O campo no Paquistão
Procuramos avançar o mais rápido possível para passar por Islamad, e tentar atingir Rawalpindi. Ou seja, a segunda maior cidade de alguma importância em nosso caminho. O país, porém era diferente ocorria do desértico Afeganistão. No Paquistão havia gente em toda parte.
Abaixo: Mapa da região entre Islamad e Rawalpindi
Gente demais
Nos campos, nas cidades e nas estradas, havia pessoas e animais. Ainda mais, cruzavam displicentemente a via. Enfim, tínhamos que guiar devagar, ser cuidadosos. Aliás, gente demais nos cansava. Ou seja, preferíamos os desertos, esses grandes espaços vazios do Afeganistão. Amávamos o clima seco, cortado pelo vento. E, o céu, igualmente, sempre muito azul. Até mesmo a comida, no Afeganistão era melhor. Ou seja mais adaptada ao nosso gosto ocidental.
Os banheiros ao ar livre junto da estrada
Dormimos num hoteleco em uma aldeia maiorzinha e partimos bastante cedo, no dia seguinte. Do carro observávamos, na névoa da manhã, pessoas de cócoras, homens, mulheres, crianças, junto da estrada, às vezes bem próximas umas das outras. Algumas até batiam papo sem nenhum pudor, ao mesmo tempo em que faziam suas necessidades. Depois levantavam-se e iam trabalhar na agricultura.
Os paquistaneses
Nas aldeias pobres por onde passávamos, quase não havia onde comer. Ou, mais exatamente, as opções eram poucas. Quando encontrávamos um boteco miserável, serviam apenas frituras apimentadas. Como bebida suco de manga. Bonzinhos, deiga-se de passagme. Mas o tempo todo, apenas suco de manga? Igualmente, como no interior da Turquia, éramos cercados por multidões. Era curiosos. Quando parávamos cercavam o automóvel. Isso nos irritava, um pouco.
Como? Não têm filhos?
O paquistanês é curioso. Essa mesma curiosidade fatigante iríamos encontrar igualmente na Índia. Não só se aglomeravam ao redor do carro. Também nos faziam mil vezes as mesmas perguntas. Em suma, de onde vínhamos, nossas nacionalidades, o que achávamos do país. Queriam igualmente saber se estávamos gostando dali, se tínhamos esposas. Ah sim, indagavam igualmente se tínhamos filhos… Afinal, procriar é obsessão no Paquistão e na Índia. Reproduzem-se como coelhos.
As dificuldades para se guiar no Paquistão
Por mais estranha que soe hoje essa frase, a paz à qual estávamos habituados no Afeganistão acabara. As multidões nos atordoavam.
Não havia muito onde parar para dormir. Dessa forma, fomos obrigados, a dirigir à noite. Ou seja, tentando alcançar Rawalpindi. A estrada, porém, era, como no Afeganistão, perigosa. Não podia correr.
Guiando à esquerda em carro francês
Ainda mais, tivemos no Paquistão que dirigir do lado esquerdo da estrada um carro francês. Portanto com o volante igual ao que utilizamos no Brasil, à esquerda. Enfim, éramos dois. Para guiar por lá era preciso ter um “co-piloto”. Não apenas para dirigir. Mas, igualmente, para orientar as ultrapassagens. Em suma, quem estivesse no volante não enxergava nada do que vinha pela frente.
Muitos caminhões, ultrapassagens arriscadas
Aliás, nas estradas estreitas e repletas de pesados caminhões, o motorista não enxergava nada. Em suma, quem não dirigia passava as coordenadas ao amigo: “Vai que dá!”, “Depressa!”, “Espera!” Quem conduzia era, portanto, obrigado a realizar ultrapassagens cegas. Ou seja, tendo que confiar no companheiro: uma tensão constante. Aliás, detestávamos guiar á esquerda.
A pequena rivalidade franco-britânica…
Lembro-me dos comentários azedos de meu amigo. Como certos franceses, metiam o pau nos ingleses. Discursava sobre a mão inglesa nos países colonizados pelos britânicos:
— Os ingleses poderiam muito bem não ter trazido seus costumes bizarros para cá! Afinal, na maior parte do mundo guia-se como na Europa continental, que diabo! Mas o que se pode esperar de um povo que toma cerveja morna e vinho tinto gelado?
