Samed Island
Fomos para Koh (ilha) Samed afim de passar somente uns dez dias, algo assim. Sabíamos que iríamos encarar um clima quente, igual a Bangkok. A diferença, porém, é que nas ilhas havia sempre uma brisa e podíamos ir a praia. Trouxemos, portanto, o mínimo de coisas. Eu mesmo trouxe apenas duas bermudas e uns 3 sungas que serviriam para ir a praia e igualmente usar sob uma bermuda. Além disso, trouxe apenas duas camisas estampadas levíssimas, típicas e duas camisetas, além de um chinelo (nem sapato eu trouxe!). Ketty, igualmente, trouxe pouquíssima roupa numa sacolinha de praia. Em Bangkok, fechados em nosso quarto, ficávamos de sunga. Somente no final da tarde refrescava e saíamos para fazer mercado. Portanto, quase não sujávamos roupas. Ou seja uma camiseta ou maiô lavávamos na pia do banheiro nós mesmos.
Turismo em quarentena climática
Na ilha, tínhamos certeza, seria o mesmo. Acertamos. Dentro de casa no máximo vestíamos um maiô. Para sair no final da tarde ou fazer compras tínhamos bermudas. Nem mesmo jeans nós trouxemos. Aliás, muitas vezes, eu ia ás compras sem camisa, fazendo como muitos tailandeses que igualmente não aguentavam o calor. Ou seja, não tínhamos quarentena por causa da pandemia, Estávamos, entretanto submetidos a uma “quarentena climática”. Tínhamos, para fugir do calor extremo, que sair de casa após as cinco ou, ao começarem as monções, sair logo depois das fortes chuvas que se abatiam sobre Samed, quando as temperaturas eram mais agradáveis.
Ko Samed em plena festa
Quando chegamos a Koh Samed a ilha estava uma festa. Havia até mesmo fogos de artifício na praia.! As mesinhas dos bares e restaurantes de frente para o mar estavam lotadas. Ou seja, ninguém se ligava ainda na pandemia que se espalha pelo mundo inteiro.
Koh Samed, uma das pérolas do turismo tailandês, lembra muito as ilhas do sul onde estivemos, no arquipélago em torno de Phuket. Águas igualmente muito verdes, transparentes, areias brancas. Algumas com ondas, outras tranquilas como uma piscina. O centro de Koh Samed, ou melhor, seu principal povoado é cortado por uma longa artéria que vem do caís. É onde se concentram lojas e restaurantes.
E o mundo começa a mudar
Em uma semana tudo mudou. Ou seja, cada vez mais chegavam notícias preocupantes. As fronteiras se fechavam no mundo todo, vôos foram sucessivamente cancelados. Ligávamos a TV em tailandês e pandemia era a única palavra que entendíamos.
As publicações, jornais, revistas, eram, aliás, quase todas em alfabeto thai. Não conseguíamos ler uma só palavra.
Pouca informação, muitas incertezas
Nossas fontes de Informações eram a Internet ou o FACE. De repente nas redes sociais só se falava de pandemia, crise etc. E, as notícias relativas á economia e a política, eram as piores possíveis.
Cada país, além de fechar suas fronteiras, começava a decretar lockdown e igualmente evitar contato entre as diferentes regiões. Com isso a ilha se fechou ao turismo e anunciou que iria proibir a entrada de novos visitantes. Assim, com medo de ficarem retidos em Koh Samed, quase todos os estrangeiros foram saindo apressadamente para tentar embarcar em um dos últimos aviões que deixavam Bangkok. Só tensão no ar.
Voos cancelados
Nós, porém, não pudemos partir nessa revoada porque a Ibéria não aceitou mudar a data de nosso voo de Paris para São Paulo porque nosso bilhete era promocional. O pior é que esse mesmo voo foi novamente cancelado depois, quando o lockdown foi se agravando. Com dificuldade conseguimos outra data bem mais para frente. Havíamos portanto nos resignado a esperar. Estávamos sempre esperando! Igualmente não sabíamos como ficaria a situação dos vistos, mais para frente. Assim também, tínhamos dúvidas sobre passagens, e estávamos preocupados o custo cada vez mais elevado da viagem, que ia se tornando interminável, e com o dólar, que não parava de subir.
