ela olhou-me um momento, desconfiada, depois fechou os olhos. Pela primeira vez, uma indiazinha me agradava. Pensei, assim, em conservá-la enquanto estivesse no país.
No dia seguinte troquei impressões com Ortiz. Ñusta, um pouco mais nova, também chorara e, dócil, deixara-se possuir. Pelo sangramento percebi que era realmente virgem. Uma verdadeira Virgem do Sol…
Reparou que raramente as índias se negam? – perguntei a Ortiz.
Têm medo de nós. E estão, aliás, acostumadas a serem entregues como presentes. José me contou que quando um curaca é leal aos incas, recebe mulheres como recompensa por serviços prestados ao Império.

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Rumo a Cajamarca

No final de outubro, descansados, prosseguimos, finalmente, na direção de Cajamarca. Ou seja, onde Atahualpa nos esperava com milhars de guerreiros… Cortamos uma região que não chegava a ser um deserto, mas era bastante seca e soprada pelo vento que levantava nuvens de poeira amarelada. Paulatinamente, porém, a paisagem ia se tornando mais verde, à medida que subíamos a serra.

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Assim, aos poucos, mesmo o aspecto das aldeias mudava. As casas de adobe iam, assim, sendo substituídas por outras de pedra, maiores, bem construídas. Nunca, porém, tinham portas nem móveis, o que era, para nós, um tanto estranho. Ou seja, quando passávamos muitos dias ou meses no mesmo lugar, acabávamos por nos decidir a cortar madeira e fabricar mesas e bancos toscos, já que não conseguíamos nos passar deles. Os índios, porém, nos observavam curiosos, sem entender por que necessitávamos de móveis, quando é mais fácil sentar-se numa esteira no chão.

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Vale de Motupe

No semi-abandonado vale de Motupe, nossa etapa seguinte, só encontramos ruínas. Em suma, casas destruídas e mais cadáveres. O curaca fora também obrigado a se juntar às tropas de Atahualpa e renegar suas ligações com Huáscar. Apesar disso, fomos bem recebidos, principalmente pelos velhos e crianças. Ou seja nos regalaram com cordeiros, frutas e milho, já que suas plantações em terraço foram preservadas.
Nessa aldeia, como nas demais por onde passamos, todos temiam Atahualpa; os líderes que encontrávamos não queriam, portanto, nos fornecer informações.

Os cães de Hernando

Pizarro precisou chamar Hernando com seus cachorros. Quando ele chegou com os bichos, todos nós nos afastamos depressa para deixá-lo passar, com medo de sermos mordidos. Aparentemente, sentia-se, aliás, orgulhoso de assustar a todos com seus cães. Ao interrogar os curacas, Hernando segurou pelas coleiras os animais, que latiam agressivos, com os dentes à mostra. A baba escorria das bocas das feras, a menos de um palmo do rosto dos índios, que deviam, assim, sentir seu hálito morno. Como de costume, os infelizes tiveram os pés amarrados, mas as mãos soltas. Quando tentavam se proteger, Hernando deixava um dos cachorros mordê-los propositalmente. Era, aliás, comum alguém perder um dedo durante o interrogatório.

“O Ouro Maldito dos Incas” – As Virgens do Sol e o Orejón

Hernando virou-se para Felipillo:
Ele será comido vivo pelos cães se não colaborar… Estão em jejum há dois dias, esperando saborear um índio – disse, sem se importar com o fato de Felipillo também ser um indígena.
Nosso intérprete traduziu. Assim, os pobres diabos, com as mãos ensanguentadas, completamente apavorados se dispuseram imediatamente a falar.

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Tortura para se obter informações

Discretamente, prestei atenção em dois dominicanos que acompanhavam os interrogatórios. Observavam o método, talvez para sugeri-lo a seus colegas da Inquisição na Espanha. Um deles murmurou que o sistema utilizado por Hernando podia funcionar muito bem igualmente com os feiticeiros e falsos conversos, como mouros e judeus, gente hábil na arte da dissimulação. Ou seja, viram que após cada sessão de tortura, todos confessavam.
Enfim, era verdade, o que suspeitávamos. De fato, Atahualpa nos esperava com um grande exército, disposto a acabar conosco. Entreolhamo-nos, com expressão de medo nas faces. Pizarro, porém, dando de ombros, aparentemente não ficou surpreso.
Eu tinha certeza

Siga o relato:

Como um analfabeto no comando de menos de duzentos homens, com pouca ou nenhuma experiência militar, conseguiu dominar um império de doze milhões de pessoas ?

Siga a continuação desta postagem: Cinquenta mil guerreiros?

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