— Não exagere, não é bem assim — disse eu, rindo. Parece aquele número da série — “Asterix en Bretagne!” (Bretanha, no caso era a Inglaterra de então). Éramos, aliás, ambos fãs da série Asterix. Certas sutilezas, porém, eram sutis. Em suma só percebidas por franceses ou por quem já morou um bom tempo na França. O lado bom é que conseguiamos manter um bom humor. Já viajei com americanos, uma inglesa, alemães e gente de outros países. Consegui me dar bem com todo mundo. Devo, entretanto ter um lado muito latino. Na maioria da vezes meus companheiros de viagem eram franceses, argentinos, italianos e espanhóis, além de brasileiros.
Os perigos da estrada
As cidades que atravessávamos não tinham, entretanto, interesse particular. O melhor nos aguardava mais à frente. Rodávamos por longos trechos, atrás de caminhões, lentamente e sem chances de ultrapassá-los. Para ver melhor, quando eu não guiava, debruçava-me na janela do automóvel. Corria, portanto, o risco de dar uma cabeçada em um búfalo que invadiam a via..
Que estrada!
Afinal, esses animais perambulavam soltos perto da estrada. Não apenas búfalos, mas igualmente camelos, cabras, e também pessoas. Afinal, famílias inteiras, andavam em grupo bem no meio do caminho, despreocupadas como se estivessem em um parque. Guiávamos, portanto, sem nunca saber o que encontraríamos depois de uma curva: um camelo? Um rebanho de cabras? Que estrada!!!
Rawalpindi
Rawalpindi, a antiga capital do Paquistão, fica perto de Islamabad, a atual. Quando estive por lá, o lugar era calmo e agradável. Podia-se, portanto, passear por suas ruas e mercados sem preocupação. Grandinha, a cidade tinha população de 2 milhões de habitantes. Era localizada em uma região repleta de bases militares. Em suma, tornou-se alvo frequente de extremistas talibãs
O assassinato de Benazir Bhuto
Nota de atualização do autor: foi em Rawalpindi, no final de 2007, que um atentado tirou a vida da ex-primeira ministra Benazir Bhuto. Mesmo sabendo dos riscos que corria, ela não quis, porém, cancelar o comício do qual participaria. Em 2009, radicais islâmicos atacaram igualmente uma mesquita frequentada por militares, próxima a um quartel, e metralharam as pessoas que rezavam.
Corvos ladrões
Hospedamo-nos em um hotel, uma construção colonial inglesa. O era estilo interessante, mas tinha certo ar decadente. Felizmente o quarto e o banheiro eram relativamente limpos. De nossa janela avistávamos um bando de corvos acomodados em uma árvore em frente. Essas aves nos olhavam curiosas, lançando em nossa direção gritos agudos. Aquele som ressoava em nossos ouvidos: crouc! crouc!
A chave do Renault
Estavam em todos os lugares por onde passamos. Assim, marcavam nosso caminho com seus gritos agourentos. Os corvos, além de tudo, eram ladrões. às vezes, entravam nos quartos para roubar objetos brilhantes. Não me perguntem porque! Só para ilustrar, um deles por pouco não levou a chave do Renault. Como fazia calor, havíamos deixado a janela aberta.
Nu espantando corvos
Eu estava saindo do banho quando vi um deles dentro do quarto sobre a mesa. Olhava de perto, fixamente, para o chaveiro do carro, que brilhava ao sol. Arranquei a toalha da cintura e, com ela, investi completamente nu sobre o bicho. O meliante fugiu. Mas, foi um susto! Onde fazer nova chave de um Renault ? Ainda mais em uma cidade paquistanesa em que esses carros praticamente não existiam?
Rohtas Fort
Em Rawalpindi, aproveitamos para visitar o Rohtas Fort. Tratava-se de uma antiga e imponente fortaleza, parcialmente em ruína. Muito antiga, fora, construída pelo rei afegão Sher Shah Suri. A visita vale a pena para entender a arquitetura militar da época. Enfim, o Rohtas forte é a principal atração de Rawalpindi. Mas, a cidade não era propriamente turística. O melhor nos aguardava mais à frente. Queríamos chegar, portanto logo à Índia.
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Sigam esta aventura de carro pelas estradas da Ásia. Atravesse o Oriente mágico e exótico que encantou milhares de jovens europeus. Uma experiência vivida pelo autor do livro “A Vaca na Estrada” por países como Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão, Índia, Nepal
Veja a continuação desta postagem: Lahore