Livro; O Ouro Maldito dos Incas

040 -Anno de 1533 – “O Ouro Maldito dos Incas” – Surpresas

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“O Ouro Maldito dos Incas” – Surpresas

Cusco

O tão falado exército quitenho de cinquenta mil guerreiros fora, afinal, maior parte do tempo mero fantasma que nos assombrou nas noites frias do altiplano.
Com a tomada da cidade pelos guerreiros de Atahualpa, Cusco, habitada principalmente por nobres, funcionários e sacerdotes quéchuas, esvaziara-se. Boa parte deles, aliás, fugira com seus serviçais. Muitos, porém, sobretudo os membros da panaca real, foram executados. Assim, várias casas estavam vazias e apenas alguns velhos e funcionários do baixo escalão apareceram para receber os espanhóis e Manco Yupanqui Inca.
Reunimo-nos, portanto, na praça, onde Pizarro designou um grupo para percorrer as ruas e procurar quitenhos escondidos nas casas. Só posteriormente que voltaram sentiu-se seguro. Eu olhava admirado a praça cheia de palácios e construções monumentais. Enfim, nós tomáramos Cusco, capital de um império com milhões de habitantes. Esse mundo era agora espanhol.

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O sucesso do velho teimoso

Tudo isso, afinal, fora conseguido por um pequeno grupo que começou com menos de duas centenas de soldados conduzidos por um velho teimoso. Eu já me tornara rico. Podia, assim, voltar para a Espanha com Pablo, se quisesse. Ortiz estava na dúvida. Tinha saudades da Espanha, mas ainda sonhava com o vale de Jauja quase sempre florido.
É um lugar onde eu poderia morar, comentei com Nitaya. Fomos logo acomodados em casas vazias. Ocupei uma com Ortiz e nossas índias.
Os grandes palácios da praça foram tomados por Pizarro, Almagro e pelos irmãos de Pizarro, que ficaram juntos sob um mesmo teto.

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Pilhando

No dia seguinte Francisco Pizarro autorizou seus homens a saírem pela cidade e igualmente se apropriarem do que encontrassem em casas vazias, fosse ouro ou prata, fossem outros bens. O ouro, entretanto, já tinha quase todo sido roubado. Mas sobrava prata e pedras preciosa. Roupas de qualidade foram também achadas em várias casas, bem como roupas e calçados quéchuas.

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As poucas índias encontradas em algumas casas foram agarradas pelos soldados embriagados com chicha. Isso fazia parte da conquista. A maioria deles não pensava senão no ouro, em embriagar-se e em abusar das nativas.Talvez o que eu próprio pensava logo que desembarquei, anos antes. Sabendo o que poderia acontecer, tratamos de deixar Nitaya e Ñusta junto com os religiosos e com os demais que também tinham índias, ordenando-lhes que não se fastassem. Pelo olhar das duas percebemos que entenderam.

Percorrendo a cidade

Perambulando com meu primo e Ortiz entramos num galpão que nos causou horror. As peles de gente, como as de animais, estavam divididas em pilhas. Num cômodo ao lado havia igualmente tambores. Entendemos imediatamente para que serviriam aquelas peles humanas. Um suor frio logo desceu-me pela espinha. Assim, saímos bem depressa daquele depósito de horrores. Continuando nosso caminho, Pablo lembrou-se da Casa das Virgens do Sol e nos convenceu a ir com ele até lá. Foi , porém,tempo perdido: os quitenhos tinham levado as moças para evitar que caíssem nas mãos dos soldados. O tempo todo em nosso passeio por Cusco cruzávamos com soldados carregados de riquezas saqueadas, rindo alto e divertindo-se como crianças.

