Livro: A Vaca na Estrada

09 De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – A estrada para Kabul

Recuperando o fôlego

Em Kandahar retomamos o fôlego mais uma vez antes de seguir para Kabul. O Afeganistão era, aliás, confortável e barato e nos parecia perfeito. Ou seja, apreciávamos a comida, o clima e a companhia. A maioria dos confrades de estrada era formada por casais. Vimos, porém que muitos viajavam sozinhos, inclusive moças, sós ou com amigas. Em suma, rolavam amores passageiros, de viajantes…
Abaixo: Mapa de Kabul

Na estrada para Kabul

Quando, novamente, tomamos a estrada para Kabul, estávamos mais relaxados, de corpo e de cabeça. Rodamos, assim, alguns quilômetros pelo deserto. Cruzávamos com afegãos montados em camelos, com burricos carregados, com caminhões caindo aos pedaços. Quando parávamos, finalmente, para encher o tanque, era, quase sempre em alguma primitiva bomba manual.

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O fortim abandonado

Uma bomba manual junto à estrada, funcionava perto de um pequeno forte construído em adobe e argamassa misturada com palha. Subi para espiar. Qual o mistério daquele velho fortim abandonado no meio do deserto, aparentemente sem serventia? Quem o construiu, para que e quando? Talvez parte da resistência afegã, construído há mais de um século, possivelmente para enfrentar os invasores britânicos.

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Controle policial e barragem de carneiros

Em outro trecho da estrada, próximo a Kelat, todos os carros estrangeiros estavam sendo parados pela polícia. Ao que parece, ocorrera um acidente com um automóvel europeu. Assim que viram o pára-lama amassado de nosso Renault, chamaram-nos para dentro de um pequeno posto policial. Felizmente, depois de meia hora de tensão, nos liberaram. Ou seja, não éramos as pessoas que procuravam. Mais adiante, porém, fomos parados de novo.

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Carneiros na estrada

Desta vez, entretanto, por um rebanho de carneiros que atravessava a estrada. Ali tiramos algumas de nossas melhores fotos. Consegui, assim, ótima foto do Renault rodeado pelos bichos, dezenas deles. Na maior aldeia marcada no mapa, paramos e almoçamos numa tenda. Tivemos que comer com as mãos. Era, porém o único “restaurante” disponível.
Faltava pouco para chegarmos a Kabul, mas anoitecia.

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Uma estrada perigosa

Não havia cidade alguma antes da capital afegã. Fomos assim, obrigado a dirigir à noite. Havia caminhões, muito lentos, rodando sem lanterna traseira. Um perigo. E, ainda mais, quando vinham no sentido contrário, nos ofuscavam com seus faróis altos. Corríamos, igualmente, o risco de bater em algum camelo selvagem. Ou mesmo, aliás, dar de cara, no meio da via, com um rebanho conduzido por alguém. O animal, comum nesse deserto, às vezes, atravessa a estrada repentinamente. Era muito mais provável, aliás, um acidente com um bicho desses do que com outro veículo.

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Um carro no acostamento, um camelo morto

Tivemos, aliás, a oportunidade de ver dias depois um jipe de fabricação russa que colidira com um camelo selvagem. Paramos para dar uma olhada. O pára-brisa e a frente do veículo estavam detonados. O banco do motorista também estava cheio de sangue. O rádio ainda estava ligado. O motorista não estava mais ali. Provavelmente fora recolhido por alguém que passara pelo local antes de nós. O camelo, morto, estava estirado na frente do carro, cujas luzes estavam acesas. Assim, metade do veículo estava no acostamento, metade na estrada.

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Não fomos nós, que atropelamos o camelo…

Coloquei a mão na barriga do bicho: ainda estava quente, o acidente, portanto, ocorrera há pouco. Depois de uma rápida examinada no interior do jipe com nossa lanterna de mão, demos assim nossa contribuição. Empurramos com (muita!) dificuldade o pesado animal para fora da estrada para evitar outro acidente. Em seguida abandonamos também rapidamente o local. Medida sábia num país como aquele, onde estrangeiros podem se comprometer por muito pouco. .

