Uma bela manhã Kim me comunicou que dentro de alguns dias teria que tomar um avião de Katmandu para Delhi. De lá tomaria uma conexão para a Nova Zelândia. Para mim, igualmente, estava chegando o momento de partir. Era, portanto, o fim de minha viagem. Igualmente, o fim de uma grande aventura. Afinal, eu já renovara meu visto duas vezes no Nepal. O último, porém, estava para expirar e não era mais possível renová-lo. Logo, precisava deixar o país ou arrumaria uma boa encrenca com a Imigração. Enfim, era preciso voltar para casa…
Viajando no teto do ônibus
Assim, num final de tarde fomos comprar a passagem para Katmandu.
— Como é o ônibus? — perguntei.
— Ônibus bom, pullmann — me responderam.
No dia seguinte conheci o tal “pullmann”.
Os bancos eram de madeira e, ainda mais, dispostos em fileiras para duas pessoas de um lado e para três do outro. Ou seja, algo que eu nunca vira em lugar algum. Assim, os nepaleses, pequenos e magros, se ajeitavam. Para mim, porém, era apertado. Dois alemães corpulentos discutiam com o controlador:
— Esses bancos são para crianças!
O Nepal é, porem, um país onde as soluções se improvisam, com a graça de Shiva. Ou seja, subimos para o teto do veículo onde já estavam meia dúzia de nepaleses. Dessa forma nos instalamos em um bagageiro protegido por grades, onde ficavam também as mercadorias e, igualmente, animais, como as cabras e as galinhas.
Vista panorâmica
Na realidade, porém, em cima do ônibus era muito mais confortável e de lá poderíamos, assim, apreciar a vista do Himalaia. Por sorte, aliás, uns caixotes nos protegiam um pouco do vento. Enrolados em sacos de dormir, pudemos, dessa forma, suportar o frio, com alguns espirros. Aos poucos, aliás, a maior parte dos estrangeiros, inclusive algumas garotas, tinham inclusive subido para o teto do ônibus.
Aproveitávamos também, a vista num ângulo muito amplo. Ou seja, podíamos avistar não apenas largos trechos dessa estrada tortuosa (e algo preocupante…) mas, igualmente, aldeias penduradas nas encostas do Himalaia. Em suma, uma situação perfeita seja, ideal para fotos, pegando, assim, os dois lados da estrada, abismos assustadoes e as montanhas que em alguns trechos era estreita e lotada de caminhões e ônibus.
Uma viagem diferente
Essa viagem foi, assim, uma das mais estranhas que fiz. Do teto do veículo, víamos as casas de adobe e palha, os campos de arroz, as crianças brincando ou trabalhando. No Nepal as crianças, aliás, fazem qualquer trabalho: cultivam a terra, ajudam os pais, catam lenha, vendem frutas, plantam, cuidam dos animais. Da mesma forma que as mulheres, que em geral encaravam trabalhos bem pesados.
Quando o ônibus parava, ajudávamos a descer algum saco de farinha ou alguma ave, que nos batia as asas na cara. Os alemães aproveitavam igualmente a parada para acender um baseado a salvo do vento. Um deles, que tentou acendê-lo antes, com o ônibus em movimento, chamuscou o bigode. Ficou, em suma, com os pelos aloirados meio retorcidos, o que causou risos entre a moçada.
A despedida
Três dias depois de chegarmos a Katmandu Kim embarcou para a Índia. Foi, assim, uma despedida sofrida. Ficamos um bom momento abraçados, calados. Estava triste e emocionado, ela chegou a chorar. Eu não podia, porém, seguir para a Nova Zelândia com ela. Ou seja, meu dinheiro minguara. Fizemos, porém, mil planos de nos rever, um dia. Provavelmente em Paris, meio caminho entre a Nova Zelândia e o Brasil. Só que nós mesmos não acreditávamos muito nisso. Depois de subir no táxi Kim sorriu:
— Un day in Paris…
Entretanto, nunca mais nos vimos, apenas trocamos cartas.
Preparando a cabeça para a volta
De novo sozinho em Katmandu, reencontrei meus amigos italianos e franceses, comprei algumas lembranças e preparei minha cabeça para a volta. Não era fácil. Bem mais de um ano se passara desde que eu partira do Brasil. Estava dez quilos mais magro, com as costelas aparecendo; minha barba estava enorme, meus cabelos estavam super compridos.
Mudando o visual
Olhando-me no espelho, um momento maginei ser, aliás, prudente mudar o visual. Isso para evitar problemas na imigração em Paris. Afinal, vasculham a fundo tudo que lhes parecesse “woodstockiano”‘, em busca de drogas. Algo, aliás que eu nunca pensaria em ter na minha bagagem.
Depois, de passar um tempo na capital francesa, eu teria, uma hora que seguir para o Brasil.
Como sabia do risco de contrair hepatite nas lâminas mal lavadas dos barbeiros nepaleses, comprei uma tesoura, um aparelho de barba e me dei um super trato. Cheguei a me tornar apresentável. Acho…
Já que estava voltando e ainda me sobravam alguns dólares, não precisava economizar tanto. Ofereci-me um belo blazer e uma malha de gola rolê, conjunto que me deu um ar mais respeitável. Fiquei tão diferente que nem a francesa doida que viajava com o filho me reconheceu quando passei ao lado dela na Freak’s Street.
Rumo a Delhi e a Paris
Uma manhã, enfim, tomei, já mergulhado em profunda nostagia, um avião rumo a Nova Delhi, de onde embarcaria para Paris. Da janela do táxi, emocionado, dei uma última olhada nos templos do Dubrar Square e já fora do centro de Katmandu, para as montanhas cada vez mais brancas do Himalaia, como se me despedisse delas. Bateu, assim, uma tristeza. Eu voltaria.
De volta a Delhi
Desta vez, em Delhi, procurei me instalar na parte moderna da cidade, a Nova Delhi colonial. Organizei-me para, logo, da capital indiana já pegar uma conexão para a Europa. Assim, depois de uns dias na capital da Índia já embarquei para Paris. Do avião, sobrevoando, o Hindu Kush, fui pensando em minha viagem, se voltaria outras vezes. Aquela vista que eu apreciava do alto fora, afinal o caminho que eu empregara para chegar à Índia, há mais ou menos um ano atrás. A grande viagem terminara. Fiz muitas outras em minha vida de viajante. Mas, essa fora a Grande Viagem!
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