Livro: A Vaca na Estrada

037 De Paris a Katmandu de carro – “A Vaca na Estrada” – Hinduismo, sadhus e budismo

Hinduismo, sadhus e budismo: o festival de Durga Puja, a Sangrenta

Todos comentavam entre os estrangeiros que um mega festival iria acontecer em Katmandu. Fazia parte do hinduísmo. Ou seja, era um festival em honra à divindade Durga Puja. A deusa teria matado o demônio-búfalo Mahisha, simbolizando assim a vitória do bem sobre o mal. Mas, fez correr sangue. Dessa forma, durante o festival as ruas da cidade estavam lavadas de sangue com o sacrifício de búfalos, cabras e galos. Aliás, até as mulheres pintavam o rosto de vermelho em honra à deusa.

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Os devotos do hinduismo, sadhus e budismo, igualmente, tocavam sinos sagrados ao passar pelos templos. Outros fieis, ainda mais, faziam oferendas de arroz e flores e esfregavam uma massa vermelha no centro da testa. As festas nepalesas estendiam-se, assim, normalmente, por vários dias. Um pouco como o Carnaval brasileiro. Dessa forma, o tempo todo deparávamos com procissões. Em todo canto, portanto, havia gente cantando, alguns dançando, cultuando imagens de divindades.

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Reencontrando Ganesh

Quando Bernard e eu reencontramos Ganesh novamente, ele tinha acabado de voltar das montanhas. Trazia consigo uma toalhinha para tomar banho na fonte próxima ao Ratna Park. Nos contou, assim, que fora à sua aldeia levar mantimentos para a família. Tudo aquilo, enfim, nos parecia muito estranho, mas era a vida dele. Ou seja, como viviam os meninos que dormiam nas ruas de Katmandu.

Bife de vaca nem pensar

Ganesh nos explicava, contente, que os animais sacrificados aos deuses eram consumidos: nesse dia, todo mundo comia carne. Era, portanto sua oportunidade.
Everybody — assegurou
Mas não carne de vaca, não é Ganesh?

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O menino arrepiou-se:
Vaca não se come. Ela é nossa mãe.
Ou seja, o búfalo era sacrificado, enquanto a vaca protegida e mesmo alimentada pelos nepaleses. Por essa razão, nós, comedores de carne de vaca, éramos proibidos de entrar em alguns templos hinduístas.

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Búfalo pode

Como o búfalo, entretanto, não era sagrado, à noite, acompanhados de duas amigas francesas, levamos Ganesh a um restaurante para comer um bom filé. De búfalo, porém! Enfi, bom, mas meio duro. Dessa forma, éramos obrigados a mastigar longamente um pedaço difícil de engolir. Pensei que teria sido melhor inverter, tornar o búfalo sagrado e a vaca, profana. Esta era certamente muito mais macia!

Religiosidade e buzinas: hinduismo, sadhus e budismo

Nos primeiros dias, não saímos da cidade. Perambulávamos indolentes, flanando e sentindo o ambiente. Estávamos acostumados com a Índia, por isso Katmandu não nos chocou. A capital nepalesa, com suas ruelas medievais, bicicletas, riquixás, carros, carroças empurradas à mão, vacas sagradas, buzinas, poeira, bagunça e muita gente, era a mesma zona!

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Um templinho em cada esquina: hinduismo, sadhus e budismo

A diferença era o número de templos e pagodes: em Katmandu, em quase toda esquina encontrávamos um pequeno templo, a estátua de uma divindade ou um altar, a maioria mal conservada. A religiosidade estava em toda parte, bem como os vendedores de incensos os mais variados, agradavelmente perfumados, queimados nos santuários.

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Os homens santos, sagradas fotografias

Notei também diversos sadhus ou “homens-santos”, com um cajado na mão. Tinham o corpo recoberto de cinzas, o tridente de Shiva desenhado na testa e os cabelos presos em coque no alto da cabeça. Quando eu tentei fotografá-los, viraram-se de costas, zangados. Num primeiro momento, lamentei minha própria atitude e guardei a máquina fotográfica na bolsa de mão, meio envergonhado.