Vistos são extendidos
Tínhamos ainda um bom tempo de visto pois conseguimos 3 meses quando voltamos do Cambodia. Depois, com as fronteiras fechadas, a Tailândia estendeu automaticamente o visto de todo turista por mais 3 meses. Um alívio, afinal.
No Guest House, onde ficamos inicialmente, tínhamos uma cafeteira elétrica e geladeira apenas. Nem mesmo um micro-ondas. Usávamos a cafeteira não apenas para fazer café, mas igualmente para cozinhar batatas para preparar maionese ou puré, quando queríamos mudar um pouco nosso cardápio thai, sempre igual. Haja criatividade!
Morando em Koh Samed
Ficamos um tempo ali, porém, depois, quando víamos que a ilha não abriria ao turismo antes de 3 meses, resolvemos alugar uma casa, num lugar vizinho. Era muito mais confortável, bem maior e tinha micro-ondas e cozinha equipada e, ainda mais, tinha preços mais em conta.
Quase tudo, entretanto, já estava ás moscas. Os turistas tinham caído fora. Assim, quando propus a Loh, o proprietário, pagar um mês adiantado se nos fizesse um desconto, conseguimos um apartamento equipado por menos de 500 dólares. Em suma, tivemos que assimilar a ideia de morar um tempo na ilha e esperar, talvez durante meses, o desenrolar dos acontecimentos.
Lar, doce lar
Agora finalmente, tínhamos uma casa de verdade, com cozinha, varanda e uma segunda cama de casal na sala de entrada que Loh previra para o caso do lugar ser alugado para dois casais. Nessa sala ficava igualmente a mesa onde comíamos, com espaço para trabalhar no computador.
Esse cômodo era separado da varanda por uma grande porta de correr com vidros fumée. Durante o dia, na sala, víamos quem passava na rua, mas ninguém lá fora podia nos ver. Á noite uma grande cortina cobria totalmente a porta envidraçada.
Os curiosos menus da ilha
Na ilha comiamos geralmente bem, tanto comida thai, como pratos que preparávamos. Mesmo nosso café da manhã incluía novidades, como ovos de pata. Ficamos curiosos ao ver tantos ovos de pata na ilha onde nunca vimos uma só dessas aves. Assim, usávamos a cafeteira para fazer hal boilled egs. Um ovo semi-cozido com gema mole. Depois dávamos uma bela lavada na cafeteira.
Uma culinária muito diferente
Na ilha, havia, além de duas lojas da rede de conveniência Seven Eleven, fraquinhas, mas que quebravam um galhão, apenas umas poucas mercearias e quitandas abertas. Dessa forma, experimentávamos verduras e legumes muito diferentes dos nossos. Alguns resultados foram ótimos, outros desastrosos… Havia muita frutas que nunca vimos antes. Experimentávamos de tudo. Algumas frutas eram ótimas, outras muito estranhas. Quando íamos á noite em um restaurante comíamos o pad thai, o prato mais típico tailandês, com macarrão de arroz. Ou o tradicional fried rice, consumido em boa parte da Ásia. Muitas vezes comprávamos comida pronta e trazíamos para nosso apartamento. O único macarrão que encontrávamos era de arroz.
Little spicy
A gastronomia thai é boa. O problema é o excesso de pimenta. Mesmo quando diziam que o prato era apenas, a little spicy, era sempre bastante apimentado. Na verdade, em cada lugar que passamos nessa viagem encarávamos uma gastronomia diferente. No litoral eram comuns pratos de frutos do mar com arroz ou macarrão. Em outros lugares comprávamos um saco plástico de arroz já cozido, sem tempero, que comíamos com espetinhos de frango ou carne de porco moída e temperada, com a qual preparávamos uma mistura. Surpreendentemente era pouco gordurosa, saborosa e dava ótimos molhos.