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Roubando tudo que podia ser roubado

Com facas ou espadas, arrancavam qualquer ouro incrustado nas paredes, cada qual roubando o que podia. Foram, aliás, principalmente os soldados trazidos por Almagro, que se sentiram prejudicados quando o tesouro de Atahualpa fora dividido em Cajamarca, que mais se beneficiaram do saque.Ou seja, para nós aquilo não era nada, comparado ao que já conseguíramos acumular.
Peças maiores, como as lhamas que víramos no templo de Coricancha, as pastoras em tamanho natural, todas de ouro, grandes vasos e outras imagens, foram, porém, separadas para serem enviadas à Espanha, onde seriam encaminhadas para fundição.

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A parte do rei

Parte delas foi para o tesouro real, parte para as igrejas e catedrais, que, dessa forma, ganharam altares e cruzes de ouro maciço. Os soldados, apesar de envolvidos pelo saque, não deixavam de se deslumbrar com Cusco. Nenhum vira uma cidade assim antes. Alguns consultaram Pedro de Candía, que já navegara por todo o Mediterrâneo. Nem ele conhecera algo comparável a Cusco. Outro dos soldados, Juan de Salinas, estivera antes no México, onde participara da conquista junto com Cortez. Dizia que Tenochtitlán, a capital dos índios astecas, situada sobre uma ilha no meio de uma laguna, também o impressionara muito.
Era superior a qualquer cidade europeia que vira até então, mas não chegava, porém a superar Cusco.

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Saque desenfreado

Creio – disse Ortiz no dia seguinte – que o saque e o abuso das índias vão nos trazer problemas. Em outras palavras, Manco Yupanqui Inca acreditou que fôssemos melhores do que os quitenhos. Agora, porém, vai começar a nos ver como invasores.
Pablo ia dizer algo, mas calou-se. Ele mesmo, aliás, tinha, com outros soldados, arrastado uma jovem índia para um canto. O que mais me surpreendeu, porém, foi que Manco Yupanqui Inca e os nobres cusquenhos em nenhum momento chegaram a se opor ou sequer a reclamar com Pizarro contra o saque desenfreado de que sua cidade fora vítima. Nem mesmo a imagem de ouro do deus-sol no templo de Coricancha escapou dos saqueadores.O jovem fidalgo Mansio Serra de Leguizamón a roubou. Mais tarde, porém, acabou perdendo-a num jogo de azar. Meio envergonhado, Ortiz comentou a situação com Achachíc. Este estava muito descontente com os castelhanos e creio que só criticou a atitude dos soldados porque confiava em nós.

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Não pode roubar, não pode matar, não pode estuprar?

– Meu coração está pesado. Ninguém falou nada por medo e por achar que precisamos dos espanhóis para derrotar as tropas de Quisquis. Mas não gostaram nem um pouco do que fizeram.
Comentamos com Achachíc sobre os corpos desossados que encontramos.
– Nunca um espanhol faria uma coisa dessas – disse eu. O inca me olhou, suspirou:
Isso é coisa de Atahualpa.
Ortiz e eu já tínhamos combinado: sempre que possível dividiríamos uma casa com nossas companheiras índias, como faziam os soldados que tinham escolhido uma nativa como concubina fixa. As duas eram jovens e particularmente bonitas, e poderiam, portanto, atrair olhares indesejáveis. Toledo, aliás, já tivera problemas, quando encontrou um soldado bêbado tentando agarrar uma de suas índias. Como me dissera Ortiz, a maior parte dos homens era composta por jovens aventureiros sem nada na cabeça e, ainda mais, sem limites, além de tênues princípios morais que os dominicanos tentavam lhes inculcar. Não pode roubar, não pode matar, não pode estuprar. Quem, entretanto, tomava isso a sério numa guerra como aquela?

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Precauções

Preocupados com a segurança de nossas companheiras procuramos, portanto, ficar afastados da soldadesca. Assim, conseguimos uma casa numa encosta mais afastada. De longe, quem, subia aquelas escadarias já podia avista-las. Quando era possível, nos revezávamos. Ou seja, um de nós ficava atento e também guardava a casa. Além das moças, tínhamos igualmente na casa nosso ouro, pedras e outros bens. Mas as escondíamos em um baraco no chão da cozinha.