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Estava fechando a bolsa quando dois deles se aproximaram e nós. Propunham com gestos que tirássemos fotos deles mediante pagamento. Topavam até posar conosco! Bastava pagar five rupees! Já que se tratava, portanto, de comércio, barganhei. Dessa forma, fechando um acordo fotográfico de três rúpias para cada um deles. Era disso que viviam…

Brincando com a foto

Na realidade, sadhus autênticos não se vestem de forma tão extravagante quanto esses dois. Ou eja, são mais discretos e não gostam de serem fotografados. Aqueles dois, como outros que circulam nas áreas frequentadas por estrangeiros de Katmandu, eram o que passamos a chamar de “sadhus turísticos”. Ou seja, esses que aparecem nas capas de revistas de viagem em matérias sobre o Nepal. A bem da verdade, tão produzidos, dão ótimas fotos. Eu mesmo, porém, questiono a autenticidade delas.

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Por brincadeira, mandei uma fotografia minha com dois desses personagens para minha mãe no Brasil, dizendo que eles tinham intenção de ir a São Paulo e que eu pedia que ela os hospedasse.
São gente boa, mamãe. Só gostam de passar a madrugada recitando mantras e tocando tamborzinhos.
Algum tempo mais tarde, eu receberia pela Poste Restante uma resposta dela que, mesmo desconfiada da brincadeira, dizia para eu não fornecer seu endereço a eles. “Vão chamar muito a atenção dos vizinhos, meu filho”.

A presença budista

Um dos mais interessantes templos que visitamos em Katmandu foi a stupa de Bodhnath. Embora menos de 10% da população do país seja composta por budistas, estes são bem representados no Vale de Katmandu. Nepal existem os importantes templos dessa religião, praticada pelos nepaleses de origem tibetana ou refugiados que escaparam do Tibet ocupado pelos chineses.

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A enorme stupa fica no centro de uma praça circular quase toda fechada por construções geminadas. Sua planta baixa corresponde às representações das mandalas do budismo tibetano existentes nas pinturas sagradas chamadas tankas. No centro das mandalas fica o trono da divindade particular de cada devoto, a Ishta-Devatâ. É a simbolização do núcleo divino existencial, ou o Eu eterno de cada um, no budismo tibetano.

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Tankas

Para entender uma tanka, saiba, em primeiro lugar, que aquelas figurinhas em volta da mandala, os Bodhsativas, são futuros Budas. Assim, adiam sua entrada no nirvana e permanecem na Terra para dar exemplo e salvar as pessoas. Interessante, mas impraticável para os epicuristas.
Enfim, aqueles que querem entender mais o budismo tibetano poderiam ler o Livro Tibetano dos Mortos, com prefácio de Jung. O interesse é igualmente filosófico.

Nepal, a pátria de Buda

O Budismo surgiu no Terai, região ao norte da Índia, pertencente hoje ao Nepal. É onde nasceu Buda, no ano 563 a.C., na cidade de Lumbini. Embora hoje, na Índia, seus adeptos constituam uma minoria, o Budismo entretanto, influenciou sábios e filósofos indianos. O próprio Gandh, inclusive, buscou no pensamento budista muitas de suas ideias. Por muito tempo, em especial durante o Império Mauria, o Budismo foi portanto politicamente importante. No século VII, porém, entrou em decadência. Por volta do século XII, quase desapareceu da Índia e começar a ser difundido no Nepal e em outros pontos da Ásia.

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Dissidência do Hinduísmo

Uma dissidência do Hinduísmo, o Budismo não aceita o sistema de castas, mas acredita na reencarnação. Buda não é visto como um deus, mas como um iluminado ou grande mestre. Ou seja, aquele o que atingiu o êxtase supremo, a bem-aventurança, o estado chamado nirvana. Há, na verdade diversas versões do budismo praticado em muitos países do Oriente. O tibetano e nepalês é o “marayana”.

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Religião sem deuses

O budismo é, em suma, uma religião sem deuses. Ou, mais exatamente, não possui deuses e santos como os nossos. E, igualmente, não se reza para Buda, como os cristãos rezam para Jesus. Para os budistas, somos entidades em evolução, por meio de múltiplas e seguidas existências terrenas, até o nirvana. Ou seja, quando não precisaremos mais reencarnar. Ufaaa!

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