Cozinha criativa
Tendo cozinha em casa e podíamos preparar nossos pratos. Tínhamos que nos adaptar a produtos e a uma culinária completamente diversa da nossa, inventar pratos. Legumes que nunca vimos, frutas exóticas, em geral saborosas. Achávamos facilmente camarões e lula com preços super em conta e com frequência preparávamos um fried rice de frutos do mar. Vimos que muitos pratos deles levavam frutas como abaxaxí, por exemplo. Resolvemos experimentar. Ficou ótimo.
Estávamos, entretanto doidos por um feijão e a arroz. Um dia achamos feijão ao molho de tomate. Compramos uma lata. Era doce… Tivemos que lavar todo feijão e refoga-lo no sal com alho. Só tínhamos umas duas ou três quitandas na ilha, dois restaurantes e duas lojas da rede de conveniência japonesa Seven Eleven.
Programa de final de tarde: ir á praia
Logo nos familiarizamos com a ilha, indo quase diariamente á praia no final do dia quando as temperaturas se tornavam mais amenas. Incrível, até a águas são mornas, por lá! A praia, porém, antes lotada, ficou vazia. Sobraram poucos estrangeiros por lá. O programa diário, portanto, era ir á praia, onde igualmente fazíamos vídeos para nosso canal Youtube “Sonhos de Viagem“.
Nós, um casal russo, dois amigos ingleses, um italiano, um casal francês. Acabamos conversando mais com nosso vizinho escocês de 65 anos, que tinha uma banda de música em sua cidade… Agora atravessávamos rua principal do vilarejo quase ás moscas. Vendo tudo fechado fiquei pensando na situação daquele povo, numa ilha que vivia do turismo.
Nossos amigos de 4 patinhas
Entre nossos amigos estava igualmente uma galera de cães e, principalmente gatos, nossos vizinhos, com quem sempre interagíamos. Alguns ficaram nossos amiguinhos, como as gatas Simone, da quitanda, e com Anita, nossa vizinha. Dos cachorros o mais frequente por ali era o Vadio, nome que atribuímos ao animal do Loh, o proprietário do studio, que alugamos. Vadio, sem nenhum pudor invadia nosso apartamento sempre que não fechamos completamente a porta envidraçada.
Vadiagens
Um dia peguei Vadio revirando nosso lixo na cozinha e toquei-o. Saiu correndo, atravessou o corredor pulando em cima da cama da sala, onde Ketty estava lendo. Ela levou um susto. Deu um grito, o cachorro saiu na disparada em direção ‘a rua. Já mencionei que toda a frente do studio é uma porta corrediça de vidro transparente. Acho que o animal não reconheceu o vidro e investiu sobre a portas, que davam para a rua. A enorme porte envidraçada soltou-se dos trilhos e caiu sobre a mesa da varanda. Sorte não ter se espatifado. Loh teve que nos ajudar a coloca-la a portas no lugar.
Chegam as monções
Desde que chegamos na Tailândia, não choveu nenhum dia. Há meses que não caia uma gota d´água do céu, mas numa tarde as nuvens pesadas que vinham se juntando num céu baixo desabaram-se sobre a ilha. Eram as tão esperadas chuvas de monções, essencial á agricultura asiática. A partir dali choveria quase sempre todo dia. Chovia geralmente durante umas duas horas á tarde, mas mais frequentemente a noite. Um espetáculo enfeitado por raios, uma verdadeira fúria da natureza.
Uma ilha sem pandemia
Igualmente nos chamou a atenção o fato de, não havendo nenhum só caso na ilha, só podíamos entrar num comércio se estivéssemos de máscaras. Ou seja, no Seven Eleven, na entrada, tiravam nossa temperatura e tínhamos ainda mais que passar álcool gel nas mãos. Claro que se houve tanta mortes no Brasil foi primeiramente em razão de uma política governamental desastrosa na área da saúde. Porém, a verdade é que além da irresponsabilidade governamental, o brasileiro é igualmente irresponsável. Na Tailândia, com população de 70 milhões de habitantes – um terço da brasileira – morreram apenas 57 pessoas em toda a pandemia. No Brasil perto de 200 mil pessoas.
Fiquem por aí!
Por isso mesmo, todos nossos amigos no Brasil diziam para não voltar porque a situação no país estava cada vez mais grave. As mensagens eram sempre: fiquem por aí!”