Nossas companheiras índias

Como Nitaya e Ñusta eram diferentes das mulheres espanholas casadouras! Para começar, eram muito jovens. Tinham jeito de meninas e comportamento discreto. Gostavam, por exemplo, de tecer e fiar, que era a função delas como Virgens do Sol. Assim, faziam mantas maravilhosas quando lhes conseguíamos material.
Quando não lhes dirigíamos a palavra permaneciam em silêncio ou só falavam entre elas baixinho. Sobre o que conversariam aquelas duas?

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A surpresa

Apesar de caladas, notei que Nitaya andava ainda mais silenciosa do que de costume. Comentei, assim, o fato com Ortiz.
Ela anda estranha. Não sei dizer exatamente o que sucede, mas me parece diferente.
Meu amigo observou as duas:
Ñusta também. Anda de cabeça baixa, tenho a impressão de que evita me encarar.
Dessa forma, resolvemos chamá-las e fazê-las sentar à mesa que construímos, depois de estarmos cansados de comer no chão. As duas sentaram-se caladas. Ortiz as fitou:
O que está acontecendo?
Nenhuma das duas respondeu. Logo comecei a me incomodar com aquilo.
– Falem! O que estão escondendo? Houve alguma coisa? Outro espanhol bêbado tentou entrar nesta casa? Tiveram problemas quando estivemos fora? Negaram com a cabeça.
Bom… O que foi, então? – perguntei.
Foi Nitaya quem respondeu.

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Pais dee pequenos mestiços

Esperamos bebê.
O silêncio logo tomou conta da casa. Eu conseguia ouvir até o crepitar do fogo. Olhei para Ortiz, que estava assim como eu, boca aberta. Depois cada um olhou para sua índia e novamente nos entreolhamos.
Essa agora. Pela Virgem! – fiz eu.
Ortiz respirou fundo:
Na verdade, não estou nada surpreso. Até demorou para engravidarem…
Fiquei um momento em silêncio. Eu havia escolhido Nitaya como a minha companheira. Fizera mais, jurara que não a abandonaria. Não era como a mucama do Panamá com quem meu primo e eu nos divertíamos. Cocei a cabeça, virei-me para Ortiz.
Vamos ser pais – disse ele.

E agora?

Fiquei um bom tempo sem saber o que pensar. O que faria com um filho? Ceertamente o reconheceria como meu e o faria batizar, como fizeram alguns soldados? Por que não? Que outra solução, aliás, eu teria? Afinal, os religiosos, exigiam que toda nova criança fosse batizada na fé cristã. Ortiz concordou. Iria também reconhecer a criança e leva-la para ser batizada.Ou seja, isso nos evitaria problemas com os religiosos, sempre atraz de novos cristãos para enriquecer seu rebanho.

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Poupar Nitaya

Definitivamente eu não iria arriscar a vida de Nitaya, como fiz com a indiazinha no Panamá. O que estava acontecendo mudava muita coisa nas nossas relações com as duas moças: eu gostava de Nitaya e Ortiz igualmente parecia estar feliz com Ñusta.
À noite, com a cabeça cheia de pensamentos desencontrados, não possuí Nitaya, mas deitei-me em silêncio junto a ela. Passado um tempo sua mão delicada procurou a minha.

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Senti que seu olhar estava fixo em mim e movi-me para deixar seus traços serem dessa forma iluminados pela tênue claridade do fogo ao qual eu adicionara uns gravetos minutos antes. Abracei-a pensativo e ela se aconchegou em meu peito. Deu para notar que seus seios estavam maiores e inchados. Acariciei seu ventre: já crescera ligeiramente. Eu ia ser pai de um indiozinho. Da mesma forma que Achachíc nossas companheiras nativas já entendiam e falavam cada vez o espanhol.

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Siga a continuação desta postagem: A conquista consolidada

Como um analfabeto no comando de menos de duzentos homens, com pouca ou nenhuma experiência militar, conseguiu dominar um império de doze milhões de pessoas ?

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