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O risco de uma colisão

Em resumo, não valia a pena ver mais, nem servir de testemunha. Afinal, corríamos o risco de sermos impedidos de sair do país durante as investigações. Ou, talvez, tivéssemos que provar que não éramos os proprietários do camelo em questão.
Em resumo: o camelo é um animal enorme; colidir com eles é como bater em outro automóvel. São comuns em todo canto. Na verdade, mesmo famílias, evidentemente pobres, morando numa tenda precária, possuiam seu animal. Talvez, fosse, aliás, indispensável à sua sobrevivência nessas regiões inóspitas.

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Kabul

Kabul era um dos locais favoritos de mochileiros e aventureiros. Víamos, portanto, em suas ruas veículos de vários países da Europa. No centro, pequenos hotéis disputavam os estrangeiros. De qualquer modo, não existia turismo convencional no país. Enquanto circulávamos por ruas, muitas sem sequer calçamento, procurando hotel. Em muitos líamos as placas do tipo Kabul Bakery and Restaurant ou Hotelboiled water available.

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O turismo mochileiro

Todos os estabelecimentos possuíam assim, ambientes voltados especialmente para o público mochileiro. Em outras palavras, com salas e quartos decorados com murais psicodélicos. Para completar, rock como som de fundo e menus ocidentalizados. Nesse sentido, aliás, iguais aos que havia em Herat e em Kandahar.
Isso eu veria no decorrer da viagem, até Katmandu. Ou seja, as mesmas músicas, os mesmos pratos, as mesmas inspirações. Impressionante como aprenderam a conquistar a florida clientela estrangeira.

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Kabul que eu conheci, de paz e amor

O charme de Kabul era, em parte, o próprio ambiente criado pelos estrangeiros que percorriam o Afeganistão. Em Kabul a moçada se concentravam em torno do restaurante Mercedes. Ali também funcionava um hotel. Do outro lado da rua, o Green Hotel, no mesmo estilo. Esses eram, portanto, os lugares para ouvir música, também para se fazer amizades. Ou comer, indolente, ou comer arroz biryani. Já mencionamos: preparado com carne de carneiro moída, passas, lascas de casca de laranja e amêndoas.

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Roupas afegãs, baratas e confortáveis

Olhando os estrangeiros podíamos saber há quanto tempo estavam na estrada. Em suma, bastava prestar atenção à maneira de se vestir de cada um, ou seja, pela vestimenta. Chegavam sempe, é claro, com aparência bem ocidental. Aos poucos, porém, se transformavam. Iam se “afeganizando” a cada dia. Em suma, comprando o tipo de roupas utilizadas pelos locais. Estas, eram, aliás, muito baratas e confortáveis.

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Mais “afeganizados” do que o povo da terra

No começo compravam túnicas. Depois a larga, típica e confortável calça afegã, com um botão no tornozelo. Cômoda, aliás e adaptada ao clima. Depois vinha o colete, geralmente branco, utilizado pelo pessoal da terra. Finalmente tínhamos o tradicional gorrinho afegão, ou então um turbante. Dessa forma, logo o viajante estava mais “afeganizado” do que o próprio povo do lugar.

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é HIPPIES-INDIA.jpg
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Paz e amor, bicho...

O pessoal wood-stockquiano

Alguns, mais criativos, usavam mesmo um turbante! Outros, entretanto, não adotavam roupas locais. Pareciam, porém, que trouxeram na viagem as mesmas roupas que utilizaram durante todo o festival Wood-Stock. Em outras palavras mantinham-se completamente hipposos. Turistas mais convencionais eram, entretanto raros. Creio, aliás, que preferiam a Disney…

Sigam o relato:

Sigam esta aventura de carro pelas estradas da Ásia. Atravesse o Oriente mágico e éxotico que encantou milhares de jovens europeus. Uma experiência vivida pelo autor do livro “A Vaca na Estrada” por países como Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão, ÍndiaNepal


Veja a continuação desta postagem:
De Kabul a Band-I-Amir 

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