Ao mesmo tempo depois que os vistos de turismo foram estendidos por mais três meses e o aeroporto permanecia semi-fechado, não tínhamos outra alternativa exceto esperar. Afinal, não podíamos, tão cedo, fazer planos para nada. Relaxamos, continuamos a ir a praia no final do dia e o resto do tempo líamos ou dormíamos. Não tínhamos TV a cabo e nos canais tailandeses não estendíamos nada.
Passendo pela ilha
Quando nos mudamos para a casa que havíamos alugado, nosso vizinho inglês do guest house igualmente mudou-se.
Como ele estava de moto, preferiu uma praia mais distante, linda, como pudemos ver quando o visitamos uma vez. Outras praias que frequentámos, eram as perto do cais onde desembarcavam nos turistas em tempos normais. Ali, aliás o mar era tranquilo como uma piscina. Fizemos bons vídeos de turismo em todas elas.
Para chegar a ela pegávamos a pequena estrada que atravessava o povoado agora deserto, e caminhámos uns vinte minutos. Afinal, dessa forma, eu poderia dar uma parada para atradar a gatinha Simone e seguíamos nosso caminho.
A casa dos Espíritos
Cada casa ali, como em todo lugar na Tailândia, havia igualmente uma casa dos espíritos, uma miniatura sobre uma plataforma. Assim, ali colocavam água e algumas guloseimas oferecidas aos espíritos. Porém, ao que parece, nenhum desses espíritos dava bola para as oferendas, que eram dessa forma consumida por pássaros e igualmente por felinos mais espertos que aprendeu o caminho da mina.
Presos numa ilha paradisíaca
Enfim, em todo nosso exílio pela Ásia os tempos passados na ilha foram os mais tranquilos. Afinal, por que sair de uma ilha linda sem casos de contágio, estando bem instalados, sem quarentena, podendo trabalhar em nosso note-book nas horas mais quentes do dia? Aliás, as mensagens que recebíamos dos amigos no Brasil era para aguentarmos mais um tempo na Tailândia. “Não voltem agora!” Ou seja o pior estava para vir. Muitos países dificultavam igualmente, entrada de brasileiros, ou haviam fechado suas fronteiras. O turismo no mundo estava paralisado.
Melhor na ilha do que em São Paulo
Tínhamos portanto que ter paciência. Logo, preferíamos, ficar na ilha. Melhor do que em São Paulo.
Aliás, caso quiséssemos sair, não seria mais possível, uma vez que não havia mais ferries de passageiros pra o continente. Em suma, estávamos prisioneiros nessa ilha paradisíaca. Íamos á praia quase todo dia. Uma vez, fomos á noite, em plena lua cheia dar um mergulho naquelas água tépidas.
Ou seja, pensando nos amigos encerrados em apartamentos, todo mundo assustados com o risco de contaminação, reconhecíamos que, afinal, tivemos sorte.
Foi na ilha, que a revista Época Negócios, nos localizou e acabou nos entrevistando.
Tentando estender nossa permanência em Koh Samed
Com o sucesso na contenção da epidemia na Tailândia, a ilha acabou finalmente se abrindo ao turismo. Pensávamos assim, em ficar mais um tempo em Koh Samed, já que a maioria dos voos de Bangkok continuavam cancelados.
Havíamos finalmente confirmado nossa passagem de Paris para São Paulo para o começo de outubro. Não era necessário portanto seguir imediatamente para Bangkok. Ou seja, tentamos prolongar nossa permanência na ilha porque tínhamos quase três meses ainda pela frente.
De volta a Bangkok
Tentemos antes de mais nada alugar nosso local por mais quinze dia. Loh o proprietário, porém desta vez quis subir o preço da locação, contando com a retomada do turismo. Não aceitamos. Como resultado, nos conformamos, dessa forma em seguir para Bangkok onde talvez houvesse mais opções para voltar para casa.
Assim, voltamos para o mesmo hotel onde tínhamos estado em Bangkok, o Khaosan Road no bairro dos mochileiros. O bom filho á casa torna…